Abrindo a caixa da Manifestação Pacífica

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Instalação Manifestação Pacífica – Festival Multiplicidade 2025 – Oi Futuro Flamengo – Rio de Janeiro – Brasil

 Instruções de segurança:

Cuidado! Risco de choque político ao assistir

Contém:

1 frase de Simone Weil

1 imagem, em loop, de Fernando Collor, citando Simone Weil.

Santinhos de Michael Temer, Alexandre de Moraes, Aécio Neves, Ronaldo Caiado, Ricardo Barros, Gilmar Mendes,Benjamin Steinbruch e Mendonssa, perdão, Mendonça Filho.

1 palanque vazio

1 faixa presidencial sem uso

1 contrato de trabalho não assinado

1 figurante imprevisível

2 caixas de som, reproduzindo votos de “sim”, “não” e algumas abstenções

1 painel com o corpo de um presidente para inserir o rosto

1 imagem, em loop,de uma figura masculina pixelada com traje presidencial

1 provocação

1 subversão

1 reflexão (não incluída)

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MANIFESTAÇÃO PACÍFICA from Festival Multiplicidade on Vimeo.

 

 

Entre o silêncio e o barulho, os ecos de uma memorável noite de estreia do Multiplicidade 2017

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Por Carlos Albuquerque

Quatro minutos e trinta e três segundos. Foi o tempo em que o Oi Futuro Flamengo pareceu suspenso no ar, como uma cena perdida de “Além da imaginação”, durante a estréia do Multiplicidade, na noite de sábado passado. Fora uma moça de óculos que resmungava de sua pipoca sem sal, todos os presentes ao debate sobre barulho e John Cage (1912-1992)- conduzido pelo curador Batman Zavareze e pela editora Isabel Diegues – se mantiveram, respeitosamente, em silêncio. Alguns giraram o pescoço, outros olharam o relógio, mas nenhum outro suspiro foi ouvido. No centro, de pé no hall do prédio, quase imóvel, segurando uma flauta longe da boca, o convidado Marcelo Brissac interpretava a anti-música de Cage – compositor norte-americano de vanguarda – como pedia o seu criador: em silêncio.

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Acompanhada apenas pelos sons vindos da Rua Dois de Dezembro, onde na véspera tinha acontecido um ruidoso protesto contra a censura,“4’33” foi a trilha-sonora perfeita para a abertura de um evento instigado por tempos de muita gritaria e de ruídos propositais na comunicação. Estudioso da obra de Cage, um desafiador das convenções musicais, Brissac  contextualizou o   trabalho do artista, driblou boas provocações da platéia (“Se os músicos ficarem em silêncio, eles não vão ficar desempregados?”, perguntou alguém) e lembrou, com precisão, de uma de suas frases emblemáticas (“Quando ouvimos Beethoven e Mozart, vemos que eles sempre parecem os mesmos, mas quando ouvimos o som do trafego, ele sempre vai ser diferente” ).

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De fato, o tráfego que aconteceu no local em seguida foi especialmente diferente.  A movimentação dos integrantes da Quasi-orquestra – formada por integrantes de instituições como Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal, Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica da UFRJ e Orquestra Sinfônica Nacional – se misturou com o barulho do público, que chegava para lotar o local. Posicionados e regidos pelo maestro Rafael Barros de Castro, os músicos iniciaram a apresentação com outra obra provocadora: “A despedida”, sinfonia do compositor austríaco Joseph Hadyn.

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Composta em 1772 como um protesto de Hadyn e de outros músicos contra as péssimas condições de trabalho oferecidas pelo príncipe húngaro Nikolaus Esterhazy , a atualíssima peça teve seu caráter performático – ao longo de sua duração, os músicos costumam se retirar em silencioso protesto – radicalmente atualizado no Multiplicidade Em vez de se ausentarem, os integrantes da Quasi-orquestra – que igualmente sofrem com maus empregadores  – se espalharam pelos oito andares do prédio. Em duplas ou sozinhos, foram ocupando marcações previamente escolhidas – entre os degraus, ao lado dos elevadores, no meio do café, em frente a uma obra – para uma avançada e arriscada desconstrução  da “Sinfonia nº 40”, de Mozart.

