No Multiplicidade 2022, tudo deu certo dentro do impossível

Na abertura do Festival Multiplicidade 2022, a previsão era de fortes chuvas. Mas não choveu. No encerramento do Festival Multiplicidade 2022, a previsão era de fortes chuvas. Mas não choveu. Seguimos com mais notícias sobre o tempo.

Em 2018, nosso tema foi RESISTIR, EXISTIR em busca de SAÍDAS. Em 2019, foi BRASIS e nos comunicamos sempre de cabeça para baixo. Estávamos enxergando o improvável chegando perto de nós. Em 2020/21, apostamos no O QUE EU QUERO AINDA NÃO TEM NOME. Percebemos que estávamos fechando uma trilogia sobre o Brasil, mas vivemos o impensável, o absurdo, a utopia e distopia juntas para neste ano de 2022 encarar TUDO DENTRO DO IMPOSSÍVEL.

Nesse momento de recomeço, quando a pandemia começa a arrefecer, num esforço colossal para reconectar a poesia em nossas vidas, apostamos numa abertura artisticamente espiritual no Dia de Iemanjá, em que saudamos também a memória de Roberto Guimarães, Gerente de Cultura do Oi Futuro, que nos deixou em 2021.

A celebração à Rainha das Águas foi seguida por uma exposição generativa, “Bloom”, na qual um jardim digital reagia ao toque das pessoas. Justamente aquilo que foi tão caro ao longo da pandemia que parou o planeta foi o que motivou as pessoas a interagirem com os sons e as imagens do artista francês Maotik, uma “parede mágica”, como disse uma das muitas crianças que também se divertiram com a obra.

Seguimos por dois meses e fechamos a temporada com atrações remotas e presenciais na casa onde nascemos, o Oi Futuro. Ao longo desse período, mais de 3000 pessoas contemplaram a arte nos mais diversos formatos: performances, exposição, debates, filmes, residências artísticas etc.

Tivemos a parceria com o Amplify D.A.I – uma iniciativa do British Council, que joga luz no trabalho de artistas mulheres, trans, não binárias – que rendeu dois brilhantes trabalhos audiovisuais. “War” e “Amorphous materials” , frutos das residências das duplas Heather Lander (UK) e Erica Alves (BR), e Robin Buckley (UK). e VJ Grazzi (BR), respectivamente, foram exibidos num telão no Oi Futuro Flamengo, junto com as obras resultantes das parcerias do Amplify com os festivais Novas Frequências e Amazonia Mapping, e também com uma apresentação da DJ e produtora Obuxum, do Canadá. O dia contou também com um instigante debate sobre o papel feminino (e trans, não binário etc) na reconstrução de um mundo pós-pandêmico, com mediação de Maria Fortuna e falas potentes de Nayse Lopez, Marcele Oliveira e Glau Tavares. DJ e produtora, Glau completou a programação com um impecável set de balanços urbanos.

Desaceleramos um pouco com a exibição da obra audiovisual “Unite”, do músico dinamarquês Rumpistol, acompanhado do seu quarteto e do artista visual Marius Nielsen. Com sua sonoridade pastoral e seus hipnóticos visuais, “Unite” é um trabalho que reflete sobre a condição humana e foi concebido após o artista ter sofrido um esgotamento físico e emocional em 2018.

Já o filme “Nine Earths”, do britânico Mike Faulkner, exibido no encerramento do festival, levantou cruciais questões de sustentabilidade, ampliados por importantes depoimentos do climatologista Carlos Nobre e do líder indígena e ambientalista Ailton Krenak, gravados especialmente para o Festival Multiplicidade 2022.

Como bem disse a artista Bianca Ramoneda em seu poema “(des)trava língua”, feito especialmente para o festival, um impossível entoado várias vezes em sequência se transforma em um possível. E é essa mensagem que reverbera, a partir de agora, dentro de nossa resistência poética: sim, é possível.

Voltando às notícias sobre o tempo, segundo uma acertada previsão do poeta Manoel de Barros, estampada em nossa parede, “ontem choveu no futuro”.

Texto: Batman Zavareze e Carlos Albuquerque

Fotos: Coletivo Clap

O toque mágico de ‘Bloom’

O que todos esperam para o dia depois de amanhã, quando finalmente sairmos do inverno da Covid? Várias coisas, entre elas, sem dúvida, a volta do toque, do contato, con-tato, representando o desabrochar coletivo após tanto tempo de recolhimento/encolhimento social. De forma poética e simbólica, foi isso o que aconteceu na estreia do Festival Multiplicidade 2022, com a abertura da instalação “Bloom”, do artista francês Maotik, no Oi Futuro Flamengo.

