O manifesto de Rodrigo Penna é um ambiente

 Rodrigo Penna

Criador multifacetado e engajado, Rodrigo Penna pode ser visto à frente ou por trás das telas, no palco ou nos bastidores, no comando de uma pista ou na produção de uma festa. No Multiplicidade 2019, ele revela mais uma porção artística, com a instalação ”Ambiente”, que mistura palavras, poemas, discursos e sons. O trabalho vai ser apresentado em parceria com o artista sonoro Felipe Storino.

– Estar no Multiplicidade é um sonho antigo – diz ele, garantindo estar “lambuzado de vozes, narrativas e verbo”.

Quando surgiu o projeto Ambiente e de que forma ele evoluiu até essa performance no Multiplicidade 2019?

Rodrigo Penna – Vem desde o começo do milênio, em bares, cafés, teatros e museus da cidade (do Rio). Nessa primeira etapa, foram dois ou três anos experimentando vozes, camadas de textos, artistas diversos, misturando cânones literários com fragmentos do nosso dia a dia, frases de caminhão, bulas, horóscopo, receitas, mensagens pessoais, sampleando e remixando palavras e sons. Em 2009, fiz três edições do Ambiente pra matar a saudade, ainda como uma performance pontual, uma apresentação de até uma hora de duração, com atores ao vivo, recitando, citando, lendo, mais sons pré-gravados e também criados na hora. O Multiplicidade é minha primeira oportunidade de apresentar uma instalação Ambiente, um Ambiente-manifesto, totalmente fora da minha zona de conforto, um processo de depuração de sons, escolhas sendo feitas. O improviso é só mais um passageiro, não mais o motorista desse bonde. “Toda realidade é um excesso!”, dizia (Fernando) Pessoa. São esses excessos que nos cercam, nos empurram e paralisam, são esses transbordamentos que me interessam aqui.
Seu currículo inclui trabalhos como ator, diretor, produtor de eventos e DJ. De que forma todas essas suas facetas artísticas se integram? Existe uma sem a outra?
RP – Acho que todas são caminhos e expressões que, de alguma forma, me conduzem, me atravessam nessa vida. A dramaticidade do ator, a paixão por contar e ouvir histórias, as camadas e tonalidades do sentimento, tanto num texto como num som; DJ, produtor, diretor, estudante, curioso, de alguma forma há uma sensibilidade nas coisas, no mundo, no silêncio ou num belo beat que balança, e move alguma coisa lá dentro. E move também encontros e parcerias, o privilégio de trabalhar com quem a gente admira. Nessa edição, tenho a alegria de dialogar com Felipe Storino, artista que sempre me instigou. Tô ansioso pra abertura da instalação, mergulhado até os ossos nessa empreitada, lambuzado de vozes, narrativas e verbo. E há um Brasil urgente em cada linha dessa imensa colcha de retalhos.
Foto: Thiago Moraes

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