Sobre o Grivo e suas engenhocas musicais

O Grivo é um projeto pelos músicos Nelson Soares e Marcos Moreira, cujos trabalhos passam abrangem desde trilhas para artistas das mais diversas mídias, a concertos, instalações e performances, com variadas perspectivas de improvisação e utilização de equipamentos eletrônicos em áudio e vídeo.

Fundado no ano de 1990 O Grivo realizou seu primeiro concerto em Belo Horizonte, iniciando suas pesquisas no campo da “Música Nova”. Interessados na expansão do seu universo sonoro e na descoberta de maneiras diferentes de organizar suas improvisações, o duo vem desenvolvendo sua linguagem musical tendo por base a pesquisa sonora em materiais e objetas dos mais variadas texturas e formatos.

Em função dessa busca por “novos” sons e por possibilidades diferentes de orquestração e montagem, O Grivo trabalha com a pesquisa de fontes sonoras acústicas e eletrônicas, com a construção de “máquinas e mecanismos sonoros”, e com a utilização não-convencional de instrumentos musicais tradicionais através de modificações e deturpações de suas funcionalidades.

Em consequência desta pesquisa, que leva ao contato com os objetos e materiais mais diversos, cresce a importância das informações visuais e da sua organização nas montagens do grupo. A isto se soma um diálogo, também ininterrupto, com o cinema, vídeo, teatro e a dança. Nas instalações / concertos o espaço de fronteira e interseção entre as informações visuais e sonoras é o lugar onde se constrói nossa experiência com conceitos como textura, organização espacial, sobreposição, perspectiva, densidade, velocidade, repetição, fragmentação, etc.

A proposição de um estado de curiosidade e disposição comtemplativa para a escuta e a discussão das relações dos sons com o espaço são as idéias principais sobre as quais se apóiam os trabalhos do grupo.

Com engenhocas bem-humoradas e aparentemente precárias, O Grivo pertence ao seleto grupo de artistas sonoro-visuais brasileiros, como o coletivo Chelpa Ferro ou Paulo Nenflidio, bem inseridos no contexto das artes plásticas e cujas obras incluem o uso de aparatos inusitados.

Diferentemente desses, porém, graças, em parte, à formação musical de seus integrantes, as obras d’O Grivo priorizam a sonoridade onde, embora o efeito visual esteja longe de ser casual, a imagem é consequência da dimensão musical.

Os percursos sonoros que criam, nas palavras da dupla, “criam, além de uma nova maneira de ouvir, uma nova maneira de ver os mecanismos de produção do som”.

O duo notabilizou-se num primeiro momento pelas produções musicais realizadas para outros artistas, como Cao Guimarães, Lucas Bambozzi, Rivane Neuenschwander e Valeska Soares, entre outros. O grande apelo visual de suas instalações, contudo, fez com que a dupla passasse a ser reconhecida pela qualidade plástica, e não apenas sonora, de suas criações, a partir principalmente da exposição Antarctica Artes com a Folha (1996).

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