Na noite desta segunda feira, o Oi Futuro Flamengo deu sinal de ocupado pela 15ª edição do Festival Multiplicidade. Na linha, um diálogo com os Brasis de um país que parece de cabeça para baixo. A conversa, dividida em atos, vai até o próximo domingo.
O térreo ficou uma pilha de livros, com a performance “Leia pegue doe”, do ator Gabriel Silveira, acompanhada pela instalação “Fala que eu te escuto”, de Alfredo Alves e João Oliveira, com 150 hipnotizantes retratos feitos durante o Colaboramérica de 2018, na Fundição Progresso.
A obra “Concavo e convexo”, da premiada carnavalesca Rosa Magalhães, em parceria com Marlus Araújo, desafiava os sentidos, com imagens inusitadas da folia, em 360º, projetadas na superfície de guarda-chuvas. A impressão era de células se movimentando sob o olhar de um microscópio.
Mais acima, foi a manifestação das entidades da arte que atraiu as pessoas. De um lado, na imersiva instalação “PIB – Produto Interno Bruto”, de Filipe Cartaxo, as características máscaras do BaianaSystem abriam-se para revelar um pouco do processo criativo da banda –suas conversas, suas trocas, seus sons.
Do outro lado, Cabelo e suas mercadorias – os ovos-bombas, os tapetes, o manequim com a blusa camuflada (e os dizeres Rambo x Rimbaud) – dentro da anti-exposição “Luz com trevas”, ativada por uma intervenção do artista, meio Exu, meio MC, acompanhado pelo DJ Nado Leal, pelo percussionista Leo Leobons e dançarinos do Passinho mascarados.
Entre um e outro, a elegância da “The new brazilian flag”, de Raul Mourão, retratando um país com um buraco no meio.
O magnetismo foi mantido com “Ambiente”, uma sinfonia de vozes e ruídos criada por Rodrigo Penna e Felipe Storino. O trabalho fala através de uma série de caixas espalhadas numa sala de luz (vermelha) baixa e nenhum estímulo visual, gerando um transe de informações cruzadas roçando os ouvidos.
Seguindo para o alto, no teatro, o sonho não acabava. Ele ganhava poesia com a obra “Incorporais”, de Dani Dacorso. Ao som de Leobons, novamente ele, as impressionantes imagens da fotógrafa ganhavam vida e ritmo, dançando conforme a música.
E no café, no último andar, a ligação dos Brasis vinha através das projeções do trabalho “Donos do Brasil”, de Thiago Tegui, subvertendo e aguçando os olhares sobre os povos indígenas.
No final, de volta ao térreo, sobraram os livros para contar histórias. De existências e resistências, por exemplo.
Fotos: Coletivo Clap