Instalação de Filipe Cartaxo abre nova dimensão para o BaianaSystem

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Filipe Cartaxo faz música com imagens.  Ele é o responsável pela marcante identidade visual do BaianaSystem  – dos inúmeros grafismos às cultuadas máscaras, tudo o que se vê e o que se toca do grupo tem sua assinatura. Sempre trafegando de forma equilibrada entre o digital e o analógico, Cartaxo abre uma nova dimensão para o BaianaSystem com a instalação “PIB – Produto Interno Bruto”, feita especialmente para o Festival Multiplicidade 2019, que estreia hoje, às 19h, no Oi Futuro Flamengo, onde segue até o dia 6/10. Num papo com o idealizador e curador do festival, Batman Zavareze, Cartaxo  fala sobre  esse inédito mergulho sensorial no processo criativo do grupo, e também sobre sua formação multidisciplinar e seu olhar para a arte..

– Sempre pensei no palco como uma exposição – revela.

Como você descreve a instalação “PIB – Produto Interno Bruto”? 

Filipe Cartaxo – Sendo BRASIS o tema do Multiplicidade desse ano, o PIB, de antemão, desloca o olhar para produção interna do BaianaSystem. Compartilhar um pouco do processo do grupo, trazendo a ambiência, a forma bruta de se produzir, a idéia solta, a imagem incompleta, a respiração, a voz da guitarra, os ruídos. São elementos soltos que, ao se combinarem, criam um local particular.

A instalação é uma metáfora do que se passa na cabeça de vocês, do BaianaSystem?

FC – Ela vai mostrar processos e produtos na sua forma bruta. Vai ajudar a identificar elementos que mudam através da própria forma, despertar sensações visuais, sonoras e reflexivas acerca do universo criado dentro de cada cabeça do grupo. E isso, de certa forma, acontece na cabeça de todos, somos estimulados o tempo inteiro e nem sempre sabemos organizar em qual caixa guardamos o que absorvemos.

Por que dividir a instalação em três partes: sonora, visual e reflexiva? Como vocês chegaram nesta síntese que muito representa o BaianaSystem?

FC – Isso foi o mestre B Negão quem falou. Ele sempre está por perto, na verdade ele faz parte do sistema, é uma peça fundamental. Na época que lançamos o álbum “Duas cidades”, ele falava das diversas artes inclusas no BS e essas três me chamaram muito atenção como fundamento. Ficou mais simples enxergamos dessa forma, como uma maneira de organizar ideias, ver princípios.

Você já tinha pensado no BaianaSystem além do palco, numa exposição? Curte a ideia de ver as ideias que vocês promovem dentro de outra contemplação, numa galeria? 

FC – Na verdade, eu sempre pensei no palco como uma exposição.  Mas de fato, o ambiente do show traz comportamentos  distintos de uma galeria, o que é curioso.

Através do seu currículo é possível entender sua formação artística antes do BaianaSystem e seu interesse em tantas linguagens multidisciplinares?

FC – Achava que (a minha) era Arquitetura. Fiz Urbanismo. Larguei. Passei na Escola de Belas Artes da UFBA no curso de desenho industrial (design). Me formei em 2009, já com a identidade do BaianaSystem. A fotografia foi a primeira linguagem que me fez entrar numa galeria, em 2004.

Eu-Multidão se agiganta em show com BaianaSystem

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TextoCarlosAlbuquerqueFotosLeonardoAversa

O BaianaSystem deu um show na apresentação da plateia, no Circo Voador, na estreia do Festival Multiplicidade 2019. Ou talvez tenha sido o oposto. Não importa. Cada vez que as luzes se apagam, o grupo se ilumina – e como o grupo se ilumina – e as pessoas vestem suas já tradicionais máscaras, vai desaparecendo a distância entre palco e chão. Tudo parece virar uma coisa só: o Eu-Multidão, uma entidade que se agiganta a olhos vistos.