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Plugado em cada um dos músicos, que usavam pontos eletrônicos, o maestro regeu a obra no térreo, enquanto o som ia sendo executado,  verticalmente, pelo ambiente. As inúmeras possibilidades de apreciação dessa experiência – testadas pelo público em romarias para cima e para baixo – culminavam com uma instalação no teatro, no último andar,  No local, sem a presença de qualquer músico, doze caixas espalhadas registravam os sons produzidos em cada marcação, gerando um surround de presenças e ausências, numa  curiosa provocação sensorial: o todo sendo ouvido, apesar das barreiras.

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Depois, o tráfego sonoro foi o da volta dos músicos ao posicionamento original, no térreo. Novamente acústicos e desplugados, eles executaram a sempre assombrosa “Carmina burana”, muitos ali repetindo a célebre apresentação do mesmo tema nos “Concertos pela Democracia”, no OcupaMinc, no Palácio Capanema, no Centro do Rio, em 2016, quando a audiência colaborou com um arrepiante coro de “Fora Temer”.

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No Multiplicidade, o coro se repetiu , para êxtase geral, com o maestro virado para a plateia, quase como uma estrela do rock, regendo, emocionado, os pulmões em fúria.  Foi o catártico barulho final de uma noite iniciada, sugestivamente, com quatro minutos de silêncio.

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A repressão e a arte nos extremos elásticos do barulho

Obra de Gabriela Mureb

Obra de Gabriela Mureb

Texto: Carlos Albuquerque

Iara tem cinco meses de idade.  Diariamente, por volta de 5h30m, ela acorda e fica “falando” sozinha no berço. Ainda incapaz de formular palavras, treina o volume e o alcance da sua pequena voz em uma série de estranhos e divertidos ruídos, que podem ser apreciados do quarto ao lado.  Sua performance dura cerca de meia hora, até que se cansa da brincadeira e começa a elevar o tom. Na fase final dos seus concertos matinais, grita a plenos pulmões(zinhos), buscando despertar os pais . Quando um dos dois se aproxima do berço, ela sorri um sorriso sem dentes enquanto é erguida, vitoriosa, rumo à primeira mamada do dia. Iara já sabe – ou só sabe – como é importante fazer barulho. Em breve, vai descobrir como conviver com ele, como se proteger dele e, talvez, como perceber os inúmeros sinais dentro dele.

Como por exemplo…

Durante os inflamados protestos que sacudiram a cidade de Ferguson, nos EUA, em 2014 por causa da morte de um adolescente negro, desarmado, por um militar branco, a polícia apresentou suas armas. Além do usual arsenal de “contenção” – escudos transparentes, cassetetes, capacetes reluzentes, bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha etc -, as autoridades usaram contra os manifestantes um canhão sonoro, também conhecido como LRAD (de Long Range Acoustic Device). No formato de uma caixa de som, o aparelho é capaz de emitir ruídos de até 160 decibéis – o limite humano é de 120 decibéis -, num alcance de oito quilômetros de distância, causando desorientações, náuseas, vômitos e perda parcial da audição em quem estiver no seu caminho.

Esse barulho de repressão em massa já foi tema de diversas publicações, entre elas o livro “Sonic warfare: sound, affec t and the ecology of fear”, escrito pelo filósofo, músico, produtor e DJ escocês Steve Goodman. Editado pelo renomado MIT (Massachusetts Institute of Technology), o livro mostra como armas sônicas têm sido usadas ao longo do tempo, seja como ferramenta para afastar pássaros de pistas de aeroportos ou como defesa contra  ataques de piratas a navios comerciais. Goodman menciona também a tortura de prisioneiros com heavy metal em alto volume, feita pelo exército norte-americano durante a invasão do Iraque nos anos 2000. Mas a utilização do LRAD nas ruas, com a determinação de manter tudo em seu lugar, tem causado controvérsia – a tecnologia desse aparelho ainda é cercada de segredos – e gerado uma intensa discussão sobre sua legalidade.

