Em seu terceiro álbum, “Vida eterna”, a dupla italiana Ninos Du Brasil embaralha samba, techno e vampirismo num batuque de matar

Screen Shot 2017-11-09 at 9.20.15 AMPor Carlos Albuquerque

Italianos e bem grandinhos, Nico Vascellari e Nicolò Fortuni são, curiosamente, os Ninos Du Brasil. E eles têm baquetas nas mãos e os dentes cravados na realidade. Em seu terceiro álbum, “Vida eterna”, os dois seguem subvertendo ritmos e estéticas a todo volume, casando batucada e techno sob as bênçãos do punk e das artes visuais. Nas oito estrondosas faixas do disco (que tem participação de Arto Lindsay), anarquizam também a narrativa, com títulos em português (com a ajuda do tradutor do Google) e uma surreal história sobre vampiros que sugam a energia vital das pessoas em uma floresta misteriosa. É o Nightmare Team do passinho.

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Vascellari e Fortuni costumam dizer que nasceram em Queimada Grande, uma ilha “perdida” em São Paulo, de acesso proibido, onde mora a serpente mais venenosa do mundo (de fato, o local existe e é conhecido como Ilha das Cobras). A verdade é só um pouco menos divertida: vindos do interior da Itália, os dois tinham uma banda punk chamada With Love, no final dos anos 90. Ninos Du Brasil era o nome de uma provocativa performance que faziam antes dos shows do With Love, uma espécie de bloco dos dois sozinhos, para ver quem realmente estava no local para ver a banda. “A ideia era simplesmente perturbar as pessoas”, admitiu Vascellari em recente entrevista ao site “Factmag”.

Mas tudo deu maravilhosamente errado. Aos poucos, o NDB passou a chamar mais a atenção do que o With Love (que chegou a gravar pelo selo GSL, de Omar Rodriguez, do Mars Volta) e acabou por engolir a banda principal. Foi melhor assim. Passados dez anos, os Ninos se firmaram como um transgressor ato musical/visual, famoso pelas incendiárias apresentações, tanto em palcos tradicionais como em squats e galerias de arte. Além dos álbuns anteriores, “Muito NDB” (2012) e “Novos mistérios” (2014, que traz uma faixa chamada “Sepultura”, em homenagem à banda mineira), chegaram a lançar um single, “Aromobates”, pelo selo DFA Records, de James Murphy, do LCD Soundsystem.

“Vida eterna” – que tem capa desenhada pela artista britânica Marvin Gaye Chatwynd – segue o baile com fogo e paixão. De “O vento chama o seu nome”, faixa de abertura, a “Vagalumes piralampos”, a única com vocal, que fecha o disco, a fúria sônica dos Ninos é alimentada por uma paleta percussiva, que inclui desde peças tradicionais (cuíca, surdo, prato etc) até objetos como garrafas, cilindros de gás e pedaços de madeira. Tudo embalado por texturas metálicas e vocais abstratos, criando o transe industrial perfeito para a dança dos vampiros e de outros mortos-vivos. Ou como profetizou Assis Valente em “Brasil pandeiro”, canção de 1940, imortalizada pelos Novos Baianos no clássico “Acabou chorare” de 1972: “Há quem sambe diferente noutras terras, outra gente/Num batuque de matar”.

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PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

Ocupa Porto Armazém da Utopia

Armazém 6, Orla Conde, s/n. Parada do VLT: Utopia/AquaRio.

Horários: 19h e 21h40m (Lenora de Barros e Raul Mourão), 19h30m (DJ Coni), 21h (Martin Messier), 22h (Paul Jebanasam e Tarik Barri), 22h40m (Looping: Bahia Overdub), 24h (Ninos Du Brasil), 1h (Vizinha Faladeira).

Classificação etária: Livre.

Entrada: Gratuita.

Local sujeito à lotação.

Saiba mais: http://bit.ly/MX2025_UTOPIA

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Sobre blogmultiplicidade

O Multiplicidade_Imagem_Som_inusitados é um festival de performances audiovisuais que acontece desde 2005 no Rio de Janeiro e que mostra ao público um amplo repertório de atrações no Oi Futuro Flamengo e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O seu principal conceito é unir em um mesmo palco arte visual e sonoridade experimental.

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