Na noite chuvosa de sexta na Lapa, esses campos de força se aproximaram ainda mais. Estímulos não faltaram. Encaixotado dentro do espetacular cenário preparado especialmente para o evento – um cubo mágico aberto ou uma maquete de apartamento psicodelicamente decorada, dependendo do ponto de vista -, o grupo disparou sons e imagens de todos os ângulos, em diversas combinações: “Sulamericano”, “Saci”, “Dia da caça”, “Lucro”, “Arapuca”, “Salve, “Águas” (com a emocionante participação de Antonio Carlos e Jocafi), “Forasteiro”, “Playsom”, punhos cerrados em fundo vermelho, piões fumegantes, mãos sangrando, vídeos, frases, letras, bandeiras, engrenagens, grafismos etc.

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Do outro lado, de cima, debaixo e fora da lona, coberta e na chuva, a reação era imediata: danças, palmas, pulos, rodas, muitas rodas, rodas coletivas, rodas femininas, tudo girando, tudo se movimentando, do primeiro ao último minuto, num pulsar constante e integrado. “Só vamos conseguir reverter isso com poesia”, disse Russo Passapusso perto do fim de mais um espetáculo de transformação de banda e plateia num substantivo feminino só: multiplicidade. Mas pode chamar isso também de superpoder.

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O pulsar do BaianaSystem movimenta o Multiplicidade 2019

Baiana (LuizFranco)

O BaianaSystem vai ser a estrela da abertura do Multiplicidade 2019, nesta sexta-feira, no Circo Voador, movendo seu intenso campo magnético em um show especial de sons e imagens. O espetáculo (com ingressos já esgotados) vai apresentar um repertório preparado exclusivamente para o evento, com material dos três álbuns do grupo, e um cenário extraordinário, também feito em parceria com o festival, incluindo máscaras e camisetas únicas. Figura de frente do grupo, o cantor e compositor Russo Passapusso fala sobre o show, sobre a conexão com o Multiplicidade, sobre a cultura nesse Brasil de cabeça para baixo e sobre os 10 anos do BaianaSystem, celebrados em 2019.

– Não senti a passagem desses dez anos porque a gente trabalha quebrando a linha do tempo – afirma.

Como vai ser esse show especial para os 15 anos do festival Multiplicidade?

Russo Passapusso – Com ele, abre-se um novo desafio para o BaianaSystemn. Como a imagem faz parte da proposta do festival e como ela é a raiz do grupo, vamos fazer algumas experimentações visuais. E como o  tema do evento é Brasis, vamos ampliar o roteiro dos nossos shows recentes, incluindo mais músicas de “O futuro não demora” e também outras dos outros discos que temos tocado pouco ao vivo. Com esse repertório especial, vamos buscar uma provocação maior, a partir do estímulo de imagens. O BaianaSystem surgiu assim, afinal

Para um grupo que sempre trabalhou muito bem a sua parte visual, de que forma as imagens e os sons do BaianaSystem se completam?

RP – Elas reforçam um sentimento de coletivismo. As máscaras, por exemplo, elas causam um tamanho impacto na banda e no público que fazem com que todos deixem momentaneamente suas identidades e passem a se enxergar dentro de um sentimento de igualdade. É a criação de um novo ser, o eu-multidão.

Como você resumiria a situação da cultura no Brasil hoje?

RP – Acho que estamos em um ponto de mudança. Vejo esse momento de caos como uma grande oportunidade de reestruturação

O BaianaSystem está completando dez anos de existência em 2019. Como o grupo avalia esse período, em que, figurativamente, pulou das ruas de Salvador para o Brasil e o mundo?

RP – Pessoalmente, quase não senti a passagem desses dez anos, o que acho ótimo porque a gente trabalha quebrando a linha do tempo. De qualquer forma, é uma data que nos permite refletir sobre uma nova fase, um novo tempo. É uma coisa que naturalmente estimula a renovação.

Se o futuro não demora, dá para subverter a letra de “Bola de cristal” e prever o que vai acontecer com o BaianaSystem em breve?