Ironicamente, Goodman, cujo nome artístico é Kode 9, também usa  o barulho, em particular o poder das freqüências graves, não para afastar as pessoas e sim para aproximá-las na pista de dança e fora dela. Além de DJ, Kode 9 é dono da aclamada gravadora independente Hyperdub, casa de artistas avançados como Lee Gamble, Ikonika, Burial, Laurel Halo e Zomby. Um dos nomes mais interessantes do cast da Hyperdub é a produtora e artista visual Fatima Al Qadiri. Nascida no Senegal, criada no Kuwait e radicada nos EUA, ela lançou, ano passado, o provocativo álbum “Brute”, no qual gélidos sintetizadores e profundas linhas de baixo convivem com samples de sirenes, helicópteros, gritos de multidão, diálogos entre policiais (uma das faixas tem o nome de “10-34”, código militar para tumulto) e, novamente ele, o canhão LRAD (reproduzido na impactante faixa de abertura, “Endzone”).  Inspirado pelos protestos de Ferguson, Baltimore e Nova York, “Brute” consegue um feito inusitado: fazer música de protesto de forma totalmente instrumental.

Servindo tanto à repressão como à arte, o LRAD simboliza bem os extremos elásticos do barulho, que pode nos ensurdecer e paralisar, assim como pode nos inspirar e movimentar. Impreciso e ambíguo, intrusivo e indesejado, purificador e libertador, o barulho não tem uma face única. Há o barulho de guitarras, o barulho de bombas, o barulho da celebração, o barulho da repressão, o barulho das panelas e o barulho quase imperceptível dos cliques. A lista é estrondosamente longa. Em 2017, ela parece se estender, perigosamente, por zonas obscuras, de muito ruído e pouca escuta, de gritos por censura às artes e berros, coléricos, contra tudo o que é diferente do “normal”.

instalação de Lenora de Barros

EXPERIENZA LIVECINEMA #3, de Lenora de Barros e Raul Morão

Mais uma vez, a música serve de contraponto a tudo isso. Modulando lições ancestrais que vêm de Luigi Russolo, Edgar Varèse, John Cage, Stockhausen  Jimi Hendrix e Sonic Youth, entre outros, o barulho segue desmontando o quadrado do pop. Lá está ele, cimentando as novas obras de artistas como Mogwai, Bemônio, Lê Almeida, Narcosatanicos, Antwood, Ben Frost,  etc. Seu manto da invisibilidade, porém, parece ter os dias contados, graças aos avanços da tecnologia. Com a ajuda de ferramentas de mapping e de realidade aumentada, o artista Zach Liberman construiu um aplicativo com o qual consegue “visualizar” os barulhos que estão no ar.  Com o celular nas mãos, ele mira nos ruídos que produz aleatoriamente – Shh! Eee! Ohm! Click! Poin! – e enxerga todos eles  transformados em formas diversas.

O projeto de Liberman ainda é experimental, mas abre as portas da imaginação de um novo mundo.  Como seria se víssemos a distorção saindo da guitarra de Hendrix em Monterrey, 1967? Que rastros o LARD deixaria no ar antes de atingir nossos tímpanos? Que formas assustadoras teriam os grunhidos de milícias fascistas contra mostras de arte provocadoras? Que desenho teria a batucada de uma escola de samba? Qual sinal de fumaça sairia das caixas de um sound system jamaicano?

E, por fim, será que eu poderia soprar as bolhas de barulho saídas da boquinha banguela de Iara todas as manhãs?

 

Estreia da série Multiplicidade no Canal Brasil

O Festival Multiplicidade chegou à sua 12ª edição com uma surpresa daquelas: a estreia da série Multiplicidade no Canal Brasil. Claro que essa conquista merecia uma comemoração!

