D-Fuse no Rio

O D-Fuse já se apresentou na maioria dos grandes festivais de arte eletrônica e com artistas renomados como Steve Reich, Scanner e tambem já assinaram a direção de arte/ projeções da turnê de Beck.

Pela 2ª vez no Brasil – fizeram uma das edições especiais Festival Multiplicidade no teatro Oi Casa Grande para 1.000 pessoas junto com outros artistas como Peter Greenaway, The Cinematic Orchestra, AntiVj e outros.

Desta vez eles estão filmando em FULL HD para dois de seus projetos audiovisuais (Live cinema e instalação A/V): Pathways e Taxi Drivers, seguindo uma linha de produção que já percorreu alguns lugares do mundo. A ideia é expor estas instalações no Oi Futuro, do lado de fora do teatro em algumas projeções e telas LCD espalhadas ao do do espaço.

As filmagens do Rio tambem estarão expostas no centro cultural.

Em suas performances audiovisuais, o D-Fuse insere o público em multi-camadas visuais formadas a partir de imagens tanto do mundo real como gráficas gerados por computador. A música para cada projeto é feita singularmente, e oscila entre densas camadas harmônicas de som para criar padrões rítmicos abstratos e hipnotizantes.

Para finalizar a noite do dia 29/11, Matthias Kispert (responsável pelo áudio do D-Fuse) será o seu guia musical, convidando os presentes a viajar através de paisagens sonoras e instrumentais criadas por ele.

Quem é o D-Fuse?

O D-Fuse é um coletivo de artistas audiovisuais baseado em Londres, que usam tecnologias emergentes criativas para explorar questões sociais e ambientais. Fundada em meados dos anos 90 por Michael Faulkner junto à outros artistas interdisciplinares, o D-Fuse explora diversas mídias, como multi-telas, documentários experimentais, fotografias e instalações audiovisuais arquitetônicas.

Amplamente reconhecido como pioneiros da cultura do VJ, D-Fuse editou o livro VJ: Audiovisual Art + VJ Culture em 2006.  A sua prática atual inclui apresentações ao vivo em multi-ecrã desempenhos audiovisuais, documentários experimental, shorts HD, e a arquitectura temporária das instalações. Agora na vanguarda do gênero emergente de Live Cinema, a relação fundamental entre o som ea imagem sustenta todo o trabalho de D-Fuse.

As investigações urbanas do D-Fuse são inspiradas em psicogeografia, tendo como foco conflitos sociais e ambientais que surgem de espaços de convívio público, observando também aspectos pessoais e emocionais das cidades. Seus vídeo Brilliant City [2004] e as performances de live cinema Latitude [2007], Particle [2009], e Endless Cities [ongoing] apresentam visões diferentes e de diversas metrópolis contemporâneas e sobre como sua população interage e a modifica o que acontece alí.

O trabalho colaborativo é o eixo central do D-Fuse, onde o coletivo foi levado a trabalhar com artistas como BeckScanner, Burnt Friedman e Swayzak, asim como o compositor clássico contemporâneo Steve Reich junto à London Symphony Orchestra, e o grupo clássico italiano Alter Ego.

A carga sonora dos diversos projetos fica por conta de Matthias Kispert, cujo trabalho envolve gravações de paisagens sonoras, interferências eletromagnéticas e influencias musicais de diversas culturas.

FESTIVAL MULTIPLICIDADE 2012 – D-FUSE
29 de Novembro de 2012 

Apresentação> D-FUSE (UK) – Tekton
Oi Futuro Flamengo | TEATRO | 20h | R$ 20

DJ Matthias Kispert  (AUS)
Oi Futuro Flamengo | 1º NÍVEL | 21h às 23h | Gratuito*
* Entrada até as 22h30 impreterivelmente

Oi Futuro Flamengo www.oifuturo.org.br
Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo
Telefone: (21) 3131-3060

Sobre Tomas Baford

Tomas  Baford começou a tocar bateria aos 10 anos, mas em algum momento começou a comprar sintetizadores vintage, samplers e seqüenciadores. Ele lentamente começou a discotecar e produzir música onde, desde então, vem fazendo uma variedade de música produzida eletronicamente sozinho e com parceiros diferentes (fx. Kasper Bjorke) e em várias gravadoras importantes.