“Espero que as pessoas gostem. É sempre emocionante estrear ´Bloom´ em um novo lugar, em uma nova versão”, contava Maotik, um pouco antes da abertura do local ao público. A instalação, criada por ele e que já circulou pela França, Egito e Itália (no metrô de Roma), sempre atualizada a cada edição, funciona em um video wall que reage aos movimentos e gestos do público através de sensores de laser, gerando um contínuo e deslumbrante “florescer” digital. “Fico sempre curioso com a reação das pessoas”.

Como era de se esperar, a reação do público foi tão variada quanto às possibilidades abertas por “Bloom”. Teve gente que dançou, teve gente que girou os braços, teve gente que chutou, teve gente que ficou de cabeça para baixo, teve gente que desenhou retas e curvas, teve gente que abriu portais imaginários e teve gente que pareceu querer entrar dentro da parede e passar para uma outra dimensão. “Descansei do mundo sendo transportada para um outro universo, onde só a poesia dá conta”, resumiu Bianca Ramoneda, cujo poema “(des)trava-língua” dividia a parede da entrada com uma apropriada frase de Manoel de Barros: “Ontem choveu no futuro”

Esse projeto é patrocinado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e Oi, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Realizado pelo Oi Futuro em parceria com o Serviço de Cooperação e Ação Cultural do Consulado da França no Rio de Janeiro.

Fotos: Coletivo Clap e Batman Zavareze

Multiplicidade 2022 abre os caminhos em uma noite mágica

A previsão era de uma noite de chuva e de fortes emoções. Mas só o segundo prognóstico vingou completamente. A pré-estreia (ou estreia espiritual) do Festival Multiplicidade 2022 no Centro Cultural Oi Futuro Flamengo – no Dia de Iemanjá, 2-2-22 – foi uma torrente de sentimentos, que começou com a inauguração da obra “Vantu”, de Odan, seguiu com “Aruanda”, uma celebração da cultura afro-brasileira, conduzida pela Companhia de Aruanda, com uma lembrança especial ao saudoso Roberto Guimarães, ex-Gerente de Cultura do OF, e culminou com um cortejo até a Praia do Flamengo, em homenagem à Rainha das Águas, com flores jogadas ao mar, roda de ciranda, beijos, abraços e lágrimas. Dentro do impossível, lema do festival neste ano, foi tudo lindo demais.

Com o Oi Futuro Flamengo ainda vazio no meio da tarde, começaram a dizer presente os integrantes da Companhia de Aruanda e também da Casa de Candomblé Onixêgun.. Aqueles que optaram pelas escadas, em vez dos elevadores, para chegar aos camarins, no oitavo andar do prédio, passaram pelo quarto andar, onde estava “Vantu” e também local onde ocorreria “Aruanda”. A obra – um gigantesco vaso, com sonorização própria – é uma homenagem aos escravos que chegaram ao Cais do Valongo, na zona portuária do Rio de Janeiro, entre o final do século XVIII e o início do século XIX, após longa e sofrida travessia a partir do continente africano.

Aos poucos, começaram os preparativos para a cerimônia. Atabaques foram montados e flores e plantas foram jogados ao chão, delicadamente destacados pela iluminação do local. Às 18h em ponto, artistas e um grupo seleto de convidados – devido à pandemia – se juntaram para o começo de “Aruanda”. De branco, todos foram envolvidos pela beleza da cerimônia, que teve seu auge quando foi ouvida a voz e o batuque de Luiz Ângelo da Silva, o Ogan Bangbala, de 102 anos, o mais antigo Ogan do Brasil. No evento, foi lembrada também a memória do congolês Moïse Kabagambe, brutalmente assassinado alguns dias antes, na Barra da Tijuca. O sentimento geral, porém, foi de fé em dias melhores.

Após a cerimônia, o grupo desceu para o pátio do Oi Futuro, onde se juntou a um time maior de convidados, que já esperava para a saída rumo à praia. Com o céu carrancudo, o cortejo seguiu – poderia dizer, flutuou – pela Rua Dois de Dezembro, com seus cânticos e passos tratados com um bem vindo respeito pelos carros que passavam pela via. Prosseguimos no sinal verde. Na passagem pela passarela do Aterro, o cortejo já contava com cerca de 200 pessoas .

