De mãos dadas

unnamedO Multiplicidade se faz com Gente.

Gente espelho de estrelas
Reflexo do esplendor
Se as estrelas são tantas
Só mesmo o amor

Adilson, Adra, Adriana, Aïcha, Alberto, Alcíbano, Alex, Alexsander, Alvaro, Ana Beatriz, Ana Lucia, Ananda, Anatacha, Anderson, Anderson, André, Andre, Antoine, Antônio, Barbara, Batman, Bernardo, Brunna, Bruna, Bruno, Denise, Calbuque, Carla, Claudia,Claudio, Consuelo, Cristiana, Christina, D’angelo, Daniele, Danielle, Danilo, Diego, Douglas, Edson, Edson, Eliane, Eurico, Evandro, Fernanda, Fernando, Flavio, Francisco, Franck, Fugaz, Gabriela, George, Gilberto, Guaracy, Gustavo, Hamilton, Haroldo, Igor, Isis, Ismael, Jairo, Jandaira, Janice, João, João, João, Jorge, Jorge, Jose, José, José, José Augusto, José Carlos, Joseph, Joyce, Julio, Leandro, Leonardo, Leo, Leozito, Leticia, Leyanne, Luan, Luana, Luciana, Luciana, Magnovaldo, Marcele, Marcelo, Marciel, Marcio, Marcio, Maria Clara, Marco Antonio, Marco Antônio, Maria, Maria do Carmo, Maria Julia, Mariana, Mariluze, Matheus, Milton, Mirian, Monna, Nado, Nathalia, Pamela, Patricia, Pedro, Pedro, Phill, Rafaela, Raphael, Raquel, Reinaldo, Renata, Renata, Ricardo, Roberto, Roberto, Rodolfo, Rodrigo, Rodrigo, Rogerio, Rodrigo, Rodrigo, Roner, Rostand, Rubens, Sanannda, Sandro, Sara, Sergio Ricardo, Silvio Roberto, Siri, Susana, Suzana, Tatiana, Teitiane, Teresa Cristina, Teresinha, Thaissa, Thais, Thaissa, Thales, Thaysa, Theo, Thiago, Thiago, Victor, Vitor, Vivianne, Vilson, Vinicius, Yuri, Zelia, Zezé.

Gente espelho da vida
Doce mistério
Vida, doce mistério
Vida, doce mistério
Vida, doce mistério*

Todxs de mãos dadas. Resistindo. Existindo. Ninguém soltando a mão de ninguém.

Balanço da temporada:
> 78 dias
> 28 ações
> 30 mil espectadores

OBRIGADO!!!!!! QUE VENHA 2019!!!!!

*Inspirado em Caetano Veloso extraindo trecho da letra Gente de sua autoria.

A expansão dos sentidos pelas imagens de Phil Niblock e os sons de Tatá Ogan

Multi Colabora 8

Por Carlos Albuquerque
Fotos: Bleia Campos

Foi um contraste de grandes proporções. Exibido em três imensas telas numa das salas da Fundição Progresso, durante o ColaborAmérica, o filme “The movement of the working people”, de Phil Niblock, mostrava imagens da árdua rotina de trabalhadores no Brasil, México, China e Indonésia, com gente tecendo redes, quebrando pedras, pescando etc, tendo ao fundo um som minimalista e hipnótico. Em frente às telas, colchões gigantes espalhados pelo chão abrigavam e confortavam a plateia itinerante do local, ao longo das oito horas de projeção da obra, com gente curtindo, relaxando e até dormindo enquanto assistia ao filme. No escuro daquele supercinema alternativo, montado pelo Multiplicidade, criou-se uma curiosa contraposição de situações. Esforço vs descanso. Movimentação vs contemplação. Trabalho vs lazer.

Multi Colabora 1

A celebrada obra de Niblock já havia sido, parcialmente, apresentada – e discutida pelo autor – durante o começo da temporada do Multiplicidade 2018, no Centro Cultural Oi Futuro e no Lab Oi Futuro. Mas só dessa vez ela foi exibida em suas proporções devidas – telas lineares de 12 metros, fundo musical a pleno vapor -, fazendo jus ao gigantismo do trabalho do mestre norte-americano da arte sonora. Mistura de cinema expandido, retrato antropológico e música experimental, “The movement of the working people” foi gerado ao longo de mais de 20 anos de pesquisa e produção até chegar ao looping de oito horas exibido no ColaborAmérica. Foi uma gigantesca janela aberta para, sem trocadilhos, futuras colaborações entre os dois festivais.

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E após tanto trabalho, foi a vez da movimentação dos povos dançantes se instalar no encerramento do evento. Num espaço a céu aberto, a DJ Tatá Ogan, outra contribuição do Multiplicidade, esquentou a noite com uma apimentada seleção de grooves, da cumbia ao trap, do carimbó ao hip-hop. Através dela, a pista virou um breve espaço utópico, com a diversidade musical refletindo o olhar para o todo. Festas boas são assim.

