Impressões de Ryoichi Kurokawa e DJ Filipe Mustache

Ryoichi Kurokawa – Imagens, Música e edição ao vivo

DJ Filipe Mustache (FORNO) – DJ Set de encerramento

Dia 27 de setembro foi dia da segunda edição do Multiplicidade de 2012, apresentando pela primeira vez o japonês Ryoichi Kurokawa no Rio de Janeiro com a sua performance Rheo, uma espécie de performance-cinematográfica tendo como tema a passagem do tempo e sua ação sobre paisagens e a vida em geral.

Vencedora de diversos prêmios internacionais, essa performance de Kurokawa utiliza uma estrutura de três telas com proporções de 9:16 (formato widescreen  só que em pé) para criar essa narrativa acompanhada de uma trilha sonora abstrata e minimalista sem nenhuma batida pré-concebida e totalmente manipulada pelo artista ao vivo, como uma espécie de Phillip Glass menos etéreo, utilizando glitches sonoros eletrônicos em diversas camadas.

Rheo iniciou com silêncio absoluto e com suas três telas sem projeção, dando sequência sons de queda d’água, pássaros e de um rio capturados in loco pelo próprio artista, formando uma verdadeira paisagem audiovisual. Cada tela apresentava um elemento distinto, com suas camadas de áudio isoladas e sobrepostas.

De modo quase abrupto, essas paisagens se transformavam em outros elementos visuais gráficos manipulados digitalmente pelo artista. Imagens de montanhas, vulcões e diversas paisagens abertas sofriam essa interferência pré-programada executada ao vivo, e reagiam de forma completamente orgânica com a música regida por Kurokawa, ora de forma lenta e ora com um time-lapse de horas de captura reduzidos a poucos segundos de exibição.

A justaposição de imagem e som criava a narrativa da peça, onde estes elementos referenciavam espaço e tempo para gerar propositalmente um emaranhado de informações simultâneas e sobrepostas. As próprias amplitudes das ondas sonoras aplicavam movimentos às imagens e, consequentemente, geravam novos elementos visuais.

Ryoichi visitou ao longo de 45 minutos locais naturalmente bucólicos e interessantes. O próprio artista dotado de uma câmera full hd em mãos foi responsável por capturar essas imagens, como cachoeiras e rios do interior do Japão e as montanhas de formação vulcânicas do norte da Islândia, terminando com uma imagem estática nas três telas do horizonte da cidade de São Paulo.

Rheo pode ser observada como uma narrativa que remete ao clássico do cinema experimental Koyaanisqatsi* (dirigido por Godfrey Reggio e com trilha sonora do prórpio Phillip Glass), em uma espécie de atualização em formato de performance para novos tempos. A idéia central é de que estamos em constante mudança em uma avalanche de informação, sons, texturas orquestradas pelas mãos do tempo.

Após duas apresentações de Rheo, o DJ Filipe Mustache (FORNO) comandou sua festinha no primeiro nível do Centro Cultural Oi Futuro, comemorando também seu aniversário. De modo super confortável e harmônico, as mais de 200 pessoas presentes acompanharam um set que ia do disco funk ao house, mixados especialmente para a ocasião.

* Agradecimentos especiais ao Chico Dub pela referência.

O “Rheo” de Ryoichi Kurokawa

Criado em 2009 pelo artista, a performance Rheo (ou fluxo em grego) já foi apresentada em festivais internacionais e que lhe rendeu diversos prêmios, como o Golden Nica no Ars Electronica na categoria Digital Musics & Sound Art em 2010 e será a primeira vez no Rio de Janeiro.

Rheo é tanto uma instalação audiovisual como uma performance que inspira uma nova experiência sensorial de “som assistido” e “imagens auditivas”. Ela é composta por três telas plana e cinco alto-falantes multicanal, enquanto que cada elemento vertical visual é ligado e sincronizado com uma fonte do canal de áudio mono.

Estas telas são justapostas em linha e se comportam como três elementos audiovisuais totalmente independentes entre si. O cenário reproduz digitalmente imagens de alta resolução perfeitamente sincronizadas com playbacks de gravações de campo, combinando minimalismo e complexidade em um espaço requintado para a construção de beleza arquitetônica.

A peça que em última análise constrói uma “escultura integrada de sons e visuais” e que pode ser considerada como uma tentativa para derreter e amalgamar os diferentes elementos de imagens e som, natureza e tecnologia com a ajuda de um computado

O título “Rheo” refere-se à expressão grega para “fluxo/corrente”, e foi inspirado pelo termo “Panta Rei”, cunhado pelo filósofo Heráclito.

Como na providência de vida e da natureza, as coisas essenciais estão constantemente fluindo e se movendo. Ao integrar elaboradamente imagens de alta qualidade e som construídas como uma corrente única no tempo e no espaço, a peça explora os limites da percepção humana.