Na areia, a cerimônia teve inicialmente um momento dedicado ao sagrado, com os tradicionais cantos em saudação à Iemanjá. Depois, foi anunciado o momento “profano”, de festa, de celebração. A roda foi aberta e quem estava presente entrou e dançou- incluindo também ambulantes, jogadoras de futevôlei, gente que estava correndo etc. Mãos foram dadas – há quanto tempo! – e a ciranda girou, para cima e para baixo, para um lado e para o outro. Foi bonito, foi amoroso, foi caloroso, foi especial. Após algum tempo – como se mede o tempo durante um sonho? -, “Aruanda” foi encerrada e o grupo começou a se dispersar, aos gritos de Odoyá. Nos rostos, a expressão parecia ser de graça, de alívio e de (um pouco de) paz. No céu, um ronco indicava que um avião estava atravessando as nuvens rumo ao futuro.

Mais tarde, só bem mais tarde choveu.

Texto: Carlos Albuquerque

Fotos: Coletivo Clap

A arte em câmera lenta de Alfredo Alves e João Oliveira

Fred

A instalação “Fala que eu te escuto” tem causado um efeito especial em quem passa pelo Oi Futuro Flamengo durante a ocupação do Festival Multiplicidade 2019. Localizada no térreo, em sintonia com a performance “Pegue – Leia – Doe”, ela traz uma série de imagens ampliadas que, num primeiro olhar, parecem perfis fotográficos até que uma leve piscadela ou qualquer outro movimento dos seus 150 personagens revela que são, na verdade, pequenos filmes em velocidade superlenta. Autores da obra – nascida a partir de registros do público feitos durante a participação do Multiplicidade no ColaboraAmérica, na Fundição Progresso, em 2018 – o fotógrafo (e percussionista) Alfredo Alves (acima) e o editor João Oliveira (abaixo) explicam que onda é essa.

Como é que surgiu esse trabalho? Quando vocês fizeram os registros no ColaboraAmérica, na Fundição Progresso, há dois anos, existia a intenção de fazer uma instalação?

Alfredo Alves – Naquela edição do Multiplicidade, a gente trabalhou muito com time lapse, transformando dias em segundos, superacelerado. E ai teve um momento em que a gente entrou numa de fazer o oposto, de desacelerar. Veio então essa ideia do Batman de capturar, durante o ColaboraAmérica, olhares, com duração entre dois e quatro segundos, e transformar num vídeo mais longo.
João Oliveira – Inicialmente, era para ser algo interno, institucional. Não havia intenção de criar algo a partir daquilo. Mas quando a gente viu a riqueza do material, pensamos em fazer algo além. A ideia inicial do Fred, inclusive, era de usar duas telas, como se as pessoas estivessem se observando, mas acabamos com uma só.
Joao

Que técnica é aquela, que parece foto mas é filme? Algum tipo de “slow motion”?

JO – Foi um processo aparentemente simples. O Fred filmou tudo em alta resolução, em 4K. Depois, eu participei da edição, usando um slow-motion de 30% em relação ao material original. Foi uma medida que permitiu criar o efeito visto na hora, que não é o slow tradicional e fica mais parecendo uma foto. Até que a imagem se move.

AA – Foi o conceito do parado sem ser parado.
Fotos: Aicha Barat

Multiplicidade 2019 dá sinais de ocupado no Oi Futuro Flamengo

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Na noite desta segunda feira, o Oi Futuro Flamengo deu sinal de ocupado pela 15ª edição do Festival Multiplicidade. Na linha, um diálogo com os Brasis de um país que parece de cabeça para baixo. A conversa, dividida em atos, vai até o próximo domingo.

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O térreo ficou uma pilha de livros, com a performance “Leia pegue doe”, do ator Gabriel Silveira, acompanhada pela instalação “Fala que eu te escuto”, de Alfredo Alves e João Oliveira, com 150 hipnotizantes retratos feitos durante o Colaboramérica de 2018, na Fundição Progresso.

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A obra “Concavo e convexo”, da premiada carnavalesca Rosa Magalhães, em parceria com Marlus Araújo, desafiava os sentidos, com imagens inusitadas da folia, em 360º, projetadas na superfície de guarda-chuvas. A impressão era de células se movimentando sob o olhar de um microscópio.