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A fenda espaço-tempo aberta por ‘Chronostasis’

Chronostasis

Por Carlos Albuquerque
Fotos: Bleia Campos

No fim da tarde de sexta-feira, o movimento era frenético na Fundição Progresso por conta do ColaborAmérica, festival de novas economias da América Latina. Humanos subiam e desciam as escadas do local, entravam e saíam de salas de debate, conversavam e debatiam nos corredores em torno da área de alimentação, onde copos descartáveis eram condenados e o indefectível hamburguer artesanal – ícone gastronômico da cultura empreendedora – marcava presença. Num canto, perto de onde se apresentava a DJ Érica Alves, com seu grooves orgânicos, uma porta, entreaberta por cima de uma faixa onde estava escrito “Multiplicidade”, parecia destoar de tudo, dando entrada para uma sala, cercada por panos, completamente escura. Era como uma fenda para um outro universo, bem diferente daquele exterior, onde sons e imagens inusitados estavam prestes a se instalar.

De fato, pouco depois das 19h, essa sensação foi transformada em realidade – uma estranha realidade – com o início da performance “Chronostasis”, da dupla francesa Franck Vigroux, músico que passeia do metal às texturas eletrônicas, e Antoine Schmitt, artista especializado em instalações. Parceiros desde o começo da década, os dois vêm desenvolvendo um trabalho no qual suas especialidades se misturam num enigmático novelo audiovisual. “Chronostasis” – que pega o nome de um fenômeno neurológico, no qual o tempo parece pausar por alguns segundos – é o mais recente fruto dessa combinação e sobreposição de talentos.

Chronostasis 3

Por cerca de 40 minutos – talvez mais, talvez menos – Vigroux e Schmitt criaram um ambiente de profunda abstração, um buraco negro que parecia prestes a sugar todos os presentes, inclusive eles dois. Em torno da dupla, uma estrutura circular, em forma de planeta, com incontáveis satélites retangulares, girava sem parar, ora alongando, ora contraindo suas dimensões, enquanto uma sequência de sons e ruídos, que variavam de contemplativos a perturbadores, ricocheteava pelas paredes daquela caixa preta.

Então, de repente, tudo parou, restando apenas o som ambiente – a música para os ouvidos de John Cage. Os aplausos vieram, mas não a chegada das luzes. Só quando as portas foram abertas é que o mundo exterior, real (?), voltou a ser dominante. Nele, humanos seguiam movimentando-se pelo ambiente da Fundição, conversando, rindo e até dançando, apesar da chuva fina, ao som do DJ Nepal. A fenda aberta por “Chronostasis” tinha sido fechada. Mas o tempo, apesar da distração geral, continua a ser relativo.

Chronostasis 1

Uma noite de sons inusitados à mesa

Noise table 3

Por Carlos Albuquerque
Fotos: Francisco Costa

A mesa estava posta. Em cima dela, caixas de metal, blocos de madeira, pequenas chaves de fenda, apitos, sinos, chocalhos, um boneco amarelo, um celular, uma espécie de ratoeira e até mesmo uma língua de sogra. Foi com essa inusitada “louça” que o artista suíço Roland Bucher serviu porções especiais de barulho aos comensais presentes à performance “Noise table”, realizada em edição especial do Multiplicidade 2018 na Sede das Cias, na Lapa, no centro do Rio. A noite contou também com uma palestra do vídeoartista e escritor Raimo Benedetti em torno do seu livro “Entre pássaros e cavalos”, com a participação do diretor e roteirista Bebeto Abrantes.

Criação do próprio Bucher, a noise table é, como indica o nome, um instrumento musical em forma de mesa, que “toca” – ou faz barulho com – objetos colocados em sua superfície. Projeto de Bucher quando ainda era estudante do equivalente suíço ao ensino médio, a mesa atua como uma espécie de sampler e unidade de efeitos touchpad, programada em Max/MSP, uma linguagem bastante popular para criações audiovisuais. Obra em constante progresso, ela tem sido aperfeiçoada pelo artista desde então. “É um processo de aprendizado e evolução contínuo, inclusive no modo como utilizo a mesa”, disse ele, em entrevista, um pouco antes da apresentação.

Noise table 4

Como um masterchef de sons inusitados, Bucher serviu um pequeno banquete de ruídos e texturas ao longo de pouco mais de 30 minutos de performance. Apesar de ser um baterista, ele não traz ritmos para a noise table, que funcionada acoplada a um laptop. Em vez disso, vai criando, aleatoriamente, séries de sons e efeitos abstratos – ora dispersivos, ora evocativos – ao colocar e arrastar os objetos na superfície da mesa. Ciente da curiosidade que sua criação desperta, ele fez questão de conversar com o público sobre a noise table após o show, explicando, em detalhes, como o instrumento funciona. Alguns nunca mais vão olhar para um saleiro da mesma maneira.

Raimo

A noite foi aberta com boas conversas também, com Raimo Benedetti contando a fascinante história de Eadweard James Muybridge, fotógrafo norte-americano, e Éttiene-Jules Marey, cientista francês. Os dois, que, coincidentemente viveram entre 1830 e 1904, são os protagonistas de “Entre pássaros e cavalos”, que tem o subtítulo “Muybridge, Marey e o Pré-Cinema”. Em sua apresentação, Benedetti mostrou, com projeções em um  telão, como o trabalho dos dois foi importante para o desenvolvimento da linguagem cinematográfica, antes mesmo da invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, em 1895.