Multiplicidade 2019 dá sinais de ocupado no Oi Futuro Flamengo

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Na noite desta segunda feira, o Oi Futuro Flamengo deu sinal de ocupado pela 15ª edição do Festival Multiplicidade. Na linha, um diálogo com os Brasis de um país que parece de cabeça para baixo. A conversa, dividida em atos, vai até o próximo domingo.

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O térreo ficou uma pilha de livros, com a performance “Leia pegue doe”, do ator Gabriel Silveira, acompanhada pela instalação “Fala que eu te escuto”, de Alfredo Alves e João Oliveira, com 150 hipnotizantes retratos feitos durante o Colaboramérica de 2018, na Fundição Progresso.

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A obra “Concavo e convexo”, da premiada carnavalesca Rosa Magalhães, em parceria com Marlus Araújo, desafiava os sentidos, com imagens inusitadas da folia, em 360º, projetadas na superfície de guarda-chuvas. A impressão era de células se movimentando sob o olhar de um microscópio.

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Mais acima, foi a manifestação das entidades da arte que atraiu as pessoas. De um lado, na imersiva instalação “PIB – Produto Interno Bruto”, de Filipe Cartaxo, as características máscaras do BaianaSystem abriam-se para revelar um pouco do processo criativo da banda –suas conversas, suas trocas, seus sons.

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Do outro lado, Cabelo e suas mercadorias – os ovos-bombas, os tapetes, o manequim com a blusa camuflada (e os dizeres Rambo x Rimbaud) – dentro da anti-exposição “Luz com trevas”, ativada por uma intervenção do artista, meio Exu, meio MC, acompanhado pelo DJ Nado Leal, pelo percussionista Leo Leobons  e dançarinos do Passinho mascarados.

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Entre um e outro, a elegância da “The new brazilian flag”, de Raul Mourão, retratando um país com um buraco no meio.

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O magnetismo foi mantido com “Ambiente”, uma sinfonia de vozes e ruídos  criada por Rodrigo Penna e Felipe Storino. O trabalho fala através de uma série de caixas espalhadas numa sala de luz (vermelha) baixa e nenhum estímulo visual, gerando um transe de informações cruzadas roçando os ouvidos.

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Seguindo para o alto, no teatro, o sonho não acabava. Ele ganhava poesia com a obra “Incorporais”, de Dani Dacorso. Ao som de Leobons, novamente ele, as impressionantes imagens da fotógrafa ganhavam vida e ritmo, dançando conforme a música.

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E no café, no último andar, a ligação dos Brasis vinha através das projeções do trabalho “Donos do Brasil”, de Thiago Tegui, subvertendo e aguçando os olhares sobre os povos indígenas.

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No final, de volta ao térreo, sobraram os livros para contar histórias. De existências e resistências, por exemplo.

Fotos: Coletivo Clap

 

 

Sobre Emílio Domingos

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A terceira apresentação do Festival Multiplicidade 2013 traz o diretor de cinema Emilio Domingos junto com o artista digital Alvaro Uña apresentando uma versão editada ao vivo do filme “A Batalha do Passinho“.

Utilizando softwares de recorte e colagem, os artistas irão recontar a história do filme de forma não-linear, transformando a narrativa cinematográfica em um episódio completamente, amparado por dançarinos do passinho e um DJ.

O som do funk, que por si só é um recorte-e-colagem de diversos outros estilos e caracterizado hoje pela batida do tamborzão, retroalimenta o filme, funcionando como marcação de tempo.

Emílio Domingos é um dos produtores e cineastas mais ativos do Rio de Janeiro hoje. Sem nenhum patrocínio conseguiu realizar A Batalha do Passinho de forma totalmente independente.

Além do filme apresentado, Emílio é diretor do filme L.A.P.A. (junto com o empresário e cineasta Cavi Borges). Atualmente, prepara um novo filme, chamado “Deixa na Régua!” sobre a cultura do corte de cabelo “estilizado” dos jovens de comunidades.

O Passinho por Carmattos

O grande Carlos Alberto de Mattos, crítico de cinema do Rio de Janeiro, gentilmente nos cedeu o direito de republicar esse lindo texto sobre o Passinho de sua autoria:

A dança é talvez a forma mais vital de expressão artística e sem dúvida uma das mais democráticas. É a voz do corpo gritando o que nem sempre a voz da garganta é capaz de exprimir. A dança conclama o corpo a uma forma clara de estar no mundo e a uma atitude muito eloquente perante a realidade. Dançar é uma forma suprema de dizer.

Tudo isso está patente em A Batalha do Passinho. Emilio Domingos não precisa lançar mão de nenhuma fórmula de sucesso ou truque de narrativa para mostrar como um documentário pode sondar o imaginário de uma comunidade enquanto parece apenas ouvir despreocupadamente os personagens. Ao redor da dança, é todo um estilo de vida que se desvela nas palavras desses moleques de mola: a vaidade um tanto inocente, a afetividade transbordante, a linguagem peculiar, as ambições de bons moços. Nessa etnografia casual, estamos muito distante das imagens fatalistas da favela e da periferia. O que vemos é uma juventude conectada fraternalmente e concentrada em suas aspirações. 

O funk dita o ritmo para a edição do filme, evidenciando o quanto de surpresa, teatro, pantomima e sátira de comportamento existe no passinho. Além disso, há ali um testemunho precioso sobre as formas de criação e circulação da arte popular na era da internet. São muitas, enfim, as razões por que A Batalha do Passinho é um filme não só contagiante e divertido, mas também fundamental para entendermos as dinâmicas da cidade contemporânea. 

Carlos Alberto Mattos

A Batalha do Passinho Remix

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No próximo dia 3 de outubro acontece no Oi Futuro Flamengo mais uma edição do Festival Multiplicidade denominada “A Batalha do Passinho Remix“.

Desta vez, o curador Batman Zavareze convidou Emílio Domingues – diretor do premiado documentário “A Batalha do Passinho”, que destaca o estilo e comportamento que está por tráz da dança e que teve como locação bailes funks do Rio,  e o artista catalão, Alvaro Uña que já passou por experiências como o Festival Sónar, para produzirem juntos um espetáculo inédito e imprevisível para os espectadores.

A ideia é juntar dois mundos complementares no mesmo palco, o cinema e a engenharia computacional, para trazer interatividade às narrativas de conteúdo de um filme pensado para a tela convencional.

O cineasta vai remixar seu filme com interações programadas em tempo real, com a batida do funk fazendo a marcação do tempo,e reconstruir a lógica linear do roteiro cinematográfico utilizando softwares de recorte e colagem com a presença física de dois dançarinos do Passinho.

Comandando a parte tecnológica está o espanhol Alvaro Uña. Licenciado em Bellas Artes pela Universidad de Valencia, apresentando como projeto de investigação “Cyborgs e sua representação na arte; as políticas tecnológicas do corpo”. Entre 1996 e 2000 desenvolveu diferentes projetos de design gráfico, design de interior, estilismo e outros.

Em 2000 iniciou seu trabalho com o artista multimídia Marcelí Antunez como web design, chefe de programação e produção técnica nos projetos Concentrica, Pol, Mondo Antunez, Transpermia. Em 2003, inicia a colaboração no L’Antic Teatre (Barcelona), onde conheceu Joan Coll, criando o Emotique, grupo multimídia.

Vamos estimular a reação do público com essa provocação artística rica em inventividade e  tecnologia”, resume Zavareze