Retrospectiva Multiplicidade 2011: Zach Lieberman + Daito Manabe

Texto presente no livro-catálogo do Multiplicidade 2011, a ser lançado no dia 13 de Setembro de 2012.

Imagem

Zachary Lieberman, americano, e Daito Manabe, japonês, escalados para abrir a temporada do Festival Multiplicidade 2011, são dois dos mais importantes artistas de arte eletrônica do mundo, mas também podemos dizer que são pesquisadores digitais ou hackers, como se autodenominam. Eles pensam em robótica, instalações interativas, códigos e programação computacional compulsivamente. Acumulando premiações por diversos festivais internacionais, os dois trabalham com dispositivos interativos que visam expandir os limites do corpo humano.

Verdadeiros nômades da era digital, viajam e produzem em qualquer espaço-tempo, sempre conectados. Ambos fazem parte de coletivos de desenvolvimento de softwares e tecnologias que trabalham de forma colaborativa, em que projetos são executados a distância, compartilhando conhecimentos com mentes espalhadas por todo o planeta. Esses grupos trabalham em laboratórios digitais, os MEDIA_LAB, onde mesclam artistas digitais com vasto conhecimento em programação junto a engenheiros, físicos, matemáticos, músicos, biólogos, bailarinos, designers, todos assumidamente “nerds” e que complementam descobertas livremente entre si.

Zach também é professor da Parsons School em Nova York e defende em suas criações o “DIWO” (do it with others), faça com os outros, em contraponto à famosa expressão “DIY” (do it yourself), faça você mesmo.

Imagem

Um de seus mais expressivos feitos compartilhados é o “Eyewriter”, óculos desenvolvidos com outros cinco artistas utilizando o Open Frame Works (softwares livres com códigos-fonte abertos), em que a pupila ocular é mapeada e pode controlar um programa computacional sem contato físico algum com mouses, teclados e telas. Dentre inúmeros prêmios, Eyewriter foi considerado uma das 50 melhores invenções de 2010 pela revista Time.

Dividida em três atos, essa apresentação conjunta e inédita no Multiplicidade desses dois artistas mostrou a interseção de tecnologia e ilusionismo, recheada com efeitos lúdicos e experiências corporais.

Primeiro, Zach apresentou sua obra “drawn”, normalmente exposta em museus e galerias, no formato de performance, em que os desenhos saem do papel e se transformam num videogame. Através de imagens desenhadas com nanquim em folhas brancas, o artista manipulava com os dedos seus traços num ambiente virtual, através de sensores e um software interativo com técnicas de realidade aumentada. A cada movimento, os desenhos eram transformados em novas formas a partir de suas intervenções. Criou-se uma intrigante regência sonora, num jogo ambíguo entre o real e o virtual.

No segundo ato, Daito Manabe trouxe para o teatro sua aclamada performance “electric Stimulus”. Sucesso nas redes sociais, semanas antes havia se apresentado na 18a edição do festival catalão Sónar, Daito, em dupla com um voluntário, utilizou 16 elétrodos que geraram choques de 8 volts no rosto de cada um, de acordo com a música ao vivo manipulada, através de softwares e de um “wiimote” (controle do videogame Nintendo Wii), transcorrendo do minimal ao jungle de acordo com a vontade do artista.

Finalizando a performance, foi apresentado pela primeira vez no mundo o experimento “Face Projection”, tecnologia desenvolvida pela dupla em que a projeção milimétrica do rosto de Daito reagia de forma orgânica aos mais diversos movimentos faciais. Localizados à sua frente, uma pequena câmera e um pequeno projetor em registro captavam as reações do artista, desde o piscar dos olhos até uma leve contração muscular, transformando seu rosto numa tela mapeada, como uma verdadeira máscara digital pixelada.

Terminando a noite, o DJ e produtor musical Nado Leal tocou junto com a DJ Mary Zander no coquetel de abertura da sétima temporada do Festival Multiplicidade no espaço cultural Oi Futuro Flamengo.