A Máquina de Música

A performance Máquina de Música é constituída de 10 peças improvisadas, onde o diálogo entre os músicos e mecanismos de suas máquinas sonoras formam um verdadeiro desenho rítmico através de improvisações musicais. Cada uma das peças lida com abordagens distintas dos parâmetros musicais fundamentais como tempo, ritmo, timbre, estrutura formal, melodia, etc..

Essa obra se dá através de improvisações sonoras com instrumentos de percussão, cordas e sopros, suas “máquinas sonoras”, instrumentos virtuais, sensores, objetos do dia a dia, acompanhado de imagens em vídeo criadas pelo artista plástico Cao Guimarães.

Cada uma dessas peças lida de maneira diferente com questões como o diálogo entre a estrutura musical e o acaso, a construção de um espaço “escultural” por meio do som e, ainda, as relações entre som e imagem a partir de uma mesma ideia.
Além destes equipamentos, serão utilizados no concerto vários instrumentos acústicos e eletrônicos acompanhados por imagens em vídeo das próprias máquinas gravadas pelo cineasta e artista plástico Cao Guimarães, servindo de guia para a regência sonora da dupla.

Confira aqui algumas imagens fresquinhas de hoje!

Sobre o Grivo e suas engenhocas musicais

O Grivo é um projeto pelos músicos Nelson Soares e Marcos Moreira, cujos trabalhos passam abrangem desde trilhas para artistas das mais diversas mídias, a concertos, instalações e performances, com variadas perspectivas de improvisação e utilização de equipamentos eletrônicos em áudio e vídeo.

Fundado no ano de 1990 O Grivo realizou seu primeiro concerto em Belo Horizonte, iniciando suas pesquisas no campo da “Música Nova”. Interessados na expansão do seu universo sonoro e na descoberta de maneiras diferentes de organizar suas improvisações, o duo vem desenvolvendo sua linguagem musical tendo por base a pesquisa sonora em materiais e objetas dos mais variadas texturas e formatos.

Em função dessa busca por “novos” sons e por possibilidades diferentes de orquestração e montagem, O Grivo trabalha com a pesquisa de fontes sonoras acústicas e eletrônicas, com a construção de “máquinas e mecanismos sonoros”, e com a utilização não-convencional de instrumentos musicais tradicionais através de modificações e deturpações de suas funcionalidades.

Em consequência desta pesquisa, que leva ao contato com os objetos e materiais mais diversos, cresce a importância das informações visuais e da sua organização nas montagens do grupo. A isto se soma um diálogo, também ininterrupto, com o cinema, vídeo, teatro e a dança. Nas instalações / concertos o espaço de fronteira e interseção entre as informações visuais e sonoras é o lugar onde se constrói nossa experiência com conceitos como textura, organização espacial, sobreposição, perspectiva, densidade, velocidade, repetição, fragmentação, etc.

A proposição de um estado de curiosidade e disposição comtemplativa para a escuta e a discussão das relações dos sons com o espaço são as idéias principais sobre as quais se apóiam os trabalhos do grupo.

Com engenhocas bem-humoradas e aparentemente precárias, O Grivo pertence ao seleto grupo de artistas sonoro-visuais brasileiros, como o coletivo Chelpa Ferro ou Paulo Nenflidio, bem inseridos no contexto das artes plásticas e cujas obras incluem o uso de aparatos inusitados.

Diferentemente desses, porém, graças, em parte, à formação musical de seus integrantes, as obras d’O Grivo priorizam a sonoridade onde, embora o efeito visual esteja longe de ser casual, a imagem é consequência da dimensão musical.

Os percursos sonoros que criam, nas palavras da dupla, “criam, além de uma nova maneira de ouvir, uma nova maneira de ver os mecanismos de produção do som”.

O duo notabilizou-se num primeiro momento pelas produções musicais realizadas para outros artistas, como Cao Guimarães, Lucas Bambozzi, Rivane Neuenschwander e Valeska Soares, entre outros. O grande apelo visual de suas instalações, contudo, fez com que a dupla passasse a ser reconhecida pela qualidade plástica, e não apenas sonora, de suas criações, a partir principalmente da exposição Antarctica Artes com a Folha (1996).

Impressões de Ryoichi Kurokawa e DJ Filipe Mustache

Ryoichi Kurokawa – Imagens, Música e edição ao vivo

DJ Filipe Mustache (FORNO) – DJ Set de encerramento

Dia 27 de setembro foi dia da segunda edição do Multiplicidade de 2012, apresentando pela primeira vez o japonês Ryoichi Kurokawa no Rio de Janeiro com a sua performance Rheo, uma espécie de performance-cinematográfica tendo como tema a passagem do tempo e sua ação sobre paisagens e a vida em geral.

Vencedora de diversos prêmios internacionais, essa performance de Kurokawa utiliza uma estrutura de três telas com proporções de 9:16 (formato widescreen  só que em pé) para criar essa narrativa acompanhada de uma trilha sonora abstrata e minimalista sem nenhuma batida pré-concebida e totalmente manipulada pelo artista ao vivo, como uma espécie de Phillip Glass menos etéreo, utilizando glitches sonoros eletrônicos em diversas camadas.

Rheo iniciou com silêncio absoluto e com suas três telas sem projeção, dando sequência sons de queda d’água, pássaros e de um rio capturados in loco pelo próprio artista, formando uma verdadeira paisagem audiovisual. Cada tela apresentava um elemento distinto, com suas camadas de áudio isoladas e sobrepostas.

De modo quase abrupto, essas paisagens se transformavam em outros elementos visuais gráficos manipulados digitalmente pelo artista. Imagens de montanhas, vulcões e diversas paisagens abertas sofriam essa interferência pré-programada executada ao vivo, e reagiam de forma completamente orgânica com a música regida por Kurokawa, ora de forma lenta e ora com um time-lapse de horas de captura reduzidos a poucos segundos de exibição.

A justaposição de imagem e som criava a narrativa da peça, onde estes elementos referenciavam espaço e tempo para gerar propositalmente um emaranhado de informações simultâneas e sobrepostas. As próprias amplitudes das ondas sonoras aplicavam movimentos às imagens e, consequentemente, geravam novos elementos visuais.

Ryoichi visitou ao longo de 45 minutos locais naturalmente bucólicos e interessantes. O próprio artista dotado de uma câmera full hd em mãos foi responsável por capturar essas imagens, como cachoeiras e rios do interior do Japão e as montanhas de formação vulcânicas do norte da Islândia, terminando com uma imagem estática nas três telas do horizonte da cidade de São Paulo.

Rheo pode ser observada como uma narrativa que remete ao clássico do cinema experimental Koyaanisqatsi* (dirigido por Godfrey Reggio e com trilha sonora do prórpio Phillip Glass), em uma espécie de atualização em formato de performance para novos tempos. A idéia central é de que estamos em constante mudança em uma avalanche de informação, sons, texturas orquestradas pelas mãos do tempo.

Após duas apresentações de Rheo, o DJ Filipe Mustache (FORNO) comandou sua festinha no primeiro nível do Centro Cultural Oi Futuro, comemorando também seu aniversário. De modo super confortável e harmônico, as mais de 200 pessoas presentes acompanharam um set que ia do disco funk ao house, mixados especialmente para a ocasião.

* Agradecimentos especiais ao Chico Dub pela referência.