Quem é Ryoichi Kurokawa

Ryoichi Kurokawa é um artista audiovisual japonês residente em Berlim, cujos trabalhos audiovisuais se desdobram em instalações e performances. O artista captura paisagens naturais que ele mesmo interfere de forma tecnológica através de softwares específicos para abstração de sentidos.

Também responsável pela composição dos temas minimalistas, Ryoichi se inspira e tem como seu campo investigativo a natureza em imagens como cachoeiras ou em paisagens urbanas, como prédios. Seu trabalho, como ele mesmo frisa, se dá pela hibridização de capturas analógicas junto à essas interferências e tratamentos digitais.

Por isso, Ryoichi define suas peças (como  Rheo, que será apresentado no Multiplicidade dia 27 de Setembro) como esculturas que utilizam algo que nenhuma outra forma de arte pode: o tempo.

Segundo o artista, toda e qualquer peça criada por ele possui uma história e uma narrativa pela qual ele tem a pretensão de demonstrar alguma idéia ou abstração ao público através de apenas suporte imagético e sonoro. Como ele próprio diz, “O idioma de áudio-visual pode ser visto como um verdadeiro vernáculo contemporâneo global.”

Seus filmes parecem como se estivéssemos em um sonho acordado onde, de repente, ocorre o congelamento de imagens e desfoques ópticos.

Uma cachoeira se forma simultaneamente nas três telas, rios fluem no meio de penhascos em claro-escuro, em um universo abstrato de rizomas gráficos e pixels evanescentes, desenvolvendo uma narrativa cinematográfica inquieta criada pelo artista. Acompanhando essas improváveis ligações visuais entre a natureza e modernidade, uma música eletrônica como mínimo granular aumentando a espacialidade através de um sistema de som 5.1.

Ryochi apresentará no Multiplicidade o Rheo, sua obra vencedora de diversos prêmios internacionais, como o Golden Nica do Ars Electronica na categoria Digital Musics & Sound Art.

Multiplicidade 2012 – Ryoichi Kurokawa – RHEO

Dia 27 de Setembro de 2012

Oi Futuro Flamengo

Impressões da Abertura 8ª Temporada

Rabotnik – Apresentação no pátio do Oi Futuro

Vamos Estar Fazendo – Pedro Sá/Guitarra, Contrabaixo Eletromagnético e Domênico Lancelloti/Bateria, Berimbau Elétrico

Paulo Nenflidio – criação dos instrumentos Baixo Eletromagnético, Berimbau Elétrico e do Vírus

Festa de Encerramento com DJ set de Maurício Valladares

No dia 13 de Setembro, o Oi Futuro Flamengo abriu as portas de todo o centro cultural para a chegada da oitava edição do Festival Multiplicidade, trazendo o encontro inusitado da improvisação experimental com instrumentos analógicos e digitais únicos no mundo e com uma cartela de artistas convidados especialmente para o dia.

A proposta dessa noite especial de abertura era ocupar todo o centro cultural com uma séria de atividades conectadas, inciando com uma atração musical no pátio com o grupo, três apresentações no audiovisuais no teatro e um DJ set com lançamento do livro.

O tema dessa edição era o trabalho do artista plástico Paulo Nenflídio, que realiza uma pesquisa musical com interferências musicais radiofônicas e instrumentos analógicos modificados, junto com o trabalho da dupla Vamos Estar Fazendo, formada pelos músicos Pedro Sá e Domenico Lancelloti.

Abrindo a noite, os músicos do Rabotnik abriram o Festival na área externa do Oi Futuro Flamengo. Ainda sob uma fina garoa, a banda conseguiu ecoar algumas de suas composições no pátio, sendo interrompidos pelo apertar da chuva. Rapidamente ficou decidido pelos próprios músicos que a apresentação seguiria para dentro do centro cultural para evitar que se danificasse os equipamentos eletrônicos, evitando assim seu cancelamento.

Três obras de Paulo Nenflidio estavam presentes para uso do Vamos Estar Fazendo e seus improvisos, ora guiadas pelas guitarras de Pedro Sá, ora pelas percussão da bateria de domênico Domênico. No centro do palco estava a obra Vírus, que captava radiofrequências e movimentos do público e dos músicos e reagia com sonoridades rasgadas.

Consistindo em torno de 45 minutos, cada sessão foi dividida em dois atos.

No primeiro ato, os músicos improvisavam em cima de temas elaborados pelos dois. Pedro utilizava um pedal que pré-gravava suas bases, dando a impressão do teatro estar com mais de um guitarrista, e continuava tocando e compondo em cima dessa pequena “parede sonora”, o que parecia uma verdadeira escultura sonora modulada por diversos efeitos de pedais e uso da guitarra até como instrumento semi-percursivo.

Pedro usava sua guitarra não só de forma harmônica, mas  brincava com trocas de captadores e leves pancadas no instrumento para criar novos sons, enquanto que sua comunicação não-verbal com Domênico gerava uma espécie de regência para onde a apresentação iria.

No segundo ato, os músicos deixaram seus equipamentos soando sob as bases pré-gravadas na guitarra. Domenico, então, foi para o Berimbau Eletronico enquanto Pedro assumiu o Contrabaixo Eletromagnético. Este último, captava freqüência de uma rádio FM e era distorcido conforme o guitarrista soava como um baixo normal

Maurício Valladares, pesquisador musical e radialista, começou sua apresentação no térreo e, de forma totalmente orgânica e sem qualquer ensaio, tocou enquanto o Rabotnik, recém-movido para o interior do prédio, o acompanhava improvisando em cima das batidas e grooves selecionados por ele. A banda seguiu para terminar sua apresentação com mais 40 minutos de suas músicas e improvisos, cedendo novamente o palco ao DJ.

Mais de 300 pessoas estiveram no Oi Futuro Flamengo assistindo o Vamos Estar Fazendo e, em seguida, prestigiando o lançamento do livro-catálogo em uma festa que se estendeu até meia noite no Centro Cultural.

Com oito anos de Multiplicidade, a tarefa de inovar e apresentar novos projetos e horizontes artísticos se torna cada vez mais um desafio. Mas, com o viés de sempre trazer novidades, o projeto acaba se reformulando e encontra forças motrizes novas para se reinventar. E foi isso que aconteceu nessa noite: um verdadeiro passeio pela improvisação e pela criatividade de artistas que se propõe a sair de suas zonas de conforto.