Na despedida, sons, imagens e danças inusitadas numa rave para os sentidos

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Por Carlos Albuquerque

Depois do Éden, a Utopia. Ao ocupar o porto no derradeiro momento de sua programação de 2017, o Multiplicidade se expandiu em busca de uma nova harmonia. Como expansões de universos são fenômenos baseados em relatividades, foi uma noite de sínteses e avanços, de batucadas e beats, de trovões metálicos e chuvas de lava digital, de vazios e cheios, de estática e dança, de tensão e prazer, de silêncio e distorção. O Armazém transformado, nem sempre plenamente, numa rave para os sentidos.

Na chegada, ecos do passado. Numa montagem do DJ e produtor Nado Leal, o enorme espaço, iluminado por uma intrigante luz vermelha, dava reverberação a samples das atrações anteriores do festival: a anti-sinfonia da Quasi-Orquestra, o canto dos Kuikuro, a eletrônica de Alex Augier etc. A provocante instalação fotográfica “Você pode me ouvir?”, de Elisa Mendes, que confrontava imagens do evento com o barulho de tiros na ocupada favela da Rocinha, e a poesia visual de Lenora de Barros (em parceria com Raul Mourão), piscando em toda parte, completavam a hipnose da recepção.

Com sensibilidade, o francês Coni – primeira atração da noite – manteve o clima, construindo um set abstrato, mais de texturas do que de grooves. Depois, no palco instalado na outra extremidade do armazém, começou o terremoto de baixa intensidade criado pelo artista canadense Martin Messier ao deslocar suas placas eletrônicas. Deixando fluir seu passado de baterista punk, ele batia nos pedaços de metal com fios em vez de baquetas, gerando uma série de ruídos residuais, completados por um giro incessante de sombras. O veneno da lata em performance.

O show sensorial prosseguiu com a combinação de Paul Jebanasam (Sri Lanka) e Tarik Barri (Holanda). Já uma experiência transcendental nos fones de ouvido, o álbum “Contiuum”, de Jebanasam, explode como um vulcão na versão audiovisual, criada por Barri, expelindo uma chuva de lava digital no telão. Por instantes, pareceu que “o olho que tudo vê”, de Tolkien, tinha aportado ali, enfeitiçando todos os presentes.

Então veio o despertar.

Fazendo do chão o seu palco, o Looping: Bahia Overdub deu um reboot na noite, com um arrepiante mix de poesia, ativismo e dança. Iniciada sem muito alarde, como uma simples roda de dança, a performance do grupo – que atuou como um sound system ambulante, com MC, DJ e caixas de som iluminadas – foi crescendo aos poucos até se transformar numa catarse coletiva, ao som de axé, trap e funk, deixando um rastro de corpos suados pelo caminho, entre eles o do DJ Coni, que pôde ser visto se acabando atrás do multitrio elétrico.

Com a ingrata tarefa de seguir esse desfile, os Ninos Du Brasil retomaram o palco com energia punk. Sem o mesmo balanço do LBO, a dupla – disfarçada com máscaras e pinturas – fez o seu discurso com força, repassando o delirante álbum “Vida eterna” em alta intensidade, no momento mais próximo de um show de rock de toda a noite. Seu batuque industrial combinou, de passagem, com a entrada em cena da tradicional escola Vizinha Faladeira. Através dela, o enredo, o conjunto, a harmonia, as alegorias, os adereços e a fantasia de 36 dias de sons e imagens inusitados acabaram em samba.

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Sobre blogmultiplicidade

O Multiplicidade_Imagem_Som_inusitados é um festival de performances audiovisuais que acontece desde 2005 no Rio de Janeiro e que mostra ao público um amplo repertório de atrações no Oi Futuro Flamengo e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O seu principal conceito é unir em um mesmo palco arte visual e sonoridade experimental.

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