Depois de alguns anos na música eletrônica ao vivo, a clubscene travando lentamente sobre ele novamente, e ele começou a banda Whomadewho com dois colegas dinamarqueses, onde ele toca bateria e produz. Em geral, você poderia dizer que sua carreira tem sido bastante diversificada – basicamente, ele tem vindo a fazer de tudo, desde techno ambiente de pop japonês.

Para Tomas Barfod o kickstart veio com o ácido ‘Tomboy’ / discoteca 12 séries” na Gomma registros, logo depois veio lançamentos em Get Physical, Kitsune e Turbo, onde ‘Samba’ e ‘IK Guitarra” tornaram-se hit dos “clubbangers”.

Tomas é também um remixer muito solicitado e tem feito remixes de diversos artistas, tais como Bloc Party, Franz Ferdinand, Gorillaz, Lopazz, telex, Chromeo, Ásia Argento só para citar alguns.

Como DJ, tocou clubes lendários como Fabric (Londres), Panorama Bar (Berlin), Bar 25 (Berlin), Goa (Roma), Magazini Genarali (Milan), Razzmatazz (Barcelona), Lux (Portugal), Social Club (Paris).

Tomas foi envolvido em muitos projetos. O bem sucedida é mais Whomadewho, que já lançou três álbuns e vem percorrendo o mundo inteiro a partir de Nova Iorque para Sydney e foi jogar dos clubes mais importantes e festivais como o Sonar, Glastonbury, Melt, Roskilde.

SERVIÇO
DJ set Tomas Baford @ Multiplicidade

Oi Futuro Flamengo | 1º NÍVEL | 21h às 23h | Gratuito
Entrada até as 22:30 impreterivelmente

Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo Rio de Janeiro – RJ, 22220-010
(0xx)21 3131-3060

As Profecias de Cage por Hermano Vianna

As profecias de Cage *

O compositor, que teria completado 100 anos em setembro, sentenciou em 1927: “A América Latina é a terra do futuro”.

John Cage teria feito 100 anos no dia 5 de setembro passado. Morreu há uma década.

O mundo ficou bem mais previsível sem os desafios radicais que ele nos lançava. Vivienne Westwood (da camiseta do Assange) certa vez declarou: “Um mundo sem Malcolm McLaren seria como um mundo sem Brasil”. Acrescento: um mundo sem o Brasil (que eu quero) seria como um mundo sem John Cage. Então (eu quero) John Cage está vivo. Sério: muita coisa que ele profetizou há quase um século, e parecia loucura, já é nosso cotidiano. Ou quase.

Em 1927, aos 15 anos, Cage ganhou prêmio em concurso de oratória. Seu discurso no Hollywood Bowl, representando a Los Angeles High School, se intitulava “Outros povos pensam” e continha profecia bombástica (pré-Zweig): “A América Latina é a terra do futuro”. Termina usando o termo “americanos” para se referir a latinos e anglo-saxões juntos, uma união que ensinará ao mundo “a ciência de apreciar, respeitar e simpatizar com os Outros”.

Não era totalmente ingênuo. Atacava a ocupação da Nicarágua e os empréstimos dos bancos americanos para a Bolívia. Aprovava o uso do poder militar do Tio Sam para defender a Venezuela da Alemanha ou Cuba da Espanha. O Norte poderia ensinar autogoverno, soberania para o Sul. Lembro: era texto de adolescente. Mesmo assim continha toques geniais. Surpreende especialmente o parágrafo que pede para os Estados Unidos calarem a boca, deixarem de produzir qualquer som: “Nós deveríamos ficar quietos e silenciosos, e teríamos a oportunidade de aprender que outros povos pensam”.

Talvez tenha sido a primeira vez em que Cage anunciou a importância do silêncio. Como vai nos ensinar depois, em inúmeras obras (incluindo o livro “Silêncio”), silêncio não é ausência de sons. Em entrevista de 1966, tudo fica claro: “Silêncio é todo som produzido sem a nossa intenção. Não há algo como silêncio absoluto. Portanto o silêncio pode muito bem incluir barulhos, e o volume aumentará no decorrer do século XX. O som dos jatos, das sirenes etc. Por exemplo, agora, se ouvíssemos os sons vindos da casa ao lado, e não estivéssemos falando nada, diríamos que isso seria parte do silêncio, não diríamos?”