RP – Dureza encontrar a resposta para essa pergunta porque o BaianaSystem é um quebra-cabeças, tem estímulos de diversos lados. Mas o que posso prever, olhando para trás e visualizando o que vem pela frente, é que a bandeira da luta vai ficar cada vez mais forte. Vamos precisar de um olhar mais amplo, mais circular, em 3D, para evoluir. Mas, de qualquer forma, não tem mais enganação. O momento é de lutar.

Foto: Luiz Franco

 

O manifesto de Rodrigo Penna é um ambiente

 Rodrigo Penna

Criador multifacetado e engajado, Rodrigo Penna pode ser visto à frente ou por trás das telas, no palco ou nos bastidores, no comando de uma pista ou na produção de uma festa. No Multiplicidade 2019, ele revela mais uma porção artística, com a instalação ”Ambiente”, que mistura palavras, poemas, discursos e sons. O trabalho vai ser apresentado em parceria com o artista sonoro Felipe Storino.

– Estar no Multiplicidade é um sonho antigo – diz ele, garantindo estar “lambuzado de vozes, narrativas e verbo”.

Quando surgiu o projeto Ambiente e de que forma ele evoluiu até essa performance no Multiplicidade 2019?

Rodrigo Penna – Vem desde o começo do milênio, em bares, cafés, teatros e museus da cidade (do Rio). Nessa primeira etapa, foram dois ou três anos experimentando vozes, camadas de textos, artistas diversos, misturando cânones literários com fragmentos do nosso dia a dia, frases de caminhão, bulas, horóscopo, receitas, mensagens pessoais, sampleando e remixando palavras e sons. Em 2009, fiz três edições do Ambiente pra matar a saudade, ainda como uma performance pontual, uma apresentação de até uma hora de duração, com atores ao vivo, recitando, citando, lendo, mais sons pré-gravados e também criados na hora. O Multiplicidade é minha primeira oportunidade de apresentar uma instalação Ambiente, um Ambiente-manifesto, totalmente fora da minha zona de conforto, um processo de depuração de sons, escolhas sendo feitas. O improviso é só mais um passageiro, não mais o motorista desse bonde. “Toda realidade é um excesso!”, dizia (Fernando) Pessoa. São esses excessos que nos cercam, nos empurram e paralisam, são esses transbordamentos que me interessam aqui.
Seu currículo inclui trabalhos como ator, diretor, produtor de eventos e DJ. De que forma todas essas suas facetas artísticas se integram? Existe uma sem a outra?
RP – Acho que todas são caminhos e expressões que, de alguma forma, me conduzem, me atravessam nessa vida. A dramaticidade do ator, a paixão por contar e ouvir histórias, as camadas e tonalidades do sentimento, tanto num texto como num som; DJ, produtor, diretor, estudante, curioso, de alguma forma há uma sensibilidade nas coisas, no mundo, no silêncio ou num belo beat que balança, e move alguma coisa lá dentro. E move também encontros e parcerias, o privilégio de trabalhar com quem a gente admira. Nessa edição, tenho a alegria de dialogar com Felipe Storino, artista que sempre me instigou. Tô ansioso pra abertura da instalação, mergulhado até os ossos nessa empreitada, lambuzado de vozes, narrativas e verbo. E há um Brasil urgente em cada linha dessa imensa colcha de retalhos.
Foto: Thiago Moraes

A expansão dos sentidos pelas imagens de Phil Niblock e os sons de Tatá Ogan

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Por Carlos Albuquerque
Fotos: Bleia Campos

Foi um contraste de grandes proporções. Exibido em três imensas telas numa das salas da Fundição Progresso, durante o ColaborAmérica, o filme “The movement of the working people”, de Phil Niblock, mostrava imagens da árdua rotina de trabalhadores no Brasil, México, China e Indonésia, com gente tecendo redes, quebrando pedras, pescando etc, tendo ao fundo um som minimalista e hipnótico. Em frente às telas, colchões gigantes espalhados pelo chão abrigavam e confortavam a plateia itinerante do local, ao longo das oito horas de projeção da obra, com gente curtindo, relaxando e até dormindo enquanto assistia ao filme. No escuro daquele supercinema alternativo, montado pelo Multiplicidade, criou-se uma curiosa contraposição de situações. Esforço vs descanso. Movimentação vs contemplação. Trabalho vs lazer.