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No último dia 07 de setembro, um feriado ensolarado de 2025, a galera se reuniu para um Picnic cheio de atrações no Quiosque Zeronove, Aterro do Flamengo.

A chuva até ameaçou, mas não deu nem sinal durante o dia. O Satta começou sua performance sonora às 11h, e quem passava pelo Aterro foi se aproximando pra ouvir uma musiquinha e aproveitar as esteiras espalhadas pelo chão – estrategicamente posicionadas debaixo das sombras dos coqueiros. Ao mesmo tempo, a Regina Café comandava uma Oficina de Percussão em que todo mundo podia participar. Era só chegar, prestar atenção nas dicas e tocar junto com o pessoal.

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Às 13h, o Negalê – parceiro de longa data do Multi – fez um número espetacular com o violinista William Doyle. Enquanto isso, o artista Franklin Cassaro exibia os seus Atos Escultóricos, uma série com objetos infláveis que parecem estar vivos! A interação com a criançada deixou tudo mais divertido.

Mais tarde o Marcelinho da Lua assumiu o som enquanto a Camila Rocha conduzia a Oficina de Bambolês. Uma galera se arriscou com a Camila, mas as crianças dominaram a cena de novo! Tudo era motivo de diversão e gargalhadas. O Dj da Lua passou o bastão para o SIRI que prendeu a atenção do público com os seus instrumentos e sons inusitados.

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Em seguida, os primeiros batuques do grupo Os Ritmistas atraiu a galera para a parte de trás do Quiosque Zeronove. A batida africana conquistou todo mundo de cara e garantiu muitos aplausos aos rapazes no fim da apresentação. Os Ritmistas ainda tocavam quando a galera da Fanfarra Black Clube entrou com o seu batuque. As duas bandas se encontraram e o Multiplicidade virou um grande Carnaval em pleno Aterro do Flamengo! A festa já estava armada e os músicos convidaram a galera para um cortejo pelas ruas do Flamengo até o Oi Futuro.

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Ao mesmo tempo, o Oi Futuro Flamengo já abria as portas para receber a estreia do Multiplicidade no Canal Brasil. O Calbuque fez as honras da casa cuidando do som até a galera chegar. O alemão Heikki Eiden, o americano Chief Boima (da Kondi Band) e o brasileiro Caio Fazolin também fizeram suas performances na área externa do Oi Futuro.

Enfim chegou a hora! Uma projeção na parede da área externa mostrava que Multiplicidade no Canal Brasil ia começar! A séria conta com dez episódios, mas somente três foram exibidos em primeira mão para os presentes. Os convidados e amigos partilharam essa alegria com a gente e comemoraram junto! Depois, todos foram convidados para um debate sobre o tema “MULTIPLICIDADE, além de uma Série de TV” com Ronaldo Lemos, Belisário Franca, Marcello Dantas e Bia Lessa com mediação de Bebeto Abrantes.

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Pra fechar esse dia super especial, tivemos as performances do francês Chassol e do Marcelo Yuka em parceria com Daniela Dacorso e Apolo Nove no teatro do Oi Futuro Flamengo. Lembrando que a Exposição Errar continua disponível no mesmo local até o dia 11 de setembro.

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ACERTO_ Hermeto Pascoal e Pablo Ribeiro

Assim é Hermeto: uma folha de papel, branca, sempre pronta para acertos não premeditados.
É água que brota da terra sem parar, por gostar de brotar.
Hermeto respira a música que inspira a imagem.
ACERTO traz esse movimento espontâneo evocado através de som e projeção.
Com a reconstrução audiovisual de Pablo Ribeiro, são descobertas novas possibilidades musicais dentro da expressão inicial e livre.
É Hermeto em plena simbiose com ele mesmo e com o universo.

“Então toquem e cantem minha gente, amem-se e se abracem até o dia amanhecer.”

