Onze Perguntas para Miguel Ortiz

1_ Nos conte um pouco da sua formação até chegar ao desenvolvimento desses projetos?

Antes de me mudar para Belfast (Irlanda do Norte), estudei composição no Conservatório de las Rosas, no México (Ortiz é Mexicano). Quando cheguei ao SARC comecei a trabalhar com diversas formas de tecnologia e, com o tempo, fui ficando mais interessado em trabalhar com sensores fisiológicos.

2_ Você pode falar um pouco sobre a importância do SARC no seu trabalho?

O SARC é um lugar muito especial para trabalhar e estudar. Existe uma grande troca de conhecimento entre estudantes e pessoas do próprio centro, assim como pesquisas impressionantes. Tive a sorte de estudar com o Dr. Benjamin Knapp, que é agora Diretor do Instituto de Criatividade, Artes e Tecnologia no Virginia Tech. Foi ele quem desenvolveu os sensores que uso nessa performance e também me ajudou muito a entender o que os biosinais são e como podem ser controlados. Eu não estaria envolvido nesse tipo de trabalho se não tivesse passado pelo SARC.

3_ Qual a importância do SARC MEDIA LAB, como instituição, se compararmos a outros laboratórios pelo mundo?

Mais que um Media Lab, o SARC é um dos maiores centros de pesquisa dessa área no mundo e com uma reputação que continua em crescimento. Um ponto que o faz importante e com diferencial é não impor que sua equipe e os estudantes explorem ideias pré-concebidas. Há uma completa liberdade no que pesquisar e como explorar as próprias ideias.

4_ Você pode explicar um pouco das tecnologias usadas na performance e quem as criou?

Estamos usando uma série de tecnologias para esse espetáculo. Marco e Anna utilizarão o Xth Sense – um sensor, desenvolvido pelo próprio Marco, que se baseia nas contrações musculares para gerar som. Eu vou usar o BioMuse, criado pelo Ben Knapp. Ele é conectado a uma placa Arduino, que, em seguida, envia os dados para um computador. Também vamos testar um novo sensor desenvolvido por Joel Murphy e Yuri Gitman. E cada um de nós desenvolve o próprio software para transformar esses impulsos em sons e imagens.

5_ Existe algum estudo científico entre esses que pode ser utilizado em outras áreas além da performance em si?

Certamente. Um ótimo exemplo é o compositor brasileiro Eduardo Reck Miranda, cujo trabalho vem causando grande impacto no campo da medicina, particularmente em projetos musicais que envolvem pessoas inabilitadas para tal função.

6_ Qual é o futuro das artes nesse diálogo entre ciência e tecnologia?

Penso que qualquer previsão sobre o futuro da arte em geral é perigoso. Eu acho que nós temos a sorte de estarmos vivos em uma época em que a tecnologia é confiável, barata e de fácil acesso. Nos primeiros passos desse tipo de trabalho, os sons eram uma grande conquista que demandava um time enorme de especialistas trabalhando juntos. Hoje, encontramos muita informação online e basta para podermos começar a experimentar com essas coisas na hora.

7_ Esses acessórios usados por você no coração e no cérebro são utilizados também em hospitais?

Não exatamente. Os princípios são os mesmos, mas os instrumentos usados em hospitais demandam um controle rigoroso através de testes e são desenvolvidos para gerarem resultados com a menor margem de erro possível. Por outro lado, não é fácil conectar equipamentos médicos em um computador para gerar música em tempo real. O BioMuse e o Xth Sense foram desenvolvidos justamente para serem usados no palco, durante uma performance. Isso faz com que eles sejam mais acessíveis, ou seja, menos custosos que um equipamento tradicional de hospital, além de serem mais fáceis para interagir.

8_ O quão longe nós estamos, como seres humanos, de usarmos nosso corpo, especialmente cérebro e coração, para explorarmos experiências como as suas? Ainda há muito a ser explorado cientificamente e tecnicamente?

Vai depender diretamente do que artistas dessa área estão imaginando. Existe um trabalho em agrupar toda a informação resultante desses sinais sendo feito, mas, no meu próprio trabalho, os resultados sonoros são mais importantes. Mesmo absorvendo resultados mais básicos dos sinais, é possível criar boas experiências sonoras.

9_ Como você vê os MediaLabs brasileiros? Há algum avanço no campo da ciência e tecnologia?

Há um saudável movimento no Brasil, sim. Eu estive com a minha performance na USP, UFRJ e Ibrasotope, em São Paulo, e fiquei muito impressionado com a qualidade de muitos projetos que vi nessas instituições.

10_ Você pode falar um pouco sobre Alvin Lucier e a importância dele no seu trabalho de pesquisa?

Lucier é um pioneiro em diferentes áreas de som e música eletrônica. O trabalho de Lucier permitiu que todas as tecnologias sejam usadas em projetos criativos. A minha área de pesquisa foca em expandir as possibilidades para essas interfaces.

11_ Como você vê os seus próximos projetos? Há um ponto final nessa pesquisa?

São muitas possibilidades. Nós estamos justamente começando essa colaboração com Marco e sua equipe no Goldsmiths para compartilhar conhecimentos e permitir que essa tecnologia se torne mais expressiva e sob controle.

Anna Weisling e a parte visual do espetáculo

Fechando a tríade de performers do S.A.R.C., temos a americana Anna Weisling como a responsável pela parte visual da apresentação do dia 15/11 do Happenings.