Ficar em silêncio nos faz ouvir o barulho do mundo como música. Com Cage, nossos ouvidos mudaram definitivamente. E o campo musical se ampliou ao infinito, ao acaso.

O texto mais influente de Cage foi escrito dez anos depois do discurso do Hollywood Bowl. Chama-se “O futuro da música: credo”. Começa com a seguinte profissão de fé, hoje realidade banal: “Acredito que o uso do barulho para fazer música vai continuar e aumentar até que cheguemos à música produzida com a ajuda de instrumentos elétricos”. Repare bem: era 1937, as guitarras elétricas eram invenções nerds, não havia ainda sintetizadores. Cage estava fascinado pelo “som de um caminhão a 50 milhas por hora” ou pela “estática entre estações”. Não queria usar esses sons como efeitos, e sim como instrumentos musicais. Conseguiu. Fez mix sonoro em 1952 ou obra com agulhas de discos em 1962, algo que no “futuro” virou rotina dos DJs de hip-hop, techno, house até “Gangnam style”.

Como perguntou o crítico Peter Yates: Cage “é uma inteligências mais decisivas de nosso século criativo, uma mente tão não convencional que logo sua própria não convenção deverá ser a convenção?” A resposta é sim, há bastante tempo. Exemplo dado pela historiadora da arte Barbara Rose: “Para traçar a genealogia da arte pop, é preciso conhecer a atmosfera na qual ela nasceu. Essa atmosfera foi gerada principalmente pelo compositor John Cage, cujos ensaios e palestras têm sido instrumentais para formar a sensibilidade de alguns dos mais importantes compositores, coreógrafos, pintores e escultores jovens trabalhando hoje.”

Cage não desperdiçou seu tempo no mundo. Ele não trabalhava com a negatividade, com a reclamação. (Mesmo pensadores interessantes — como Nicolas Bourriaud — que tentam se distanciar dos clichês do discurso da “dimensão crítica”, acabam elogiando os artistas que “resistem” ou “confrontam”.) Seguindo Charles Ives, arte “útil” é aquela que fortalece (inclusive fisicamente) as pessoas, tornando-as capazes de perceber mais do que perceberam até agora.

Minha coluna também tem missão positiva, de fortalecer gente que abre as portas da nossa percepção, principalmente quem tem pouco espaço nos jornais. Mesmo falar de Cage é desvio de rota. Com causa nobre: todo este texto é para fazer propaganda do Festival Multiplicidade, que na próxima quinta-feira apresentará sonatas de Cage tocadas pelos pianos preparados da PianOrquestra, do Rio, em parceria com Pedro Rebello e Justin Yang, do Centro de Pesquisa em Artes Sonoras, de Belfast.

Texto integral da coluna de Hermano Vianna, publicada no sábado no jornal O Globo.

Pedro Rebelo sobre o espetáculo “Tributo a John Cage”

Pedimos para Pedro Rebelo, diretor do SARC e um dos nossos artistas de amanhã, falar um pouquinho mais sobre essa inusitada performance de amanhã.

A apresentação será parte da programação do Festival Multiplicidade 2012 no Oi Futuro Flamengo (22/11 às 20h) e vamos ter 2 pianos preparados seguindo as bulas de Cage.
Claro que existem algumas interpretações pessoais do manual de preparação de Cage, mas a três meses estão sendo realizados ensaios e debates com os 7 músicos envolvidos entre o Rio e Belfast.

No palco teremos estes 7 músicos virtuosos tocando individualmente e juntos, parte do Brasil (PianOrquestra) e parte do Pedro Rebelo, diretor do SARC, um Media Lab sonoro ligado a Queen’s University de Belfast incrivel que foi criado com a supervisão de Karlheinz Stokenhausen.

O repertório será baseado em Cage e seus discípulos: Arvo Part, Ligeti, Paert mas terão tambem releituras autorais inspirados nos preceitos dele.

No campo visual, tambem seguindo a inspirações das autorais partituras de Cage teremos o americano tambem ligado ao SARC, Justin Yang  se inspirando e recriando com novas tecnologias uma versão contemporânea de grafias musicais que servirão aos músicos ao longo do concerto. Um trabalho de webwork com animações geradas ao vivo.