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A celebrada obra de Niblock já havia sido, parcialmente, apresentada – e discutida pelo autor – durante o começo da temporada do Multiplicidade 2018, no Centro Cultural Oi Futuro e no Lab Oi Futuro. Mas só dessa vez ela foi exibida em suas proporções devidas – telas lineares de 12 metros, fundo musical a pleno vapor -, fazendo jus ao gigantismo do trabalho do mestre norte-americano da arte sonora. Mistura de cinema expandido, retrato antropológico e música experimental, “The movement of the working people” foi gerado ao longo de mais de 20 anos de pesquisa e produção até chegar ao looping de oito horas exibido no ColaborAmérica. Foi uma gigantesca janela aberta para, sem trocadilhos, futuras colaborações entre os dois festivais.

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E após tanto trabalho, foi a vez da movimentação dos povos dançantes se instalar no encerramento do evento. Num espaço a céu aberto, a DJ Tatá Ogan, outra contribuição do Multiplicidade, esquentou a noite com uma apimentada seleção de grooves, da cumbia ao trap, do carimbó ao hip-hop. Através dela, a pista virou um breve espaço utópico, com a diversidade musical refletindo o olhar para o todo. Festas boas são assim.

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Não se faz um acontecimento cultural artístico potente sem uma rede de pessoas unidas com um objetivo comum. Ao longo de 11 anos o Festival Multiplicidade investe na formação técnica, ética e estética continuada de pessoas com habilidades, capacidades, conhecimentos e praticas diferentes que têm muito a contribuir para profissionalizar uma cena. Investir e extrair o melhor das pessoas envolvidas passa pelo mais profundo compromisso do festival.

A entrega para o edital é um evento, mas para nós é um experiência coletiva transformadora. A vida muitas vezes é dura, bruta e feia mas uma plataforma que promove arte, a nova arte híbrida embebedada de recursos tecnológicos ao vivo, tem a oportunidade única de formar um novo profissional num mercado viciado e contaminado por lógicas cruéis de sobrevivência. Não existe arte total sem humanizar o processo, não existem ações individuais bacanas que não enxerguem o problema do outro. A intenção ao trabalhar arduamente durante um ano é, sempre que estiver ao nosso alcance, escutar e lutar para fazer o melhor possível. Não existe impossível até quebrarmos a cara com nossas persistências. Para formar profissionais capacitados para desafios ambiciosos tem que ser duro, sem perder a ternura, mas a dinâmica da construção deste circo exige uma série de decisões que fogem a planilha, tomam riscos, são indisciplinadas, transversais e através de nossas vidas sem perguntar “porquês”.

Um festival se faz na primeira pessoa do plural com inúmeras contribuições erráticas, mas sem nunca esquecer das avalanches de carinho distribuídas a todos envolvidos, equipe e artistas, pois o impacto reverberado seria vão, insignificante, frustrante e efêmero sem distribuições em doses cavalares deste sentimento. Nosso maior legado não é a pujança da entrega do acontecimento mas a rede de afetos que se fortalece a cada edição. Os que estão e os que passaram deixaram sua marca na nossa história com muita transpiração e paixão, por isso sou eternamente convicto da força invisível da educação, do “learning by doing” sem medo de fracassar, dá continuidade e da insistência, pois nossas contribuições são inegáveis para tornar a cena artístico-cultural forte e permanente.

