Retrospectiva Multiplicidade 2011: Projeto Cavalo

Texto presente no livro-catálogo Multiplicidade 2011, a ser lançado no dia 13 de Setembro de 2012 no Oi Futuro Flamengo.

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O Projeto Cavalo foi criado em 2010 a partir da iniciativa dos artistas plásticos Cadu, Eduardo Berliner, Paulo Vivacqua e Felipe Norkus através do programa de estímulo à produção colaborativa patrocinado pelo British Council. Com o objetivo de se desenvolver em diversas linguagens artísticas, o coletivo então passou a buscar outras formas de expressão para o que viria a ser a apresentação no Multiplicidade um ano depois das primeiras conversas com os artistas.

Com a adição de Rodrigo Miravalles, Audrin Santiago, O DIVINO, Tonho e Bleque, os membros do grupo passaram a desenvolver suas expertises individuais dentro de um todo, o que resultou em esculturas, desenhos, pinturas, fotografias, vídeos, registros sonoros e textuais apresentados em exposições e mostras. Esse envolvimento coletivo deu ao projeto um amplo campo investigativo e um risco iminente do que se tornaria a performance final que abriu a Semana Especial do Festival Multiplicidade 2011.

Utilizando-se da figura do animal por seu simbolismo envolvendo poder, força e dominação, o grupo iniciou uma pesquisa que remete desde a lenda do Cavalo de Troia até os tempos atuais, abrindo com um filme criado especialmente para a apresentação, gravado no Jockey Club do Rio de Janeiro e no ateliê de trabalho do coletivo. Essa projeção, feita numa tela translúcida, era acompanhada de uma poesia contemplativa.

ImagemImerso em um ambiente sombrio, o público experimentava uma análise subjetiva sobre a vida do animal, desde seu nascimento ao sacrifício, em cenas fortes interpretadas pelos nove membros do coletivo, que se revezavam em diferentes funções. Ao final, esses instrumentos eram reunidos no centro do palco, formando uma estrutura de madeira como um verdadeiro e imponente cavalo. Pinturas e figurinos, criados respectivamente por Eduardo Berliner e as estilistas da Muggia, completavam o conceito de forma visceral.

A Semana Especial do Festival Multiplicidade 2011 aconteceu do dia 24 de novembro ao dia 1° de dezembro, com um formato jamais experimentado pelo evento, reunindo uma série de atividades diariamente. Foram performances, debates, exposições, instalações e sessões de filmes montados em diferentes espaços da cidade, como centros culturais e espaços públicos, abrigando uma diversidade de linguagens artísticas para um público ampliado. O Projeto Cavalo abriu a sequência das atividades com sua performance no teatro do Oi Futuro Flamengo e, três dias depois, numa praça pública no bairro da Tijuca.

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Retrospectiva Multiplicidade 2011: Embolex – “Caixa-Prego”

Texto presente no livro-catálogo Multiplicidade 2011, a ser lançado no dia 13 de Setembro de 2012 no Oi Futuro Flamengo.

ImagemO Embolex é um coletivo audiovisual de São Paulo cujas performances se utilizam de processos colaborativos para recriar sons e imagens, manipulados digitalmente, com objetivo de expressar o que se denomina como cultura do remix e do sampling. Utilizando instrumentos acústicos, elétricos e digitais, e a palavra declamada, o grupo data sua fundação em 2001, sendo hoje formado por Fernão Ciampa, Pedro Angeli, Cristian Bueno, Sylvio Ekman e Erico Theobaldo.

Com a democratização do acesso a fonogramas através da internet, diversos DJs e produtores musicais passaram a explorar novos modos de produção e experimentação que, dentre tantos estilos, popularizaram a cultura do “mashup”. Essa linguagem de cortar-colar, notada já em gravações de Frank Zappa nos anos 70, caracteriza-se por dois ou mais elementos de músicas justapostos harmonicamente para recriação de uma nova canção. Essa cultura do remix para gerar um trabalho inédito é alvo de diversos debates, principalmente no que tange aos direitos autorais dos criadores, como mostra o documentário “Rip It! A Remix Manifesto”, uma cibercondição de existência

criativa para muitos.

Liderado pelo VJ Fernão Ciampa, o grupo realiza uma colagem com imagens de fotos, cartões-postais e vídeos de viagens coletadas entre amigos e anônimos, criando um verdadeiro mosaico que mistura diversos pontos do planeta, junto a uma trilha composta em camadas, no chamado globalguettotech.