O repertório do show (que ainda pode ter alguma pequena adaptação):

PianOrquestra – Perk – 4’31” (Mako, Claudio, Marina, Priscilla, Anne)
PianOrquestra Medley (Mako, Claudio, Marina, Priscilla, Anne)
Pedro Rebello – Netgraph – 10′ (Mako, Claudio, Antonio, Priscilla, Anne, Tatiana)
Justin Yang – Webworks – 10′ (Mako, Claudio, Antonio, Priscilla, Anne, Tatiana)
John Cage – Sonata I – 3′ 04″ (Antonio)
John Cage – Sonata V – 1’49” (Marina)
John Cage – Sonatas XIV e XV – 3’21” (Claudio)
Arvo Pärt – Für Alina – 1’29” (Claudio)
György Ligeti – Musica Riccercata – 3’50” (Marina)
Earle Brown – December 1952 – 2 (Antonio)
Peça colaborativa entre Pedro, Justin, pianOrquestra (Mako, Antonio, Priscilla, Anne, Tatiana e Claudio Dauelsberg)

Quem foi John Cage?

In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-21].
Texto original disponível em http://www.infopedia.pt/john-cage

John Cage foi um compositor norte-americano nascido em 15 de setembro de 1912, em Los Angeles, Califórnia.

Um dos mais controversos e influentes compositores do séc. XX, é considerado o pai do indeterminismo, corrente inspirada na filosofia budista Zen, que rejeita os princípios convencionais da criação musical, em favor de uma abordagem radical baseada na improvisação e na construção aleatória de sons.

Estudou composição com Henry Powell, Adolph Weiss e Arnold Schoenberg. Nos anos 30 deu início a duas das suas dedicações para toda a vida: as companhias de dança e acomposição para grupos de percussão. Durante esta década compôs Imaginary Landscape No. 1, uma das suas mais conhecidas obras.

Constructions (1939, 1940, 1941) foram três trabalhos para percussão, em que são utilizados objetos como latas de metal ou peças de automóvel.

Em 1938, inovou ao colocar vários objetos como parafusos e borrachas entre as cordas do piano paramodificar os sons do instrumento e assim sugerir uma orquestra de percussão. Este artifício ficou patente em trabalhos como Amores (1943) e Sonatas And Interludes (1948).

Outros trabalhos na década de 40 incluíram Imaginary Landscape No. 2 (1941) e The Perilous Night (1944),que foi composta para a companhia de dança do coreógrafo Merce Cunningham. Muitas das suas obras nosanos 40 foram compostas para acompanhamento de dança. O objetivo passava por produzir música e dançaseparadamente, sem conhecimento mútuo, até se juntarem no espetáculo. Esta ideia foi desenvolvida naapresentação simultânea das obras Aria e Fontana Mix (as duas de 1958).

Em 1949 foi-lhe atribuído um prémio pela Academia Nacional de Artes e Letras.

Em finais dos anos 40 sofreu a influência da filosofia budista Zen. Reduziu a importância musical docompositor, preferindo buscar a música no meio ambiente. Utilizou o silêncio como elemento musical.

Em Music Of Changes (1951) para piano, combinações de notas ocorrem numa sequência determinada pelosom de moedas agitadas, de acordo com o livro chinês Book Of Changes, Yijing.

Em Imaginary Landscape No. 4 (1951), o som provém da transmissão aleatória de doze aparelhos de rádio.Em 4’33” (1952), os executantes sentam-se silenciosamente perante os instrumentos, e os sons soltos quesão produzidos pelo ambiente constituem a música.

Outro trabalho que se destaca é Theatre Piece (1960).

Os seus trabalhos influenciaram um grupo de compositores de Darmstdt (onde Cage ensinou na década de50), incluindo Karkheinz Stockhausen, e as técnicas aleatórias de Lutoslawski. Por sua vez, Cage ganhou ointeresse pela música eletrónica – patente em Williams Mix (1952), Fontana Mix (1958), e Cartridge Music(1960) -, e em partituras gráficas, nas quais a notação musical convencional é substituída por símbolosespecialmente elaborados – tal como em Music For Carillon no. 1 (1952) – ou por imagens preexistentes -como em Renga (1976), onde são utilizados desenhos de Henry David Thoreau.