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Mais acima, foi a manifestação das entidades da arte que atraiu as pessoas. De um lado, na imersiva instalação “PIB – Produto Interno Bruto”, de Filipe Cartaxo, as características máscaras do BaianaSystem abriam-se para revelar um pouco do processo criativo da banda –suas conversas, suas trocas, seus sons.

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Do outro lado, Cabelo e suas mercadorias – os ovos-bombas, os tapetes, o manequim com a blusa camuflada (e os dizeres Rambo x Rimbaud) – dentro da anti-exposição “Luz com trevas”, ativada por uma intervenção do artista, meio Exu, meio MC, acompanhado pelo DJ Nado Leal, pelo percussionista Leo Leobons  e dançarinos do Passinho mascarados.

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Entre um e outro, a elegância da “The new brazilian flag”, de Raul Mourão, retratando um país com um buraco no meio.

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O magnetismo foi mantido com “Ambiente”, uma sinfonia de vozes e ruídos  criada por Rodrigo Penna e Felipe Storino. O trabalho fala através de uma série de caixas espalhadas numa sala de luz (vermelha) baixa e nenhum estímulo visual, gerando um transe de informações cruzadas roçando os ouvidos.

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Seguindo para o alto, no teatro, o sonho não acabava. Ele ganhava poesia com a obra “Incorporais”, de Dani Dacorso. Ao som de Leobons, novamente ele, as impressionantes imagens da fotógrafa ganhavam vida e ritmo, dançando conforme a música.

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E no café, no último andar, a ligação dos Brasis vinha através das projeções do trabalho “Donos do Brasil”, de Thiago Tegui, subvertendo e aguçando os olhares sobre os povos indígenas.

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No final, de volta ao térreo, sobraram os livros para contar histórias. De existências e resistências, por exemplo.

Fotos: Coletivo Clap

 

 

Instalação de Filipe Cartaxo abre nova dimensão para o BaianaSystem

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Filipe Cartaxo faz música com imagens.  Ele é o responsável pela marcante identidade visual do BaianaSystem  – dos inúmeros grafismos às cultuadas máscaras, tudo o que se vê e o que se toca do grupo tem sua assinatura. Sempre trafegando de forma equilibrada entre o digital e o analógico, Cartaxo abre uma nova dimensão para o BaianaSystem com a instalação “PIB – Produto Interno Bruto”, feita especialmente para o Festival Multiplicidade 2019, que estreia hoje, às 19h, no Oi Futuro Flamengo, onde segue até o dia 6/10. Num papo com o idealizador e curador do festival, Batman Zavareze, Cartaxo  fala sobre  esse inédito mergulho sensorial no processo criativo do grupo, e também sobre sua formação multidisciplinar e seu olhar para a arte..

– Sempre pensei no palco como uma exposição – revela.

Como você descreve a instalação “PIB – Produto Interno Bruto”? 

Filipe Cartaxo – Sendo BRASIS o tema do Multiplicidade desse ano, o PIB, de antemão, desloca o olhar para produção interna do BaianaSystem. Compartilhar um pouco do processo do grupo, trazendo a ambiência, a forma bruta de se produzir, a idéia solta, a imagem incompleta, a respiração, a voz da guitarra, os ruídos. São elementos soltos que, ao se combinarem, criam um local particular.

A instalação é uma metáfora do que se passa na cabeça de vocês, do BaianaSystem?

FC – Ela vai mostrar processos e produtos na sua forma bruta. Vai ajudar a identificar elementos que mudam através da própria forma, despertar sensações visuais, sonoras e reflexivas acerca do universo criado dentro de cada cabeça do grupo. E isso, de certa forma, acontece na cabeça de todos, somos estimulados o tempo inteiro e nem sempre sabemos organizar em qual caixa guardamos o que absorvemos.

Por que dividir a instalação em três partes: sonora, visual e reflexiva? Como vocês chegaram nesta síntese que muito representa o BaianaSystem?

FC – Isso foi o mestre B Negão quem falou. Ele sempre está por perto, na verdade ele faz parte do sistema, é uma peça fundamental. Na época que lançamos o álbum “Duas cidades”, ele falava das diversas artes inclusas no BS e essas três me chamaram muito atenção como fundamento. Ficou mais simples enxergamos dessa forma, como uma maneira de organizar ideias, ver princípios.

Você já tinha pensado no BaianaSystem além do palco, numa exposição? Curte a ideia de ver as ideias que vocês promovem dentro de outra contemplação, numa galeria? 