Acerto, 2016, instalação audiovisual de Hermeto Pascoal e Pablo Ribeiro.
Expo_Errar
Festival Multiplicidade 2025
www.multiplicidade.com

É oficial: voltamos para o [Oi] Futuro de 2025

O Festival Multiplicidade, em sua 12ª edição, pré-estreou no Teatro Oi Futuro Flamengo dia 18 de julho, uma segunda-feira de 2025. A casa lotou, em clima de reencontro. Nas instalações e performances, a expressão da eterna curiosidade diante da luz, do som, da tecnologia e suas possibilidades combinatórias. E já que o errar era permitido, o imprevisto é bem-vindo como caminho para se recriar e inovar.

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A obra do artista francês Joanie Lemercier era uma das que compunham a Exposição_ERRAR. Ao misturar o traçado de canetinhas pilot com mapping e projeção, provocou nos visitantes a ilusão de ótica, a sensação de volume, profundidade e pertencimento, convidando-os a imergir em uma de suas experiências pessoais mais inusitadas: quando o vulcão EYJAFJALLAJÖKULL entrou em erupção. Juliette Bibasse, assumida “produtora digital” de Juanie, foi quem viabilizou os detalhes para que a ideia tomasse forma. Ela trabalha praticamente como uma co-autora, seguindo um modelo de negócio mais colaborativo, quem sabe uma tendência para o futuro.

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Quando chegaram ao Rio, dia 16 de julho, ambos compartilharam seus processos criativos no bate-papo que rolou na biblioteca da Maison de France, em plena Avenida Presidente Antônio Carlos, coração de uma cidade pré-olímpica. O conforto do espaço, preenchido por Design, deixou a tarde ainda mais propícia para uma troca de informações em tom intimista. Entre os temas discutidos, está a necessidade de autossuficiência do artista digital e a então capacidade de potencializar recursos e viabilizar mais projetos. Eles também falaram do quanto as projeções estarão mais presentes no dia a dia das pessoas daqui para frente. Como diz Joanie, “chamar atenção em ambientes públicos será cada vez mais desafiador”.

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E falando em algo desafiador, a arte de Matheus Leston fez tremer um dos espaços do Oi Futuro naquela segunda-feira. Em sua performance MENOS, trabalhou em cima do erro, traduzindo códigos sonoros em luz colorida. Enquanto isso, em outro ambiente, a penumbra, o silêncio e a névoa de Tomás Ribas proporcionavam, combinadas com precisão, um ambiente “fantasmagórico” em sua instalação JARDIM DO JOAQUIM. Ele criou uma parede que podíamos atravessar; uma mistura de sensações, da cautela à felicidade, do medo à paz, da ilusão ao “tem algo errado aqui, deixa eu descobrir”.

E no Teatro, aquela sensação gostosa de deitar de novo nos almofadas vermelhos. Dessa vez, para assistir ao CONCERTO DE LAN HOUSE, cujo maestro é Giuliano Obici. Durante sua performance, a reflexão iminente: como se vive em um mundo onde tudo é tela?

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O trio DEDO fechou a noite de pré-estreia, levando a plateia a se desconectar, meditar, para, quem sabe, transver o mundo.

Que venha o Festival!

FESTIVAL MULTIPLICIDADE_2025_ANO 20

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Desde a temporada passada continuamos no imaginário ano futurístico de 2025.
2016 é mais um ano propício para dar continuidade ao exercício da ANTEVISÃO e reforçar que o futuro é logo ali.
500 anos se passaram e revendo a fantasiosa obra escritapor Thomas More de 1516, UTOPIA, perguntamos onde estamos diante de tantos embates?

Se você esta compreendendo o que está acontecendo, não seria um absurdo dizer que você está confuso.

“Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial (4x)”***

Tem sido desafiador pensar, propor, produzir e realizar conteúdos artísticos em tempos tão áridos.Mesmo imerso em momento de antiutopia temos que acreditar na potência das experiências artísticas totais nos trópicos.