Nos últimos cinco anos de vida, Cage compôs mais de 60 obras, cujos títulos refletem o número deexcutantes envolvidos., tal como em Four, para quarteto de cordas (1989), Twenty-Six, para 26 violinos(1992), e 108, para uma grande orquestra (1991).
Os seus livros, compostos de conferências e contos, assumem por vezes os princípios de construçãoaleatória da sua música, destacando-se Silence (1961), A Year From Monday (1967), Empty Words (1979), eX (1983).

Em 1968 foi eleito para o Instituto da Academia Americana e para o Instituto de Artes e Letras. Em 1986recebeu o Doutoramento Honorário em Artes pelo Instituto das Artes da Califórnia.

Faleceu em Nova Iorque, a 12 de agosto de 1992.

PianOrquestra & Pedro Rebelo + Justin Yang – Tributo a John Cage

O Festival Multiplicidade apresenta amanhã um tributo ao centenário do nascimento do compositor americano John Cage, com os cariocas do PianOrquestra, ao lado de Pedro Rebello e Justin Yang, membros do SARC (Sonic Arts Research Centre), centro de pesquisas fundado sob a direção de Karlheinz Stockhausen, localizado em Belfast (Irlanda do Norte). Esse resgate da obra de Cage no concerto-homenagem pretende apresentar a bula de experimentações da música eletroacústica.

O programa destacará o chamado piano preparado e as diferentes abordagens de música indeterminada, que são elementos musicais decididos na hora da execução – duas contribuições da mente de vanguarda de Cage. Na hora, obras serão integradas num programa de criação de uma peça colaborativa exclusiva para o concerto. Serão sete músicos tocando dois pianos simultaneamente no palco do Multiplicidade.

Além de reverenciar as inovações de John Cage através de suas obras, o repertório – decidido ao longo dos últimos meses em uma troca constante entre Rio e Belfast – também traz peças de discípulos do compositor, como Arvo Part e Gyorgy Ligeti. No espetáculo, enquanto as obras são apresentadas, o americano Justin Yang cuidará do design visual gerando em tempo real grafias musicais inspiradas em partituras de Cage.

Quem fechará a noite será o DJ dinamarquês Tom Barfod*, integrante da banda WhoMadeWho, que traz músicas de seu novo trabalho solo Salton Sea.

* “A apresentação do Tomas Barfod conta com o apoio do Instituto Cultural da Dinamarca, instituição sem fins lucrativos ligada ao Ministério de Cultura da Dinamarca. Esta apresentação também celebra o lançamento da programação de música eletrônica da plataforma Dinâmica Dinamarquesa, que apresentará músicos dinamarqueses para o público brasileiro nos próximos anos, criando assim novas colaborações entre os artistas de ambos os países” diz Batman, curador do festival.

SERVIÇO

Multi_04_2012 > PianOrquestra & Pedro Rebelo + Justin Yang (SARC)

Nível 7 – 20h: Apresentação no teatro

Nível 1 – 21h: DJ set com Tomas Baford

Dia 22 de novembro (quinta-feira)

Local: Oi Futuro do Flamengo – Rua Dois de Dezembro, 63 (Rio de Janeiro)

Horário: às 20h no teatro: PianOrquestra + Pedro Rebelo + Justin Yang

Entrada: R$ 20,00 (com meia-entrada)

Capacidade do teatro: 84 lugares a cada sessão

Censura: Livre

info@multiplicidade.com

Curadoria: Batman Zavareze

Doze perguntas para Marco Donnarumma

 

1_Como é a sua base até chegar a desenvolver esses projetos?

Trabalho desde 2004 no campo de live media e performance. Meu dia-a-dia compreende em computadores, corpos, sons e imagens. Nos últimos cinco anos, venho criando performances que envolvem novas medias, instalações audiovisuais, e também participando criativamente em sistemas como cenários interativos para casas de espetáculos. Assim, venho desenvolvendo minhas próprias ferramentas para que a mensagem que quero passar seja feita da forma mais transparente, então eu gosto de criar meu próprio software usando ferramentas opensource e gratuitas e, posteriormente, criar dispositivos que posso aplicar em meu corpo.

2_Você pode falar um pouco da importância do Goldsmiths Digital Studios e do SARC no seu trabalho?