FC – Na verdade, eu sempre pensei no palco como uma exposição.  Mas de fato, o ambiente do show traz comportamentos  distintos de uma galeria, o que é curioso.

Através do seu currículo é possível entender sua formação artística antes do BaianaSystem e seu interesse em tantas linguagens multidisciplinares?

FC – Achava que (a minha) era Arquitetura. Fiz Urbanismo. Larguei. Passei na Escola de Belas Artes da UFBA no curso de desenho industrial (design). Me formei em 2009, já com a identidade do BaianaSystem. A fotografia foi a primeira linguagem que me fez entrar numa galeria, em 2004.

HOL e sua Synap.sys

Nem o dia chuvoso desanimou os cariocas que lotaram o Teatro do Oi Futuro Flamengo ontem. Mas antes da performance oficial, como contamos por aqui, o artista multimídia Henrique Roscoe fez um ensaio aberto e dividiu com o público suas experiências e peculiaridades do processo criativo.

Eduardo Magalhães - I Hate Flash-16

Eduardo Magalhães - I Hate Flash-21

“O aleatório é uma parte importante para o meu trabalho. Eu não quero tocar a mesma coisa sempre, esse é o modo que acredito e que gosto de fazer. Cada vez que eu ligo, será diferente. É o que chamo de arte generativa, programação generativa. Você pode modificar a cena em tempo real”, comentou ele enquanto mandava um preview e aquecia o instrumento feito especialmente para a apresentação no nosso Festival.

Eduardo Magalhães - I Hate Flash-43

O ensaio empolgou e fez com que a ansiedade pela performance aumentasse. Como foi o caso do estudante Marc Paul que faz fotografia na Oi Kabum “Achei incrível essa questão das sinapses e do cérebro. Me senti inspirado”. O Daniel Santos que é um profissional multimídia participou de uma oficina no nosso Festival no ano passado e saiu com uma ótima impressão do ensaio: “Achei interessante ele expor toda a receita de bolo que ele faz por trás da performance, de uma certa, já vou sair com algo a mais daqui”, comentou.

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Pontualmente às 20h, a cortinas do Teatro do Oi Futuro foram abertas e aos poucos, a plateia foi se aconchegando nas tradicionais almofadas vermelhas espalhadas por toda a escadaria. Quando os lasers cruzaram a fumaça, o público teve uma certeza: uma performance inesquecível estava por vir. Foram quase 50 minutos de projeções, sons, experimentações e diversas sensações (coletivas e individuais). Uma verdadeira sinfonia audiovisual!

Eduardo Magalhães - I Hate Flash-52

Fechando o ano: Novi_sad – ‘Sirens’

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Depois da ocupação da Escola de Artes Visuais do Parque Lage nos dias 06/ 07/ 08 de dezembro, o Festival Multiplicidade encerra sua nona temporada de volta ao teatro do Oi Futuro Flamengo, com a apresentação do artista Novi_sad, alter-ego de Thanasis Kaproulias.

Influenciado pelos pioneiros da produção sonora, Novi_sad começou a trabalhar com som no ano de 2005, sem qualquer tipo de estudo ou formação acadêmica específicos na área. Sua pesquisa musical está principalmente ligada aos gêneros noise e drone.

Através da amplificação de gravações ambientais e suas manipulações através de texturas, Novi_sad começou a explorar a música ambiente de forma não-estruturada, com alteração de microtons e subversão de melodias.

‘Sirens’ é uma performance audiovisual complexa, baseada nos seres mitológicos gregos chamados de Sirenas. Conta-se que, através de seus cantos, essas figuras seduziam marinheiros que guiavam seus barcos em sua direção e se chocavam contra as rochas, onde morriam ou acabavam se tornando escravos.

A partir dessa lenda, Novi_sad traçou um paralelo entre essa sedução com o dinheiro e a humanidade.

Através de estudo de números vindos de macro-cenários, o artista transformou em fórmulas matemáticas o resultado de diversos eventos sismícos que ocorreram simultaneamente as quebras das  de Valores no mundo (como um tremor catastrófico na Índia ao mesmo tempo da quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929).