A mixtape homônima, lançada em 2010, misturava músicas desde Martinho da Vila a The Rapture, ou de Paul McCartney a Caetano Veloso, entre tantos outros artistas, o que lhes rendeu reconhecimento de jornalistas especializados e serviu de base para a apresentação. Somente depois da existência do áudio criou-se um mashup cinematográfico, resultado final do espetáculo “Caixa- Prego”. Com isso, Ray Conniff orquestrava uma música do Michael Jackson, Paulinho da Viola cantava com Elis Regina e Vinicius de Moraes em canções diferentes, como um libertário exercício audiovisual.

ImagemAlém dos cinco integrantes do Embolex, “Caixa-Prego” contou com as participações especiais do MC Rodrigo Brandão (Mamelo SoundSystem, Ekundayo) e do baixista Dengue (Nação Zumbi), trazendo uma cadência musical mais pontuada.

O grupo apresentou uma viagem por diversos estilos musicais, tendo como base ritmos periféricos, como dub, reggae, reggaeton, cumbia, entre outros. Rodrigo, rapper e pesquisador de black music brasileira, costurava suas rimas improvisadas por dentro das melodias.

Uma projeção maior envolvia os sete integrantes do coletivo e, com uma segunda projeção mapeada, a mesa e os computadores portáteis recebiam uma pontual interferência videográfica, criando um novo volume como anteparo. As edições de imagens, assim como os DJs utilizam na música, passavam por “scratchs” sincronizados com o som.

Retrospectiva Multiplicidade 2011: Lise + L_ar – “Reações Visuais”

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Texto presente no livro-catálogo do Multiplicidade 2011, a ser lançado no dia 13 de Setembro de 2012 no Oi Futuro Flamengo.

Lise + L_ar é uma dupla de artistas audiovisuais de Belo Horizonte formada pelo arquiteto e artista visual Leandro Araújo e pelo músico Daniel Nunes. Leandro teve trabalhos premiados na categoria Arte Digital (Prêmio Bravo! 2010) e na categoria Arte Cibernética (Rumos — Itaú Cultural). Daniel Nunes tem um trabalho musical bem autoral, misturando uma base instrumental com uma onda transcendental para criação de seus timbres sonoros. Seus projetos musicais, Constantina (sua banda com outros sete integrantes) e Lise foram indicados em 2011 como um dos cem melhores discos do Brasil, pela revista on-line Rock in Press.

ImagemO foco conceitual dos dois é realizar performances a partir de áudio captados em diversos locais públicos, manipulados digitalmente junto a projeções sincronizadas que reagem a essas amplitudes sonoras.

Reações Visuais tem como base o conceito de paisagens sonoras e foi desenvolvido pelo compositor e acadêmico canadense Raymond Murray Schafer, que define que sons ou suas combinações transcrevem a ecologia acústica de um local.

Áudios, tanto de fontes naturais (como o vento ou pássaros) como de intervenções humanas (buzinas de carros, falas ou o caminhar das pessoas), formam uma ambientação rica de informação e matéria-prima na composição das peças de Lise + L_ar.

A apresentação teve seu início na rua, onde Lise utilizava o software Skype num smartphone com acesso à internet para capturar e enviar sinais sonoros direto da praça anexa ao centro cultural Oi Futuro até o teatro. Esses sons, barulhos e ruídos interagiam com as projeções dentro do teatro, através de imagens controladas por L_ar, criando um prelúdio da peça audiovisual que estaria por vir.

ImagemA obra, dividida em quatro momentos, apresentou diversas cidades do Brasil pré-mapeadas pela dupla, que receberam um tratamento musical ao vivo composto por uma bateria e um vibrafone, além de programações eletrônicas, com duração de aproximadamente 50 minutos. Nos atos seguintes, os artistas replicaram diversas partes de Belo Horizonte, sua cidade natal, como a Rua Guaicurus, o Parque Municipal e a Praça Sete de Setembro; além do centro da cidade de São Luís, no Maranhão.

Na parte visual, Leandro concebeu como cenário uma projeção principal em um ciclorama simetricamente rebatido num espelho d’água instalado dentro do teatro. As imagens, com um forte apelo tecnológico pela sua estética muitas vezes holográfica, criavam nessa dupla exposição uma imersiva ilusão de profundidades.

Após o espetáculo, aconteceu o lançamento do livro “O Fator VDM”, de Luis Marcelo Mendes, dedicado a profissionais e clientes de diversas áreas que lidam com o ambiente criativo.

Retrospectiva Multiplicidade 2011: Scanner – “Borders, Unto the Edge″

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Texto presente no livro-catálogo do Multiplicidade 2011, a ser lançado no dia 13 de Setembro de 2012 no Oi Futuro Flamengo.