GDS e SARC vêm sendo excelentes centros de pesquisas por anos, mas apenas agora nós estamos contribuindo para a troca e também colaborações entre projetos e performances. No GDS, eu faço parte da equipe de pesquisa, liderado pelo artista e professor Atau Tanaka, pesquisando novas maneiras de execução e também interação entre público e música. Nós estudamos design de novos instrumentos musicais tentando fazer uma conexão com biotecnologia, o que é a minha área de especialização, junto com Inteligência Artificial, de forma que desenvolvemos novas noções musicais. Já o SARC representa a vanguarda dentro da música e sua relação com a emoção. Pesquisadores como Benjamin Knapp (que foi para o Virginia Tech recentemente) e Miguel Ortiz (nosso colaborador) têm focado seus trabalhos no entendimento da emoção na performance musical. Nosso interesse comum está aplicado ao “Liminal Corpus”, uma nova performance biomedia que apresentaremos no Rio junto com Anna Weisling e Miguel.

3_Em geral, qual importância da Goldsmith Digital Studios e Sarc Media Lab como instituições comparados a outros laboratório pelo mundo?

Não acho a comparação algo apropriado, pois todos os centros pelo mundo são igualmente importantes. No entanto, a relevância do GDS e do SARC para o nosso campo – novas tecnologias para performance musicais – é algo que fica claro nos trabalhos que estamos desenvolvendo. Acredito que o aspecto mais valioso de trabalhar num centro como o nosso é a capacidade de se conectar com outras pessoas e compartilhar técnicas e ideias. Um ambiente acadêmico pró-ativo pode ser incrivelmente produtivo.

4_ Você pode explicar as tecnologias usadas na sua performance e quem as criou?

A ideia geral por trás da nossa pesquisa – seja no GDS, seja no SARC – é a visão de um corpo que sofre intervenções de tecnologias. No GDS, nós trabalhamos com uma variedade de novos instrumentos musicais, como o Xth Sense (meu instrumento biofísico), o Biomuse (uma das interfaces pioneiras desenvolvidas por Benjamin Knapp e Hugh Lusted e usada por mais de 20 anos nas performances de Atau Tanaka) e o Mogees (uma interface que reconhece movimentos e gestos criada por Bruno Zamborlin). O SARC é referência na pesquisa de ondas cerebrais e outros sinais emitidos pelo corpo que são usados para performances musicais.

5_ Há alguma descoberta acadêmica ou científica que pode ser usada em outras áreas, além da performance artística em si?

 O que acho fascinante nesse trabalho é a troca constante entre ciência e arte. As tecnologias que usamos vêm originalmente desses estudos científicos, e são modificadas nos nossos centros de pesquisa para se adequarem a um propósito artístico. Isso pode ser incrivelmente útil, e dá como retorno para ambos os campos (científico e artístico) uma ferramenta que, embora não tenho sido desenvolvida para esse propósito específico, pode ser usada em diferentes objetivos.

6_Qual o futuro da arte nesse campo de diálogo entre ciência e tecnologia?

Tecnologias serão em breve tão transparentes no nosso dia-a-dia (já são, de certa forma), que isso faz com que fique cada vez mais difícil estar de fora dessa interação entre nós, tecnologia e o mundo. Computadores vão desaparecer diante dos nossos olhos e estarão onipresentes no nosso meio – e talvez nos nossos corpos também. Espero que até que isso aconteça tenhamos desenvolvido outra linguagem criativa, diferente da que estamos adeptos hoje em dia. Uma gama de ideias que não precise mais do avanço tecnológico para mudar a maneira com que expressamos nossa criatividade, mas alguma coisa que nós realmente tenhamos que descobrir.

7_ No campo das novas possibilidades tecnológicas, não apenas na arte, o que te impressiona?

Sempre me questiono sobre o fato de que nós ainda não produzimos um avanço tecnológico provavelmente desde a invenção do telefone. Gravação de sons e sua reprodução (analógica e digital) é uma das últimas novas tecnologias inventadas. O resto é uma reelaboração de velhas ideias, que não afetam diretamente a maneira com que vemos e vivemos no mundo ao nosso redor. Hoje, por exemplo, um computador é como um abacus, mas com a capacidade de cálculo de milhões em um curto espaço de tempo.

8_ “Hypo Chrysos” é visualmente impactante e hipnotizante. Quais são as referências e inspirações por trás desse projeto?