Nunca foi tão importante ressignificar nossos acertos a partir de nossos erros, e a arte pode ser esta fonte rejuvenescedora.

É importante estar em movimento constante.
O momento político-cultural não permite inércia alguma, sobretudo mental.

A nova regra é olhar com afeto para a exceção, a intuição, o improviso e o aleatório. A arte só existe entre nós quando ela transcende a realidade para se expressar e atingir outras dimensões.

Com o patrocínio da Oi através da Lei Rouanet e da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, este ano estamos participando do calendário Cultural Olímpico com um formato novo, uma exposição.
Estaremos ocupando plenamente o Oi Futuro Flamengo, nossa casa, ou melhor, nosso ventre, durante 2 meses. Apresentaremos nossas inquietações poéticas, investigações tecnológicas e as linguagens híbridas que perseguimos sob a temática do ERRO. Os artistas que partem de uma dificuldade, de situações inesperadas, que encaram o risco e o limite extreme para investigarem alternativas são nossos alvos.
De 18 de julho a 11 de setembro de 2025 (leia-se 2016) estaremos no Oi Futuro Flamengo com uma programação repleta de autor reflexões, numa grande itinerância do ERRO através do pensamento, do som, da imagem, do inusitado e da (re)invenção do futuro.

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A inspiração que parte do ERRO vem das lembranças da performance inacabada de Naná Vasconcelos, (falecido em 2016) quando ele superou nossas expectativas ao buscar uma solução poético-criativa para uma situação de eminente colapso. Naná viveu no palco do Festival Multiplicidade em 2009, o maior apagão elétrico que o Brasil já sofreu, ironicamente durante a apresentação do seu espetáculo Blind Date, “encontro as cegas”, jamais foi interrompido pelo músico-mago,mesmo no blecaute. Naná usou seus instrumentos tribais percussivos– chocalhos, tambores, berimbaus, voz e pés – para continuar a performance e transportar o public para uma outra dimensão. Estes momentos inesperados ressignificam e ampliam nossas compreensões sobre os poderes da arte de TRANSVER O MUNDO.

Reveja aqui, NanáVasconcelos iluminado

Ao destacar o ERRO não temos a intenção de valorizá-lo, tampouco criar esteriótipos sobre as “gambiarras” que atendem as nossas urgências.

A opção pelo ERRO como temática, encontra sua ressonância mais direta, na frase do “Manifesto Modernista/ POESIA PAU-BRASIL”, de Oswald de Andrade: “A CONTRIBUIÇÃO MILIONÁRIA DE TODOS OS ERROS“.

É simples e claro: já que a única condição do jogo atual é ser o vencedor, a ideia é trazer para o primeiro plano as nossas falhas e fracassos para revermos tudo que já foi feito. A partir do caos e da imperfeição temos a chance de estabelecer novos olhares, numa relação mais humanizada e coletiva. Não estamos em busca das histórias de sucesso, nem a espetacularização das artes, tampouco a glamourização do artista. Ao contrário, queremos olhar para os desvios, lacunas, silêncios, ruídos e revezes e contratempos das nossas ações, normalmente não reveladas.

“Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial (Várias vezes)” ***

Estamos diante do percurso imperfeito, do imprevisível e do desconhecido.
ERRAR é perseverar, rever e refazer.

Em momentos de necessária reinvenção é fundamental seguir a simplicidade como a grande arte da complexidade.
Hoje, menos é mais.

Batman Zavareze
Curador do Festival Multiplicidade_2025_Ano 20

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*** Extrato da música “Fora da Ordem”_Caetano Veloso_1992 (mais atual do que nunca)

+ infos:
www.youtube.com/multiplicidade
www.facebook.com/multiplicidade
www.twitter.com/multiplicidade_
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www.multiplicidade.com/blog/
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Manifesto: bit.ly/Multi2025_Ano20

Múltiplos

Não se faz um acontecimento cultural artístico potente sem uma rede de pessoas unidas com um objetivo comum. Ao longo de 11 anos o Festival Multiplicidade investe na formação técnica, ética e estética continuada de pessoas com habilidades, capacidades, conhecimentos e praticas diferentes que têm muito a contribuir para profissionalizar uma cena. Investir e extrair o melhor das pessoas envolvidas passa pelo mais profundo compromisso do festival.