Artista visual recém-formada pela Universidade Queen de Belfast com um Mestrado em Artes Sonicas, antes que eu participei da Universidade de Wisconsin-Whitewater, onde fiz o meu Bacharel em mídia eletrônica.

Entre shows, pesquisas e atividades educacionais, a artista colaborou com dançarinos, músicos e compositores, resultarando no desenvolvimento de um sistema de notação para marcar imagens ao vivo, que você pode ler mais sobre o através deste link.

Marco Donnarumma e sua performance Hypo Chrysos

Performers ligado ao S.A.R.C. (Sonic Arts Research Center) e atração do Happenings@Panorama@Multiplicidade 2012Marco Donnarumma é um artista sonoro e de novos meios de comunicação, performer e professor academico nascido na Itália e baseado em Londres cujo trabalho envolve uma discussão em torno da pesquisa sobre biomedia, performance musical e teatral, práticas participativas e codificação de subversivo.

Seu sistema biofísico Xth Sense ganhou o primeiro prêmio no Concurso de Instrumento Musical Margaret Guthman e foi nomeado o 2012 o “instrumento musical mais inovador do mundo” pelo Georgia Tech Musical Center, nos EUA. Recentemente, ele foi o curador da publicação Práticas de Desempenho de Biotecnologia (eContact!, 14,2).

Seus projetos foram documentandos pela Reuters, Wired, Create Digital Music, We Make Money Not Art, Rizoma, Weave, DigiCULT, e apareceu no livro “Nova Arte / Ciência Afinidades” (CMU e Studio para Creative Inquérito, EUA). Artista residente no Inspace (Reino Unido) e da Escola Nacional de Teatro e Dança Contemporânea (DK).

Hypo Chrysos (HC) é uma obra de arte de ação para o corpo atormentado e mídia biofísicos. Durante esta ação 20 minutos, Marco puxa dois blocos de concreto em um círculo com movimento é opressivamente constante, obrigando-se a aceitar a dor até que a ação termine.

A pressão crescente em seus tecidos corporais produz sinais contínuos bioacústica, onde o som do fluxo de sangue, explosões de contração muscular, óssea e crepitação são amplificados, distorcida, e jogado para trás com oito alto-falantes usando o instrumento biofísico Xth Sense, criado pelo autor. O mesmo fluxo de dados bioacústico excita um enxame OpenGL gerado de entidades virtuais, luzes e formas orgânicas difundidas por um projetor de vídeo. Essa obra reúne diferentes mídias para um como para criativamente explorar os processos em que a auto-percepção e esforço físico  colidem.

HC é livremente inspirado no sexto círuclo do Inferno de Dante, onde o poeta encontra os hipócritas andando vestindo mantos dourados cheios de chumbo. Foi castigo de Dante para a falsidade escondida atrás de seu comportamento, um uso malicioso da razão, que ele considerava única para os seres humanos.

Usando o braço para puxar duas cordas amarradas para blocos de concreto, Marco se esforça para caminhar ao longo do palco. As cordas são de curto alcance, e obrigando-o sedobrar levemente o tronco para a frente, enquanto seus quadris se movem para trás para manter o equilíbrio de dois blocos de 15 kg.

O escopo do trabalho é transmissão dessa alteração sensorial para os corpos dos membros da audiência. Quando a vibração do músculo do artista passa a enviar sons para o mundo exterior, este invade os corpos dos membros da audiência através de seus ouvidos, pele, músculo e receptores sensoriais.

Happenings dia #1 – 15/11 – Marco Donnarumma + Miguel Ortiz + Ana Weisling

O Festival Multiplicidade – em parceria com o Festival Panorama – apresenta, no próximo dia 15, dentro do Projeto HAPPENINGS, um espetáculo de biomúsica com a performance de Marco Donnarumma, Miguel Ortiz, Anna Weisling no Centro de Artes Hélio Oiticica. Os três apresentarão uma pesquisa científica de vanguarda onde utilizam o corpo humano para gerar música, sons e interferências visuais junto a softwares de ponta. Essa pesquisa única e inovadora tem como berço o SARC (Sonic Arts Research Center), um laboratório multimídia criado com a supervisão do compositor Karlheinz Stockhausen, na Irlanda do Norte, e que a curadoria do Festival Multiplicidade traz com exclusividade ao Brasil.

Marco Donnarumma traz o espetáculo “Hypo Chrysos”, no qual interage com pedras presas aos próprios braços e que, através de seu esforço para arrastá-las, geram sons totalmente novos e imagens, que serão reproduzidas em uma tela no fundo do palco. Em seguida, Marco se juntará a Miguel Ortiz e Anna Weisling para uma performance exclusiva unindo música, alta tecnologia visual e pesquisas científicas inovadoras, três elementos que resultam na vanguarda que o SARC representa hoje.

HAPPENINGS@PANORAMA@MULTIPLICIDADE 2012  – Dia #1
Marco Donnarumma + Miguel Ortiz + Anna Weisling (Sonic Arts Research Center/ Irlanda do Norte)

Dia 15 de novembro (quinta-feira)
Local: CENTRO DE ARTES HELIO OITICICA – Rua Luiz de Camões, 68 (Rio de Janeiro)
Horário: às 19h no teatro: Marco Donnarumma + Miguel Ortiz + Anna Weisling
Entrada: grátis
Capacidade do teatro: 100 lugares
Censura: Livre

info@multiplicidade.com
Curadoria: Batman Zavareze