Há uma referência clara ao Inferno de Dante Alighieri, da Divina Comédia – um texto que, com certa sátira, descreve a viagem de Dante pelo Inferno, Purgatório e Paraíso. Na visão de Dante, o inferno é formado por círculos onde, cada um, corresponde a um tipo de pecado, e cada um com sua punição. Em um dos menores círculos, ele encontra os hipócritas, para os quais a punição é andar sem direção, vestindo uma capa feita de aço.

9_ Você pode nos falar um pouco sobre o desenvolvimento da performance que será apresentada no palco do Happenings/Multiplicidade? Embora você use um equipamento de alta tecnologia, existe algo de primitivo e tribal na maneira como você se movimenta com as cordas e as pedras.

Sim, isso é recorrente nos meus trabalhos. A tecnologia fica de fundo para que o foco esteja na percepção e na experiência física do público diante da performance. O desenvolvimento é rápido e fácil. Eu sou um amante da performance artística e hoje é raro ver novas tecnologias aplicadas a esse conceito. Então achei que havia aí um território a ser explorado junto a novas tecnologias, ciência e som. Um dos desafios foi achar um equilíbrio entre os vídeos e a minha performance  no palco. O visual é desenvolvido para apoiar e se integrar, e não ofuscar.

10_ Seu corpo responde aos estímulos de maneiras diferentes a cada performance? Há diferenças de um show para outro?

 Definitivamente. O corpo é um sistema improvável, então existem muitos agentes que afetam o seu estado, como a temperatura do ambiente, fatores de stress internos, alimentação etc. Tenho que estar focado em resistir às contrações musculares durante o espetáculo, e se deixo meu corpo ser afetado por condições externas, a performance não acontece. Por outro lado, quando estou ansioso, fico com a circulação sanguínea elevada, o que torna o som mais alto e mais rápido. Como consequência, a música muda totalmente e se torna mais densa, enquanto diferentes texturas vão aparecendo. É aqui que está o ponto mais interessante da performance: tenho que estar preparado para controlar não só a dor, mas também os sensores e os mecanismos psicológicos ativados pelo esforço contínuo e intenso.

11_ Como são esses cansativos e dolorosos 20 minutos em ação? Assistindo, parece haver algo como uma auto-punição. Há dor em cada movimento, mas, por outro lado, há um sentimento de aliviar as sensações e emoções através dessa dor.

Os blocos de pedra pesam 30 kg no total. Não é um peso impossível de se carregar, mas se torna um pouco difícil depois de carregar por um determinado tempo. No começo, não é doloroso, mas, depois de 5 minutos de esforço, as cordas começam a queimar a minha pele, e nos 10 minutos seguintes a dor na coluna começa a ficar difícil de suportar. Cada passo aumenta a dor, mas, ao mesmo tempo, conduz para o alívio final depois de tanto esforço. Normalmente, no dia seguinte, sofro de febre muscular. Depois de tanto esforço, os músculos ficam rígidos, e por isso a dor, porém essa é uma forma de prevenir maiores danos, pois a adaptação ao estado normal, de volta, foi muito rápida. Cada movimento se torna doloroso, por isso um ensaio, por exemplo, tem que ser dois dias antes da performance em si. Meus movimentos não são concebidos para tocar música, mas apenas para mover as pedras. A música e o visual surgem do interior do meu corpo, em vez de serem controlados por ele.

12 – Como os seus movimentos e sons atingem o público? E como esse público responde durante o show? Há uma troca que influencie suas reações no palco?

 Penso que a interação com o público acontece de duas maneiras. Existe um lado emocional que permite que o público desenvolva uma empatia com o performer, simplesmente porque é evidente o esforço crescente durante a performance. E o outro lado é um pouco mais complexo. O som que sai dos meus movimentos é reproduzido por 8 speakers. Essa ressonância do corpo faz com que haja uma conexão do meu corpo com os corpos da plateia. E isso só acontece porque a música que estamos presenciando está sendo gerada por um corpo em movimento. No fim da estreia na Espanha, em dezembro do ano passado, algumas pessoas disseram que seus próprios braços doeram, porque eles foram contraindo seus músculos, durante o espetáculo, sem nem perceber. Isso foi tão interessante, que eu comecei a estudar esse fenômeno, e eventualmente juntar alguns estudos científicos de um trabalho chamado “Proprioception, effort and strain in Hypo Chrysos: action art for vexed body and the Xth Sense”.