Trilha Original?

Quando escreveu o roteiro para Man with Movie Camera, Dziga Vertov escreveu indicações que compunham a trilha sonora, a ser executada por um pianista ao acompanhar a projeção. Em 1996 o norueguês Geir Jenssen utilizou as anotações na composição de novas músicas para o filme. A NYU utiliza trechos do documentário russo para os exercícios de sonorização da faculdade.

E na próxima terça feira nós veremos 11 músicos no palco do Oi Casagrande executando ainda outra trilha original. Mas com tantas versões, popularidade, e tempo de história, qual delas é original para você?

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Todos os sons do silêncio

cinematic camera cover


Filme russo de 1929 ganha trilha sonora da Cinematic Orchestra e vira DVD

O que são alguns meses de atraso perto de 75 anos de silêncio? Se o querido zine-leitor se perdeu em meio a zilhões de lançamentos musicais no segundo semestre de 2003, não fique triste. Só andróides com Inteligência Artificial e muita memória RAM poderiam acompanhar TUDO o que chega às lojas. Portanto, junte-se a nós e seja, enfim, apresentado a um dos melhores discos (e DVDs) do ano passado: “Man with a movie camera”, no qual o precioso grupo inglês The Cinematic Orchestra “musicou” um clássico do cinema, o filme (mudo) russo “Man with a movie camera”, dirigido pelo polonês Dziga Vertov em 1929.

O disco e o DVD (da sagaz Ninja Tune) são importados, mas o filme, com o nome “Um homem com uma câmera”, chegou aqui em DVD da Continental (esgotado na maior parte dos sites de venda) e na caixa “O cinema revolucionário soviético”.

No filme, Vertov, um dos cineastas preferidos de Lênin, dá um start no cinema-verdade e retrata um dia na outrora poderosa União Soviética. Dividido em seis temas, ele mostra os trabalhadores nas ruas, nas fábricas e em seus momentos de lazer. São imagens deslumbrantes, com cortes, telas divididas e outras técnicas de edição que estavam muito além do seu tempo. Pergunte ao seu amigo cinéfilo que ele vai te explicar isso bem melhor.

Além de todas as suas qualidades, “Man with a movie camera” tem ritmo. E é justamente aí que entra a Cinematic Orchestra.

Há ritmo e repetição no filme. E isso é fantástico – declarou em entrevista à BBC o DJ, produtor e fundador da banda, J. Swinscoe.

Ora, a Cinematic Orchestra ganhou fama e passou a ser cultuada por causa do seu som, ahn, cinematográfico, espaçoso, aberto, meio soul, meio dark. Misturando músicos “de verdade” com samplers e scratches, o CO é uma banda de jazz eletrônico. Um jazz bem free, diga-se de passagem.

E foi com essa credencial que o grupo foi chamado pelos organizadores do Festival de Cinema do Porto, em 1999, para essa ambiciosa aventura: botar som no silêncio e fazer uma apresentação ao vivo acompanhando as imagens do filme.

Ficávamos dentro do estúdio olhando o filme numa televisão bem pequena enquanto buscávamos inspiração para as músicas – conta Swinscoe numa entrevista incluída no DVD.

O resultado ficou tão bom que, além de palmas, o show ganhou disco, DVD e gerou uma turnê na qual o CO está até agora. Para quem não tem milhas ou milhares de reais acumulados e não pode ir atrás da banda, a melhor opção é mesmo ver o DVD.

Ele traz o filme, na íntegra, já com o som do CO ao fundo, num casamento perfeito: o som grandioso da Cinematic Orchestra inserido nas imagens de Vertov como se tivesse nascido assim, seja no enterro “embalado” pela atmosfera sombria de “Evolution” ou nas batidas quebradas de “Work it” acompanhando o frenético ritmo de trabalho das operárias russas.

“Man with a movie camera”, o DVD, traz também trechos de um show da Cinematic Orchestra em Londres e o vídeo de “All that you give” (do disco-irmão “Every day”, com a participação da lendária cantora Fontella Bass). O silêncio nunca soou tão bem.

Matéria originalmente publicada pelo jornalista Carlos Albuquerque no Rio Fanzine (Jornal OGLOBO), em 2004.

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