Mirian Peruch, Patricia Bárbara, Nado Leal, Raquel Bruno, Mariana Duque, Eduardo Bonito,Brenno Erick, Beline Cidral, Joca Vidal, Bebeto Abrantes, Glauber Vianna,Leo Eyer, Billy Bacon, Alex Augusto, Joao Oliveira, Luiza Viglio, Gui,Rodrigo Moura, Alexandre Paranaguá, Jean, Baldi, Alessandro Boschini, Léo DL, Eduardo Magalhães, Diana Sandes, Gabi Carrera, Francisco Costa, Maria Cristina Rio Branco, Marina Ivo, Daniela Del Corona, Renata Carneiro, Rodolfo Alves Carioca, Júlia Malafaia , Susana Lacevitz ,Jane Deluc Paola Barreto, Fabio Fantauzzi e inúmeros outros profissionais que se jogam em nossa rampa de voo exalando prazer nos seus poros. Sempre muito orgulhoso deste carinho que vai, volta e fica. Parabéns!!!!

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Ass: Batman Zavareze – Diretor e Curador do Festival Multiplicidade

Futuros possíveis

Texto publicado por Ivana Bentes, logo após sua participação no Painel Memórias Futuras @ Festival Multiplicidade 2025:

“Futuros possíveis. Parque Lage é um lugar mágico e neste sábado chuvoso e nublado estava ainda mais misterioso e vibrante lotado de pessoas inquietas. Participei do Painel Memórias Futuras uma roda incrivel de antevisões dos futuros a convite da Paola Barreto e do Bat Zavareze. O futuro é uma ideia “antiga” e quase sempre é datado, pois nunca estaremos nele, porque é sempre uma construção do presente urgente. Com essa provocação sobre futuros possiveis a roda de conversa passou por temas e experiências surpreendentes. O que há de futuros em curso no presente? Como hoje o ancestrofuturismo e as cosmovisões indigenas e ancentralidades são inspiradoras de futuros. Como a América Latina continua como um lab de mundos. As “vitalidades catastróficas” (termo do Fausto Fawcett) nos ajudam a pensar os futuros, as possibilidades de ressureição, os instantes e presentes eternos, as temporalidades inventadas pelos povos para fugir da ditadura do presente e as ideias e projeções de futuros usados para nos imobilizar (em nome do futuro se tem hoje discursos conservadores, de preservação do status quo). Outros futuros mais provocadores como os da ficções especulativas de Donna Haraway e os exterminadores de futuros que moldam e reduzem as cidades a seu fim mercadológico, privatizando, monitorando, expulsando os pobres e os cosmopolitanos das ruas e do espaço público. A conversa teve performance, leitura, falas inspiradoras e bem que merecia um registro para os futuros. Neste domingo é o último dia do ‪#‎FestivalMultiplicidade e da exposição ‘Quarta-Feira de Cinzas”, curadoria da Luisa Duarte no lindo Parque Lage.”

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Multi_Ocupação | O futuro é hoje

Como seria o mundo, mais precisamente a arte, se estivéssemos em 2025? A pergunta norteou o último dia do festival, encerrado no Parque Lage, domingo (8), e a reposta dos artistas e do público foi em uníssono: o futuro é hoje!

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A tarde começou com a apresentação da paulista Giu Nunez, no bosque do Parque Lage. Sob uma instalação em meio à natureza, o público pode desconectar-se do mundo exterior. “Esse misto de linguagens, graças à tecnologia, veio contribuir para a arte. Mas é bom também se desligar um pouco dessas inúmeras informações que circulam ao mesmo tempo e focar em um só caminho”, sugeriu Giu. Em seguida, o DJ Pedro Pagy assumiu as carrapetas e continuou o trabalho já iniciado pela discotecária. Com o ‘Triboelétrica’, ele apresentou aos visitantes um set que misturou tempo e vazio, abismos e brilhos, sufocamento, luz e sombras.