O músico e produtor inglês Robin Rimbaud, conhecido como Scanner, iniciou sua carreira no ano de 1992, com um trabalho que se utiliza de sons, espaço e imagens de modos completamente não convencionais. Essa pesquisa musical começou com linhas cruzadas e conversas de anônimos ao telefone, que posteriormente o levou ao projeto “sons da metrópole moderna”, uma tradução artística das influências auditivas presentes nas cidades. Seu trabalho, referência nos palcos de festivais de música eletrônica, também traz experiências com o cinema, como criaçãode trilhas sonoras ao vivo para filmes de Alain Resnais e Hitchcock.

ImagemScanner é um dos artistas atuais mais respeitados da cena eletrônica, admirado por artistas como Björk, Aphex Twin e Karlheinz Stockhausen. Vencedor de diversos prêmios de arte, música e tecnologia, seu trabalho hoje se encontra no Science Museum London (Sound Curtains), no The Darwin Centre at the Natural History Museum London e no Northern Neuro Disability Services Centre em Newcastle UK (Turning Light), além de colaborações com artistas contemporâneos como Laurie Anderson e Radiohead.

Também professor e artista residente da escola francesa de artes visuais Le Fresnoy, Scanner veio ao Rio de Janeiro para participar de exposição criada no Museu da Maré, em Bonsucesso, periferia da cidade, com uma instalação inédita chamada “Falling Foward”, além de ministrar uma palestra no Oi Futuro Ipanema (tema: Cidade-Dispositivo) e uma performance no Oi Futuro Flamengo. O Le Fresnoy é um centro de experimentação de imagem e som, onde alunos do mundo todo estudam sem professores permanentes, com artistas e teóricos convidados que orientam seus trabalhos, além de produzir junto a eles, durante a residência na escola.

A performance “Borders, Unto the Edge” trouxe o mais recente trabalho do artista, que circulava por combinações harmônicas livremente abertas. Ao som de sinfonias e até sons urbanos, Scanner mixou ritmos eletrônicos com vozes pré-gravadas e outros samplers mais orgânicos, amparado por uma projeção contemplativa em que uma paleta de cores se modificava conforme a alteração das ondas musicais.

Scanner criou uma espécie de hipnose sonora, com bases pré-programadas adicionadas aos efeitos controlados ao vivo. Do palco, o músico criou, manipulou e editou seu som, numa espacialidade imersiva.

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Retrospectiva Multiplicidade 2011: Moleculagem – “Fixos-Fluxos 2”

Texto presente no livro-catálogo do Multiplicidade 2011, a ser lançado no dia 13 de Setembro de 2012.

ImagemColetivo carioca formado em 2005, o Moleculagem explora as possibilidades de unir arte, vídeo, música e tecnologia em projetos audiovisuais, performáticos e multissensoriais, criando instalações ótico-sonoras imersivas com projeções em estruturas volumétricas, manipuladas com ajuda de softwares precisamente mapeados e sincronizados.

Formado pelos VJs Bernardo Varela, Sol Galvão e Alexandre Aranha, além dos músicos Pablo Ribeiro e Pedro Conforti, cada integrante tem trabalhos paralelos em diferentes áreas, como publicidade e cinema. No Moleculagem se desenvolvem projetos de arte eletrônica, unindo música a visualidades interativas. Em 2010 criaram uma complexa instalação, a obra “Fixos-Fluxos”, para a Bienal das Américas, em Denver, reproduzidano Festival Multiplicidade.

ImagemEm “Fixos-Fluxos 2”, o coletivo se propôs ir além, optando por criar uma verdadeira ópera-pixel dividida em oito atos inspirados em teorias do psicólogo e escritor Timothy Leary. Ícone da contracultura e posteriormente chamado de “papa lisérgico”, Leary desenvolveu a ideia de que existem oito circuitos que representam o desenvolvimento do cérebro humano, seu relacionamento com o “eu” interior e o plano espiritual, base conceitual dessa apresentação.

Durante quase uma hora, o público experimentou um verdadeiro live- cinema geométrico projetado em cima de um anteparo tridimensional de 4 metros de altura por 7 de largura criado especialmente para essa apresentação, e comandado por Bernardo, Alexandre e Sol. Simultaneamente, o baterista Pablo e o multi-instrumentista Pedro criavam uma misteriosa ambientação sonora ao vivo, evoluindo do eletrônico ao rock progressivo. 

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Retrospectiva Multiplicidade 2011: Zach Lieberman + Daito Manabe

Texto presente no livro-catálogo do Multiplicidade 2011, a ser lançado no dia 13 de Setembro de 2012.

