Entrevista com Thomas Köner

Aproveitando a passagem de Thomas Köner no Rio, Joca Vidal também o entrevistou na terça-feira, dia 29, sobre o espetáculo que aconteceria naquele dia. Abaixo o texto, com fotos de Dianas Sandes para o festival Multiplicidade.

É a sua primeira vez no Rio? O que sabe sobre o Brasil?

Esta é a minha segunda vez no Rio de Janeiro, mas estive em Recife onde fiz uma exibição de alguns de meus recentes trabalhos de audiovisual em abril deste ano. Acho o Brasil um país maravilhoso. Conheci no país muitas pessoas positivas e felizes, como em nenhum outro lugar do mundo. Estive também em outros países da America do Sul, como o Chile no ano passado, para uma exibição no Museo Nacional de Bellas Artes.

 

Quais as principais diferenças entre as duas apresentações que fará hoje (terça) e amanhã no Multiplicidade?

Vou apresentar dois shows diferentes, “O Manifesto Futurista” e “Materia Obscura”. “O Manifesto Futurista” descobre o presente momento visualizando o futuro e o passado. Utilizo partes do texto do Manifesto Futurista de Marinetti, de 1909, como base do concerto. Também uso imagens antes de 1909, que provavelmente inspiraram Marinetti nos cinemas. Estas imagens são meio que fantasmagóricas (risos). Haverá um piano na apresentação, música eletrônica tocada ao vivo e uma vocalista. “Materia Obscura” é uma performance ao vivo que eu faço em conjunto com Jurgen Reble. Ele trabalha com a química direta que resulta da emulsão do filme e mostraremos a beleza dos “shapes” que estão escondidos no material a nossa volta. Será uma imersão completa na profundidade do som e no colorido de imagens jamais vistas.

O que tem visto de interessante na cena audiovisual? O que te fascina neste tipo de apresentação?

Acho Carlos Casas o artista mais excitante e fascinante em torno de que está atualmente na cena a/v. Por sorte ele está no Rio e participando do Multiplicidade. O audiovisual, para mim, significa uma chance de abraçar mais de um sentido, no caso o visual e o auditivo. Assim, aumentamos a experiência e criamos um maravilhoso espaço onde o púlbico possa aproveitar bastante e passar muito tempo ali.

 

Você é um dos principais nomes na cena ambient e um dos precursores do dub techno, além de já ter remixado nomes como John Cage e Nine Inch Nails. Pretende lançar algo relacionado a música este ano?

Sim, nos próximos meses lançarei um CD novo e também vou re-lançar em vinil o trabalho “BIOKINETICS Porter Ricks”, de 1996.

Entrevista com Carlos Casas

Para filmar a trilogia END, Carlos Casas levou dez anos, envolto em diversas dificuldades, desde o frio até a escassez de alimento. Em novembro, no dia 27, Carlos apresentou-se com o Chelpa Ferro no Instituto dos Arquitetos do Brasil  pela primeira vez esses três filmes como performance.

Joca Vidal, DJ e Jornalista do Rio de Janeiro, entrevistou o artista por email e conversou um pouco sobre esse processo difícil que envolveu uma década de esforço e determinação. Junto, algumas fotos tiradas por Diana Sandes e Rodrigo Torres.

Como foi seu processo de pesquisa e quanto tempo foi necessário para a escolha dos locais de filmagem?

Desde que tive a ideia de filmar, cada projeto levou um longo tempo de pesquisa. Patagônia entre 1999 e 2002, com dois períodos de filmagem; Aral entre 2002 e 2003, um período; e Siberia, entre 2005 e 2009, também com dois períodos de filmagem.

A mais longa e a mais difícil foi o projeto Siberia por causa das permissões e do difícil acesso. Fiquei em Moscou durante um mês fazendo reuniões e contato com as pessoas. Obter permissões para acessar Chukotka não é fácil, lá é um enclave militar russo e uma região autônoma, ou seja, muita burocracia.

Você teve financiamento de patrocinadores ou os filmes da trilogia foram investimento pessoal?

Todas as minhas obras são um investimento pessoal, a minha saúde, minha mente, meu tempo… Mas a trilogia foi produzida enquanto eu estava como artista residente e consultor criativo na Fabrica e na revista Colors. Tivemos também uma parceria com oum canal de TV Suiço-Italiano, mas todos os três disponibilizaram um orçamento muito pequeno

 

Houve contato prévio com os entrevistados?

Nós conhecemos a maioria dos nossos personagens no período antes das filmagens. Alguns deles, como no filme Patagonia, exigiam mais tempo e uma espécie de casting foi feito antes de fotografar. Todos eles foram resultado de uma pesquisa das necessidades e requisitos do casting, mas há sempre o fator surpresa que você encontra quando está em um local como esse.

Quais foram as precauções tomadas com o frio e comida? Usou roupas especiais? Como foram os preparativos para a Sibéria?

Sibéria e Patagônia foram extremamente frias, a temperatura na Sibéria estava pegando em -38 graus e o vento era muito forte e congelante. Roupas são uma parte muito importante para manter-se vivo, assim como comer bem e estar em forma.

A comida na maioria desses lugares é escassa, especialmente em Aral, onde eu era alimentado somente de pão e marmelada russa durante um mês. Na Sibéria eu comia principalmente carne de baleia, pele, gordura e carne de foca e morsa. Não há legumes e conservas são muito caras. Na Patagônia nós sobrevivemos apenas com uma dieta constituída de ovelhas e carne de vaca.

Qual foi o local que você enfrentou a temperatura mais baixa e tinha dificuldade para seguir as filmagens?

A Sibéria exigiu um cronograma disciplinar muito rigido para fotografar. E fotografar é um procedimento muito preciso já que a câmera não funciona com menos de 35 graus de frio. Então eu tive que trabalhar em estrados, cobrindo e mantendo a câmera perto do meu corpo. Criei uma espécie de saco especial com a pele de morsa que o caçador de baleias forneceu-me para manter meu equipamento durante a viagem.

Quais as pessoas retratadas na trilogia END que te surpreenderam? 

Eu aprendi muito com todos eles. Do Peter, na Patagônia, eu aprendi o significado de isolamento e auto abandono, tipo uma aposentadoria ou auto-reclusão; do Jumagul, em Aral, aprendi que as coisas têm o seu curso e nós não devemos ter pressa, estamos vivendo em um círculo completo; e do Edward, caçador de baleia, entendi o que isso significa, seu mais profundo significado, sua dimensão espiritual e humana.

Você conseguiria ser feliz vivendo em lugares tão inóspitos?

‘Feliz’ é uma palavra que distorce e corrompe, na realidade o que você sente nesses lugares é que você está vivo. A palavra ‘feliz’ de alguma forma é corrompida pelas modernas idéias materialistas. Você está vivo, você é parte de tudo, este é o sentimento nesses lugares.

Qual foi o momento mais memorável durante o contato com os baleeiros?

Foi caçar com eles, ouvindo, ficando em silêncio, olhando para o horizonte, tentando entender suas relações com as baleias. A sensação de medo é forte na frente da baleia. Comer com eles logo após a caça, fazer parte de um sacrifício como uma luta comum, estar no mesmo nível. Sobreviver…