No Salão Nobre do casarão, o ‘EstúdioFitaCrepe’, representado pelo artista Ricardo Garcia, apresentou seu trabalho que envolve música instrumental, eletroacústica, noise, soundscape e instalação sonora. Em Eletro_Radiobras, Ricardo, que faz dupla com André Thitcho, mostrou o projeto de música eletrônica. “O futuro da arte é viver o presente. A tecnologia veio para ajudar, mas o importante é o que acontece agora”, disse André. Em seguida, o músico autodidata Felipe Vilasanchez mostrou ‘Oriente’. No painel ‘Cinema Transversal’, a ‘Alumbramento Filmes’ exibiu ‘Medo do Escuro’. O salão ficou lotado!

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O artista multifacetado Gui Marmota repetiu sua performance e reuniu, nas escadarias do casarão, não só adultos, mas também crianças. Como no dia anterior, elas foram a grande atração do domingo. Munido do seu latão de lixo-bateria cheio de canos, Marmota reproduziu alguns sons curiosos e arrancou passinhos e sorrisos dos pequenos.

Já no Platô, o francês Aleqs Notal abriu a noite com o seu set de housemusic, que leva influências de gêneros como disco, funk, jazz e o soul. Logo após, a ‘Meia Banda’ assumiu o palco. O grupo é um projeto do baixista, guitarrista e compositor Bruno Di Lullo junto com os músicos Estevão Casé e Eduardo Manso. O grand finale ficou a cargo da ‘Camerata Monoaural’.

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Em sua 11ª edição, rumo a 2025, o Multiplicidade não perde o fôlego; pulsa, sugere encontros inusitados, proporciona lugar para novas ideias fluírem; é um marco na programação cultural da cidade. A intenção, segundo Batman Zavareze, idealizador do festival, foi “provocar a antevisão na vida da arte e na arte da vida”.

Multi_Ocupação | Abra seus ouvidos

Ouvir; precisamos ouvir. Essa foi a máxima do terceiro dia de Multi_Ocupação, dessa vez no Parque Lage. Um sábado que começou ao som da natureza molhada pela chuva e terminou com a Orquestra Vermelha, e todos se divertindo juntos.

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Em mais esse encontro de 2025, entendemos que precisamos prestar atenção aos sons que nos rodeiam, “pois a escuta salva o homem, é questão de sobrevivência”, como bem lembrou Tato Taborda durante o Workshop “Pausa na Emissão”, num passeio vendado entre as árvores que cercam o Parque.

Depois de se “desconectarem” por uns minutos, quem chegou cedo acompanhou um momento já caracterizado como “histórico” na trajetória do festival: O painel “Memórias do Amanhã”, que reuniu 20 artistas em roda, dispostos a escutar, desarmados, o que os outros tinham a dizer. Cada um teve cinco minutos para expressar suas antevisões.

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“Futuro e juventude são palavras velhas”, disse Ivana Bentes; “Esse sonho de ser, no futuro, mais do que a gente realmente é já não é de hoje”, entoou Fausto Fawcett; “Vivemos sob uma certa exigência contraditória de termos que pensar o futuro através da arte”, falou Paul Heritage; “A melhor maneira de mudar o mundo é criá-lo, então, artistas, mãos à obra”, sugeriu Maria Arlete Gonçalves. “Precisamos pensar qual a nova rede de afetos que devemos ter daqui pra frente”, finalizou Batman Zavareze. E o dia só tinha começado…

O artista Gui Marmota deu um ritmo especial ao festival, com seu latão de lixo, canos, e performance; logo depois, no salão nobre, foi a vez das crianças fazerem barulho. Leo Tucherman & Susana Lacevitz coordenaram uma oficina de dar água na boca nos adultos – e eles não resistiram! Organizados em grupos, os participantes recriaram os sons para o filme “Tempos Modernos”, de Chaplin; um exercício de sonoplastia.

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Como em 2025 “Educação” é palavra-chave, nada mais adequado que reunir os que estão na linha de frente da criação de novas formas de se provocar o saber, a autonomia, a criatividade. O painel “Lab do Amanhã” já apontou caminhos interessantes para nossos filhos, netos, tataranetos.