A entrega para o edital é um evento, mas para nós é um experiência coletiva transformadora. A vida muitas vezes é dura, bruta e feia mas uma plataforma que promove arte, a nova arte híbrida embebedada de recursos tecnológicos ao vivo, tem a oportunidade única de formar um novo profissional num mercado viciado e contaminado por lógicas cruéis de sobrevivência. Não existe arte total sem humanizar o processo, não existem ações individuais bacanas que não enxerguem o problema do outro. A intenção ao trabalhar arduamente durante um ano é, sempre que estiver ao nosso alcance, escutar e lutar para fazer o melhor possível. Não existe impossível até quebrarmos a cara com nossas persistências. Para formar profissionais capacitados para desafios ambiciosos tem que ser duro, sem perder a ternura, mas a dinâmica da construção deste circo exige uma série de decisões que fogem a planilha, tomam riscos, são indisciplinadas, transversais e através de nossas vidas sem perguntar “porquês”.

Um festival se faz na primeira pessoa do plural com inúmeras contribuições erráticas, mas sem nunca esquecer das avalanches de carinho distribuídas a todos envolvidos, equipe e artistas, pois o impacto reverberado seria vão, insignificante, frustrante e efêmero sem distribuições em doses cavalares deste sentimento. Nosso maior legado não é a pujança da entrega do acontecimento mas a rede de afetos que se fortalece a cada edição. Os que estão e os que passaram deixaram sua marca na nossa história com muita transpiração e paixão, por isso sou eternamente convicto da força invisível da educação, do “learning by doing” sem medo de fracassar, dá continuidade e da insistência, pois nossas contribuições são inegáveis para tornar a cena artístico-cultural forte e permanente.

Mirian Peruch, Patricia Bárbara, Nado Leal, Raquel Bruno, Mariana Duque, Eduardo Bonito,Brenno Erick, Beline Cidral, Joca Vidal, Bebeto Abrantes, Glauber Vianna,Leo Eyer, Billy Bacon, Alex Augusto, Joao Oliveira, Luiza Viglio, Gui,Rodrigo Moura, Alexandre Paranaguá, Jean, Baldi, Alessandro Boschini, Léo DL, Eduardo Magalhães, Diana Sandes, Gabi Carrera, Francisco Costa, Maria Cristina Rio Branco, Marina Ivo, Daniela Del Corona, Renata Carneiro, Rodolfo Alves Carioca, Júlia Malafaia , Susana Lacevitz ,Jane Deluc Paola Barreto, Fabio Fantauzzi e inúmeros outros profissionais que se jogam em nossa rampa de voo exalando prazer nos seus poros. Sempre muito orgulhoso deste carinho que vai, volta e fica. Parabéns!!!!

MB

Ass: Batman Zavareze – Diretor e Curador do Festival Multiplicidade

Futuros possíveis

Texto publicado por Ivana Bentes, logo após sua participação no Painel Memórias Futuras @ Festival Multiplicidade 2025:

“Futuros possíveis. Parque Lage é um lugar mágico e neste sábado chuvoso e nublado estava ainda mais misterioso e vibrante lotado de pessoas inquietas. Participei do Painel Memórias Futuras uma roda incrivel de antevisões dos futuros a convite da Paola Barreto e do Bat Zavareze. O futuro é uma ideia “antiga” e quase sempre é datado, pois nunca estaremos nele, porque é sempre uma construção do presente urgente. Com essa provocação sobre futuros possiveis a roda de conversa passou por temas e experiências surpreendentes. O que há de futuros em curso no presente? Como hoje o ancestrofuturismo e as cosmovisões indigenas e ancentralidades são inspiradoras de futuros. Como a América Latina continua como um lab de mundos. As “vitalidades catastróficas” (termo do Fausto Fawcett) nos ajudam a pensar os futuros, as possibilidades de ressureição, os instantes e presentes eternos, as temporalidades inventadas pelos povos para fugir da ditadura do presente e as ideias e projeções de futuros usados para nos imobilizar (em nome do futuro se tem hoje discursos conservadores, de preservação do status quo). Outros futuros mais provocadores como os da ficções especulativas de Donna Haraway e os exterminadores de futuros que moldam e reduzem as cidades a seu fim mercadológico, privatizando, monitorando, expulsando os pobres e os cosmopolitanos das ruas e do espaço público. A conversa teve performance, leitura, falas inspiradoras e bem que merecia um registro para os futuros. Neste domingo é o último dia do ‪#‎FestivalMultiplicidade e da exposição ‘Quarta-Feira de Cinzas”, curadoria da Luisa Duarte no lindo Parque Lage.”

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Multi_Ocupação | O futuro é hoje

Como seria o mundo, mais precisamente a arte, se estivéssemos em 2025? A pergunta norteou o último dia do festival, encerrado no Parque Lage, domingo (8), e a reposta dos artistas e do público foi em uníssono: o futuro é hoje!

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A tarde começou com a apresentação da paulista Giu Nunez, no bosque do Parque Lage. Sob uma instalação em meio à natureza, o público pode desconectar-se do mundo exterior. “Esse misto de linguagens, graças à tecnologia, veio contribuir para a arte. Mas é bom também se desligar um pouco dessas inúmeras informações que circulam ao mesmo tempo e focar em um só caminho”, sugeriu Giu. Em seguida, o DJ Pedro Pagy assumiu as carrapetas e continuou o trabalho já iniciado pela discotecária. Com o ‘Triboelétrica’, ele apresentou aos visitantes um set que misturou tempo e vazio, abismos e brilhos, sufocamento, luz e sombras.

No Salão Nobre do casarão, o ‘EstúdioFitaCrepe’, representado pelo artista Ricardo Garcia, apresentou seu trabalho que envolve música instrumental, eletroacústica, noise, soundscape e instalação sonora. Em Eletro_Radiobras, Ricardo, que faz dupla com André Thitcho, mostrou o projeto de música eletrônica. “O futuro da arte é viver o presente. A tecnologia veio para ajudar, mas o importante é o que acontece agora”, disse André. Em seguida, o músico autodidata Felipe Vilasanchez mostrou ‘Oriente’. No painel ‘Cinema Transversal’, a ‘Alumbramento Filmes’ exibiu ‘Medo do Escuro’. O salão ficou lotado!

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O artista multifacetado Gui Marmota repetiu sua performance e reuniu, nas escadarias do casarão, não só adultos, mas também crianças. Como no dia anterior, elas foram a grande atração do domingo. Munido do seu latão de lixo-bateria cheio de canos, Marmota reproduziu alguns sons curiosos e arrancou passinhos e sorrisos dos pequenos.

Já no Platô, o francês Aleqs Notal abriu a noite com o seu set de housemusic, que leva influências de gêneros como disco, funk, jazz e o soul. Logo após, a ‘Meia Banda’ assumiu o palco. O grupo é um projeto do baixista, guitarrista e compositor Bruno Di Lullo junto com os músicos Estevão Casé e Eduardo Manso. O grand finale ficou a cargo da ‘Camerata Monoaural’.

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Em sua 11ª edição, rumo a 2025, o Multiplicidade não perde o fôlego; pulsa, sugere encontros inusitados, proporciona lugar para novas ideias fluírem; é um marco na programação cultural da cidade. A intenção, segundo Batman Zavareze, idealizador do festival, foi “provocar a antevisão na vida da arte e na arte da vida”.