Esse material foi cedido por diversas instituições de registro e observação de fenômenos naturais, como a NASA. A seguir, ele os aplicou como modificadores sonoros por cima de um material pré-gravado por cinco músicos e seus instrumentos:

» Richard Chartier | EUA [www.3particles.com]
» CM von Hausswolff | Suécia [www.cmvonhausswolff.net]
» Jacob Kirkegaard | Dinamarca [www.fonik.dk]
» Helge Sten | Noruega [Deathprod, Supersilent]
» Rebecca Foon | Canadá [Rebecca Foon, A silver mt Zion, Set fire to flames]

O resultado é uma peça audiovisual de 40 minutos, cuja parte visual é criação do video-artista japonês Ryochi Kurokawa, atração do Festival Multiplicidade em 2012 com a peça ‘Rheo’.

‘Sirens’ dialoga com a subversão humana através do dinheiro e seu futuro de colisão em cenários catastróficos, principalmente por conta do apetite voraz e da ganância de Wall Street.

Novi_sad toma para si a frase do economista americano John Kenneth Galbraith (1908-2006) para ilustrar seu pensamento a respeito do tema:

“Wall Street, in these matters, is like a lovely and accomplished woman who must wear black cotton stockings, heavy woollen underwear, and parade her knowledge as a cook because, unhappily, her supreme accomplishment is as a harlot.”

No dia 17 de Dezembro, Novi_sad realiza uma palestra no Oi Futuro Flamengo a respeito de seu trabalho, metodologia e processo criativo, com entrada totalmente gratuita. Dia 19 ele apresenta a peça no mesmo local, com ingressos no valor de R$ 20 (R$ 10 – estudante).

E, encerrando o ano do Festival Multiplicidade, o DJ Guerrinha (40% Foda/Maneiríssimo) toca na festa de encerramento no térreo do centro cultural, totalmente gratuito.

>>>>>> Serviço

Multi_05_2013 – Novi_sad – Sirens

17 de dezembro 2013 – NOVI_SAD [GRE] – Palestra/ workshop
19H – 20H30 / Teatro 7º Piso
Gratuito – 80 vagas (inscrição em info@multiplicidade.com)
 
18 de dezembro 2013 – Discussão: Diálogos Urgentes – Realizadores culturais convidados
18H – 20H / Bistrô 8º Piso
Gratuito – Aberto ao público, sujeito à lotação da casa.
 

19 de dezembro 2013 – NOVI_SAD [GRE] – Performance: SIRENS

20H – 21H / Teatro 7º Piso
72 lugares – R$20/ R$10  (estudante)
vendas a partir de terça-feira (dia 17 de Dezembro) no Oi Futuro Flamengo ou no site Ingresso Rápido.
Festa de encerramento com DJ Guerrinha (40% Foda/Maneiríssimo)
21H-23H / Térreo
Gratuito
>>> Oi Futuro Flamengo
Rua Dois de Dezembro, 63 – RJ
 +55 (21) 3131-3060

Encerramento com Dudu Dub

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DJ, produtor, colecionador e pesquisador de disco de vinil, além de criador de identidade musical e trilhas sonoras diversas marcas de moda, Dudu Dub trabalha em clubs e festas desde final dos anos 80.

Tocou em diversos locais do Rio de Janeiro como o Kitshnete (pós-Crepusculo de Cubatão), 00, Rock In Rio 2001, Fundição  Progresso,THC, Minimal Sessions/Les Artistes, Melt, Dama de Ferro, entre diversos outros locais do Rio de Janeiro que ditavam tendência musicais.

Dudu possui uma carreia que se entrelaça com a indústria da moda, grande parte dela dedicada aos grandes desfiles.

Desde 98, começando na Semana Leslie de Moda, faz trilhas para desfiles de marcas como Mara Mac (2005, 2008, 2009, 2010) e Maria Bonita Extra (2012) no Fashion Rio e Maria Bonita no SPFW (de 2006 até 2012).

Em 2008 foi convidado pelo diretor criativo da marca francesa Paule Ka para selecionar a nova música brasileira através de artistas como Cibele, Bebel Gilberto, Bossacucanova, Bid, Funk Come Le Gusta, dentre outros.

Atualmente vem pesquisando novas sonoridades para seus sets de House e Deep Techno.

Segundo Dudu, “o que me move depois de todo esse anos tocando e buscando novos artistas e sonoridades, com essa ferramenta (Soundcloud) posso escutar desde demos obscuras da Finlândia até  o ultimo lançamento de um selo inglês – meu sets nunca mais serão os mesmos!

Explorando novos caminhos para a noite carioca, fez festas com o coletivo LINK que mistura video projeção, arte e música, e discotecagem no lugar do momento no Rio, a Comuna, misto de lounge e galeria de arte.