“O espaço do erro deve existir”, afirmou Cristina Verdade, do NAVE/CEJLL; “Precisamos criar situações de aprendizagem, pela experiência”, exemplicou Fernando Mozart, da Oi Kabum!; “Acredito numa educação ‘orgânica’, num modelo integrativo, em assumir o caos do processo criativo”, compartilhou Guto Nóbrega, do NANO/UFRJ.

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Já no cair da tarde, começaram os shows. Os artistas Søren Kjaergaard e o IN-SONE lotaram o auditório numa apresentação intimista, conjunta; Gabriel Muzak, Antonia Morais, Plínio Profeta, Alumbramento e o dinamarquês Rumpistol completaram a noite de sonoridades, até a apresentação da Orquestra Vermelha, com suas sombras.

Fotos: Eduardo Magalhães | 14

Multi_Ocupação | Planetário

A linearidade de um texto já não comporta todas as necessidades da nossa vida de 2025. O poder das imagens aliado à potência imersiva das sonoridades é como a arte se revela nesses tempos, permeando o teatro, a poesia, os objetos da vida cotidiana.

O segundo dia de Multi_Ocupação, no Planetário da Gávea, nessa sexta-feira (6), foi o encontro dessas linguagens híbridas com um público multi-linguístico, desejoso de abrir a cabeça, fazer a mente viajar, ter novas ideias.

Multi_Ocupação | Parque Lage (Foto: Francisco Costa/14)

Muti Randolph foi o resposável pelo desafio de pensar as projeções para uma das maiores cúpulas da América Latina, na máxima resolução possível e em 3D.

Fui ao limite da tecnologia que temos disponível hoje para esse tipo de espaço, considerando uma performance ao vivo; é isso que sempre busco, forçar a tecnologia a fazer o que queremos criar, e às vezes ela não está preparada. Foi como realizar um sonho“.

Multi_Ocupação | Parque Lage (Foto: Francisco Costa/14)

Foi o VJ Spetto que trabalhou com Muti para mapear o espaço das projeções; dois brasileiros que fazem parte do circuito digital mundial: “Somos brasileiros, mas a arte já é planetária, está em todos os países“.

Para experimentar o aspecto acústico da cúpula, livre, o primeiro a assumir as mesas de som foi Bruno Pallazo, artista plástico apaixonado pela poesia dos ruídos.

Quando entrei, até senti vertigem. Foi a primeira vez em um lugar como esse. E não adianta; eu sou daqueles atraídos por eletricidade“.

Como falou Bruno, já existem caminhos infinitos de criação para quem trabalha com som. “Mas o que sempre deve haver é o fator humano“.

Multi_Ocupação | Parque Lage (Foto: Francisco Costa/14)

A DJ Andrea Gram, que chegou de São Paulo e foi refrescar-se com um banho de mar logo antes de ir tocar no festival, apresentou um repertório dançante, e se emocionou ao pensar no futuro.

O que vai acontecer depois do eletrônico? Como iremos agir, o que vamos consumir, comer?

Para fechar a noite, assimiu as caixas de som o dinamarquês Rumpistol. Ele estava empolgado em performar em um planetário, onde as pessoas são, de certa forma, “obrigadas” a se deixar levar pela imersão: “aqui, ninguém poderá pausar, trocar de faixa, como fazemos todos os dias nessa época de tecnologia e conteúdo em toda parte”.

Sobre essa quantidade de tecnologia disponível, Rumpistol deixou um lembrete às gerações para além de 2025: “De que adianta ter as ferramentas todas e não ter ideias?

A plateia que ocupou o planetário, num ritual parecido com o de uma simples ida a um cinema, voltou para casa com a sensação do “o que acabou de acontecer aqui?”; como se tivéssemos todos feito juntos uma viagem despretenciosa, e cada um para seu lugar, suas imaginações e inspirações.

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E depois de todo esse mergulho, num espaço fechado, o Multiplicidade recebe as pessoas no Parque Lage, nesse sábado chuvoso, justamente num movimento de desaceleração.

Venha! Ainda não acabou!