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Zachary Lieberman, americano, e Daito Manabe, japonês, escalados para abrir a temporada do Festival Multiplicidade 2011, são dois dos mais importantes artistas de arte eletrônica do mundo, mas também podemos dizer que são pesquisadores digitais ou hackers, como se autodenominam. Eles pensam em robótica, instalações interativas, códigos e programação computacional compulsivamente. Acumulando premiações por diversos festivais internacionais, os dois trabalham com dispositivos interativos que visam expandir os limites do corpo humano.

Verdadeiros nômades da era digital, viajam e produzem em qualquer espaço-tempo, sempre conectados. Ambos fazem parte de coletivos de desenvolvimento de softwares e tecnologias que trabalham de forma colaborativa, em que projetos são executados a distância, compartilhando conhecimentos com mentes espalhadas por todo o planeta. Esses grupos trabalham em laboratórios digitais, os MEDIA_LAB, onde mesclam artistas digitais com vasto conhecimento em programação junto a engenheiros, físicos, matemáticos, músicos, biólogos, bailarinos, designers, todos assumidamente “nerds” e que complementam descobertas livremente entre si.

Zach também é professor da Parsons School em Nova York e defende em suas criações o “DIWO” (do it with others), faça com os outros, em contraponto à famosa expressão “DIY” (do it yourself), faça você mesmo.

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Um de seus mais expressivos feitos compartilhados é o “Eyewriter”, óculos desenvolvidos com outros cinco artistas utilizando o Open Frame Works (softwares livres com códigos-fonte abertos), em que a pupila ocular é mapeada e pode controlar um programa computacional sem contato físico algum com mouses, teclados e telas. Dentre inúmeros prêmios, Eyewriter foi considerado uma das 50 melhores invenções de 2010 pela revista Time.

Dividida em três atos, essa apresentação conjunta e inédita no Multiplicidade desses dois artistas mostrou a interseção de tecnologia e ilusionismo, recheada com efeitos lúdicos e experiências corporais.

Primeiro, Zach apresentou sua obra “drawn”, normalmente exposta em museus e galerias, no formato de performance, em que os desenhos saem do papel e se transformam num videogame. Através de imagens desenhadas com nanquim em folhas brancas, o artista manipulava com os dedos seus traços num ambiente virtual, através de sensores e um software interativo com técnicas de realidade aumentada. A cada movimento, os desenhos eram transformados em novas formas a partir de suas intervenções. Criou-se uma intrigante regência sonora, num jogo ambíguo entre o real e o virtual.

No segundo ato, Daito Manabe trouxe para o teatro sua aclamada performance “electric Stimulus”. Sucesso nas redes sociais, semanas antes havia se apresentado na 18a edição do festival catalão Sónar, Daito, em dupla com um voluntário, utilizou 16 elétrodos que geraram choques de 8 volts no rosto de cada um, de acordo com a música ao vivo manipulada, através de softwares e de um “wiimote” (controle do videogame Nintendo Wii), transcorrendo do minimal ao jungle de acordo com a vontade do artista.

Finalizando a performance, foi apresentado pela primeira vez no mundo o experimento “Face Projection”, tecnologia desenvolvida pela dupla em que a projeção milimétrica do rosto de Daito reagia de forma orgânica aos mais diversos movimentos faciais. Localizados à sua frente, uma pequena câmera e um pequeno projetor em registro captavam as reações do artista, desde o piscar dos olhos até uma leve contração muscular, transformando seu rosto numa tela mapeada, como uma verdadeira máscara digital pixelada.

Terminando a noite, o DJ e produtor musical Nado Leal tocou junto com a DJ Mary Zander no coquetel de abertura da sétima temporada do Festival Multiplicidade no espaço cultural Oi Futuro Flamengo.

O Multiplicidade e o Oi Cabeça

Fechando nosso ano, fizemos a derradeira performance de 2011 do projeto Oi Cabeça, idealizado por Heloísa Buarque de Holanda, que contou com participação de 15 escritores, poetas e artistas em uma performance musical incrível com Nado Leal e Lui Coimbra

Dentre eles, tivemos Mana Bernardes, Ohne Titel, Alice Sant´Anna,  Ismar Tirelli, Arthur Protasio, Mariano Marovatto, Tom Rodrigues, Gabriel Paz, Omar Salomão, Rodrigo Penna, Chacal e Marcus Faustini.

Abaixo as primeiras fotos desse evento maravilhoso, que também fechou a temporada de 2011 do Multiplicidade.